60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia

FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES NACIONAIS NA AMÉRICA LATINA: DA ESFERA CULTURAL À POLÍTICA

Ricardo Sant'Ana Felix dos Santos1, 2
Adailton Pires Costa1, 2
Lorena Paula José Duarte1, 2

1. UFSC
2. PET - Direito


INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa propõe-se a analisar as várias abordagens da categoria Nação, questionando as suas relações superestruturais nas esferas do político e do cultural, no contexto do ressurgimento de culturas autóctones como formas de expressão de uma identidade nacional. Assim, a partir da tradição marxista, analisar-se-á o fenômeno nacional como uma ideologia que pode ter um papel e uma função central de resistência ao imperialismo na América Latina. Busca ainda resgatar os meios pelos quais se constróem estas identidades e os atores responsáveis por esta construção. De um lado, a interpretação multiculturalista propagada pelo discurso da Globalização ( uma visão estrangeira das culturas “exóticas”) aliada à construção pela indústria cultural (cujo braço que se mostra mais eficiente é, indubitavelmente, a mídia corporativa de massa) de um outro ideal de nação pouco correspondente às reais manifestações populares e políticas nacionais. De outro, a expressão das relações sociais de dada sociedade como construtora fundamental e autêntica da identidade nacional, como fator de auto-reconhecimento de um povo em resposta a um modelo alienígena que ali não encontra verificação.

METODOLOGIA:
O método de abordagem utilizado foi o dialético, trabalhando a formação histórico-social inserida nas contradições expressas no fenômeno dos nacionalismos no âmbito latino-americano. Entre os marcos teóricos contemplados na análise da realidade periférica está a teoria da dependência e a crítica da ideologia nas quais encontram-se respectivamente: Ruy Mauro Marini e Aijaz Ahmad

RESULTADOS:
No processo chamado de globalização, com a internacionalização de padrões de consumo, de modismos lingüísticos e de valores estrangeiros, o Estado, ao contrário do discurso hegemônico, ao invés de se enfraquecer, se fortalece. Pois mesmo com sua autonomia financeira reduzida, ele começa a atuar e intensificar sua intervenção em novas áreas de poder como o controle social. Nessa senda, a nação passa por uma sacralidade racionalizada realizada pela esfera jurídica, que suplanta, desregulando, a esfera política; momento do surgimento, como sustentáculo de uma ideologia nacional às avessas, de critérios econômicos e biológicos. Assim, a soberania é posta em cheque pela globalização, por meio de uma secularização feita pela própria naturalização da cultura popular e nacional. Os signos comunicados pela cultura globalizada desterritorializam as ideologias, desnacionalizando-as. Como resultado temos a volta à concepções de Cultura, Direito e Nação desvinculadas dos aparelhos privados de hegemonia, naturalizados nos meandros de uma suposta porosidade do Estado-coerção. O vazio que fica é ocupado pelas explicações científicas da biologia antropológica, que se legitima nas esferas do poder econômico, pari passu a sua deslegitimação nas esferas de poder político. Há, portanto, a substituição do Estado ampliado pelo comunitário, do político pelo cultural, da norma pela exceção (exceção que se repete ad aeternum), tal qual o mito de origem, no caso do nacionalismo, em descompasso com sua própria história.

CONCLUSÕES:
A mediação Nação é uma contradição que carrega tanto um potencial emancipatório quanto regulatório. É, pois, uma ideologia a ser considerada em qualquer análise acerca da formação histórico-social de um Estado, principalmente naqueles de economia dependente. Atualmente, dentro da lógica neoliberal de transnacionalização das relações econômicas e de limitação do Estado nacional a um Estado gendarme, ressurge a temática da identidade nacional não mais como ideologia de um regime ou grupo étnico, mas como uma ideologia de massas, inserida na contradição de classe. Porém, num período de descrédito autoproclamado de o “fim das ideologias”, apesar dos chauvinismos, cumpre destacar a função que o nacionalismo exerce no atual embate da globalização, ao reviver tradições de um passado comum para se contrapor à fragmentação e incerteza da era pós-moderna. Esse passado revela não somente uma memória em comum, mas também uma “amnésia comum”, pois os eventos celebrados por uma comunidade concreta são ao mesmo tempo uma seleção e uma reinvenção. Essa resistência cultural das identidades nacionais é só mais um marco na construção de um projeto que, inserido na luta antiimperialista, seja capaz de fomentar a formação de uma consciência nacional-popular que ultrapasse a lógica do “capitalismo tardio” – a cultura de puro consumo e fetichismo.



Palavras-chave:  Nação, Cultura, Política

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