60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Investigamos cinco obras cinematográficas baseadas em canções e/ou vidas de cantores de sucesso da música sertaneja: Luar do Sertão (BR, 1970), com a dupla Tonico e Tinoco, O Menino da Porteira (BR, 1976), com Sérgio Reis, A Estrada da Vida (BR, 1979/80), Sonhei com Você (BR, 1987), ambos apresentando Milionário e José Rico e 2 Filhos de Francisco (BR, 2005), com os cantores Zezé di Camargo e Luciano. Nossa escolha recai sobre estas películas por julgarmos serem essas obras reveladoras de momentos distintos da vida nacional no que tange ao processo de consolidação da sociedade do consumo no país e da massificação da cultura de origem rural. Os filmes em questão fizeram grande sucesso junto ao público nacional e trataram distintamente, tanto na forma de abordagem da temática como na perspectiva estética (e, portanto, ética), o rural brasileiro que nos interessa analisar.

METODOLOGIA:

Observamos como a expressão da música sertaneja altera sua forma (da vestimenta dos cantores passando pelo uso de determinados tipos de instrumental até a poética e temática das canções) e com ela uma leitura sobre o rural, induzindo à uma tradução cinematográfica compatível (forma, discurso e abordagem da temática, composição dos personagens, relação e representação de cidade e campo em cada filme) de modo a atender uma demanda do pensamento social daquele momento histórico. Tendo o cinema como núcleo central do nosso objeto, nos propomos a observar a sociedade brasileira a partir destas narrativas, com intuito de captar as transformações pelas quais passa a idéia do rural brasileiro e o lugar reservado a ele no corpo do país. Tomamos os filmes realizados a partir do sucesso das canções sertanejas e de seus intérpretes por acreditar que nestes o critério de aceitação por parte do público seja um elemento central para justificar a realização das películas.

RESULTADOS:

Ao fazermos uma discussão comparativa destes cinco obras cinematográficas, observamos que cada uma delas – à partir de seus narradores sociais – desenha o rural brasileiro à seu modo. Pudemos perceber que em cada narrativa filmíca a leitura de rural e de campo atende/atendia a interesses sociais, econômicos e políticos do momento de feitura de caba obra. Também percebemos como se alterou a representação do homem pobre rural frente às mudanças na sociedade brasileira, tomando como ponto de partida os personagens de cada uma das fitas. Além disto, pudemos notar como cada filme incorpora as canções sertanejas em sua narrativa, ora se aproximando, ora se distanciando do discurso que lhe é pertinente e lhe garante sucesso junto ao público.

CONCLUSÕES:

No momento de elaboração deste resumo, a pesquisa econtra-se em desenvolvimento fato que impossibilita uma conclusão final. Contudo, preliminarmente, podemos afirmar que no final dos anos 60, o rural da música sertaneja aparece no cinema como algo bucólico, ingênuo, lugar de alguns valores coletivistas, tentando criar um embate com a sociedade urbana que nestes anos se desenvolvia rapidamente. Em meados dos anos 70 percebemos que há uma imitação do rural norte americano, no qual econtramos um faroeste à brasileira, que se torna a medida da produção cinematográfica da chamada Boca do Lixo. Na virada desta década, a representação deste rural se mostra permeado por elementos da sociedade do consumo que alteram desde as letras das canções até o vestuário dos cantores, características que no final dos anos 1980, já se mostram ultrapassadas. Já em 2005, o rural brasileiro é desenhado pela narrativa fílmica como um passado distante, lugar de muito trabalho e pouca possibilidade de ascenção social, onde todos os laços de coletivismo teriam sido quebrados, cedendo lugar para a formação do individuo obstinado e alheio aos movimentos políticos mais amplos.

Instituição de fomento: FAPESP - Fundacao de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo

Palavras-chave: cinema brasileiro, música sertaneja, rural

E-mail para contato: odirleidp@gmail.com