60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A surdez é um comprometimento sensorial não visível do qual decorre a dificuldade na detecção e percepção dos sons. Ao pensarmos na história de Educação de Surdos, observamos diferentes maneiras da sociedade perceber o sujeito surdo: de deficientes passaram a ser vistos como pessoas diferentes. Das mudanças decorrentes da sociedade como um todo, surgiu uma nova proposta de educação dos surdos: o Bilingüismo. Para esta concepção, a aceitação da Língua de Sinais como língua natural dos surdos implica também na aceitação de uma cultura. Neste novo contexto as questões das identidades surdas (re)aparecem, uma vez que na atualidade os surdos começam a ocupar mais espaços juntamente aos ouvintes e isso deve fazer diferença em relação à maneira como são percebidos ou representados dentro da sociedade. Se pensarmos que os surdos, em sua maioria, são provenientes de famílias ouvintes que utilizam, em geral, apenas a língua oral, como meio de interação familiar e estudam em escolas públicas regulares, onde professores e alunos também utilizam apenas a língua oral como forma de interação e como língua de instrução, temos que a situação do aluno surdo é bastante peculiar.

METODOLOGIA:

A pesquisa teve como finalidade observar dois alunos surdos dentro de um grupo de leitura/escrita da clínica fonoaudiológica do qual participavam alunos de escolas regulares, encaminhados pela escola ou pela família, com queixa de problemas de aprendizagem. E, a partir da observação, investigar como são construídas as identidades surdas nesse contexto tendo em vista as representações sobre surdez dos próprios alunos (surdos e ouvintes) envolvidos, das estagiárias que orientavam as atividades desse grupo e de seus familiares. Pretendeu-se, assim, fazer uma discussão sobre a importância da língua de sinais para o trabalho de leitura e escrita e à auto-representação do sujeito surdo, como diferente ou deficiente, conseqüência, dentre outros fatores, da maior ou menor aceitação da surdez. Foram realizadas filmagens, observações e notas de campo do grupo, sendo que as atividades observadas ocorriam duas vezes por semana. Além disso, foram realizadas entrevistas com as estagiárias do curso de Fonoaudiologia que participavam das atividades do grupo e atendiam os sujeitos da pesquisa, com os pais de um dos sujeitos desta pesquisa, bem como um dos sujeitos também foi entrevistado. Todos os dados coletados foram transcritos e analisados.

RESULTADOS:

Esta pesquisa pretendeu trazer à tona discussões pertencentes aos campos da surdez e das identidades culturais. Buscou-se entender os sujeitos sob uma perspectiva que considera a sua incompletude e suas múltiplas identidades que se constituem a partir das relações sociais. Além disso, a surdez não foi encarada como uma deficiência, mas como uma experiência visual, visão que integra o que alguns autores chamam de Estudos Surdos. Percebeu-se que existem vários fatores envolvidos na formação das identidades, sejam elas de ouvintes ou de surdos, entre eles os familiares, a sociedade, a escola, as relações sociais, as diferentes visões sobre a língua(gem), enfim, são muitos os aspectos que interferem na formação da identidade de uma pessoa. Além da importância para a comunicação, a linguagem também é um dos principais meios para interação social, possui papel fundamental como mediadora das interações e da significação do mundo sendo muito importante para a constituição dos sujeitos e assim, de suas identidades. A relação entre linguagem e identidade aparece em diferentes episódios ocorridos com os sujeitos da pesquisa.

CONCLUSÕES:

A partir dos dados analisados, se percebeu que a postura adquirida pelos Outros que circundam a vida do surdo (familiares, escola, terapeutas) é o que contribui para definir a postura adquirida também pelos sujeitos surdos. Os surdos, objetos da presente análise, assim como outros sujeitos, assumem diferentes identidades em diferentes momentos. Não é porque são surdos, que terão uma identidade surda, no sentido de uma identidade fixa, una, como se todos os surdos fossem os mesmos, como se todos os surdos tivessem uma mesma identidade. A Língua de Sinais mostrou ter algum destaque, no sentido de o sujeito surdo encarar de forma diferente a sua surdez, entretanto, não garantiu que houvesse a total aceitação da mesma. Entretanto, é imprescindível destacar o importantíssimo papel que a Língua de Sinais tem para um pleno funcionamento de interações dialógicas eficientes, visto que é conhecida a importância da interação, das trocas, para aquisição de conhecimentos, compartilhamento de experiências, afetos, etc. Na clínica fonoaudiológica, o papel da Língua de Sinais também é destacado, visto que pela falta de um meio comum de comunicação entre as estagiárias e os alunos surdos, o processo de compreensão e realização das atividades de leitura e escrita mostrou-se bastante dificultado.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq – PRP – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Surdez, Identidades Surdas, Clínica fonoaudiológica

E-mail para contato: aryane_fono@yahoo.com.br