60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica

AVALIÇÃO DO IMPACTO DOS MODELOS PARENTAIS SOBRE OS RELACIONAMENTOS CONJUGAIS NUM CONTEXTO CLÍNICO.

Gisela Renate Jost de Moraes1
Maria Clara Jost de Moraes Vilela1
Flavia Gotelip Corrêa Veloso1
Aline Elizabeth Marino de Oliveira1
Bartholomeu Tôrres Tróccoli2

1. Fundação de Saúde Integral Humanística
2. Universidade Federal de Brasília


INTRODUÇÃO:
O fenômeno do relacionamento humano é um assunto complexo que envolve muitas variáveis tornando-se foco da preocupação de setores diferenciados do conhecimento. Os processos de socialização primários ocorridos na infância são responsáveis pela formação básica do Eu e do mundo subjetivo, tendo como referência as figuras parentais. A literatura sinaliza que a introjeção, a identificação e a formação da identidade, se realizarão de forma satisfatória a partir da qualidade da interação estabelecida no triângulo pai-mãe-filho. No Brasil, são escassas as pesquisas em psicologia clínica que abordam o reconhecimento dos possíveis problemas projetados nas relações conjugais, oriundos da dificuldade e da percepção negativa da figura parental. Nesse sentido, o presente estudo avalia a associação existente entre a percepção subjetiva das figuras parentais e a dificuldade de relacionamento com os mesmos, seguido da verificação de como essas percepções estão associadas à dificuldade nas relações de conjugalidade heterossexuais, num contexto clínico. Além disso, avalia a possibilidade de mudanças nas interiorizações dos modelos negativos das figuras parentais, assim como os possíveis impactos que tal mudança ocasionaria sobre os relacionamentos afetivos num contexto clínico.

METODOLOGIA:
Este estudo é parte de uma pesquisa mais ampla que certifica a metodologia da Abordagem Direta do Inconsciente (ADI) enquanto técnica psicoterapêutica. Participaram 604 sujeitos, 406 mulheres e 198 homens, que livremente procuraram a Terapia de Integração Pessoal (TIP/ADI) em Belo Horizonte. Estabelecida à agenda de atendimento, os clientes eram indagados sobre a possibilidade de participar da pesquisa, recebendo todas as informações necessárias quanto ao procedimento, instrumentos e garantia do anonimato. Por se tratar de uma terapia breve, os participantes respondiam ao questionário no início, na fase intermediária e final do processo, ocorrendo, respectivamente, após o cadastro do cliente; antes da primeira sessão da terapia; e imediatamente após a última sessão da intervenção terapêutica. Os dados foram coletados por meio de questionários com perguntas referentes aos dados sócio-demográficos; às queixas dos participantes quanto ao relacionamento conjugal; presença de dificuldade no relacionamento com a figura parental e percepção subjetiva dos mesmos. Em cada questão há uma escala de intensidade onde 1= não se aplica; 2= pouco; 3= moderado; 4= intenso e 5= muito intenso. As análises quantitativas foram realizadas através do software SPSS.

RESULTADOS:
Os resultados revelaram que 62% das mulheres e 57% dos homens afirmam ter dificuldades em relacionar-se com a figura parental, sendo que, respectivamente, 85% e 81%, também apresentavam dificuldades em relacionar com o parceiro(a). Ao término da terapia, 33% das mulheres e 39% dos homens relatavam algum grau de dificuldade com as figuras parentais, havendo uma variação negativa de, aproximadamente, 50% na presença de dificuldades associadas entre a figura parental e o parceiro(a). A análise fatorial dos itens que compõem a percepção afetiva das figuras parentais indicou três fatores: Autoritário, Fraco e Amigo. Os fatores Autoritário(a) e Fraco(a), apresentaram correlações (p≤0,05) com a dificuldade em relacionar com a figura parental, não ocorrendo o mesmo para o fator Amigo(a). Somente os sujeitos femininos obtiveram correlação significativa entre a dificuldade em relacionar com o parceiro e a percepção negativa da figura paterna, evidenciado no fator Autoritário. Também foi encontrada correlação entre as dificuldades de relacionamentos entre as figuras parental/parceiro(a), diferenciando conforme o sexo. Os estudos das médias revelaram impactos positivos do processo terapêutico sobre tais fenômenos.

CONCLUSÕES:
Conclui-se que os modelos parentais estão intimamente associados à dificuldade em relacionar com essas figuras, sendo que a confluência entre esses dois fatores atua sobre os relacionamentos de conjugalidade futuros vivenciados pelos filhos. Podemos dizer que na medida em que as percepções de dificuldades com as figuras parentais diminuem, o que na prática clínica são percebidas como mudanças nas frases conclusivas sobre os pais, ocorre também um desvinculamento dessas imagens parentais do parceiro(a). Isso demonstra que esse processo terapêutico possibilita não só uma mudança na maneira de se perceber as imagens parentais, mas também um processo de distanciamento e descolamento dessas percepções subjetivas das figuras reais. Se as percepções e registros negativos não se dão em função do fato em si, mas pela maneira que esse fato foi significado por quem o viveu, ele é passível de ser compreendido e transformado. Possibilita-se com a ADI, a mobilização das potencialidades do sujeito, a transformação da percepção subjetiva negativa das figuras parentais com a conseqüente melhoria na qualidade dos relacionamentos estabelecidas com essas figuras. Esse fator reflete sobre os relacionamentos conjugais podendo proporcionar impactos positivos na saúde relacional das próximas gerações.



Palavras-chave:  Psicologia Clínica, Modelos Parentais, ADI/TIP

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