60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

BANCO CONVERSACIONAL DE NATAL: UMA AMOSTRA DA FALA REPRESENTATIVA DE DISCURSO NATURAL E ESPONTÂNEO DOS NATALENSES

Lúcia Chaves de Oliveira Lima1
Maria Angélica Furtado da Cunha1

1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Letras - UFRN.


INTRODUÇÃO:
Este trabalho teve como objetivo a constituição de uma amostra de fala da cidade de Natal, representativa de discurso natural, o corpus Banco Conversacional de Natal. Seguindo Chafe (1994), postulamos que a conversação é o uso básico da língua cujo status especial justifica tratá-la como base a partir da qual todos os outros usos são derivados. Para a constituição desse corpus, foram gravadas 20 conversações entre falantes natalenses em situação de fala espontânea sobre assuntos do dia-a-dia. Seguimos a orientação básica de registrar eventos em recintos onde as pessoas se reúnem e onde a atenção não esteja voltada diretamente à linguagem, mas à atividade em curso. Essas conversas são altamente interativas e se dão entre pessoas que se conhecem, mas não compartilham as mesmas atividades ocupacionais, evitando assim uma amostra homogênea de falantes. Todas as gravações foram devidamente transcritas e segmentadas em unidades entonacionais. Segundo Du Bois (1992), a transcrição do discurso pode ser definida como o processo de criar uma representação de um evento de discurso na modalidade escrita, de tal forma que ele se torne acessível à pesquisa. Já a ‘unidade entonacional’ pode ser caracterizada como uma “porção de discurso produzida sob um único contorno entonacional coerente”.


METODOLOGIA:
As conversas foram gravadas em lugares e em situações diferentes. Os informantes são natalenses e têm idades, sexo e nível escolar diferentes. O primeiro passo foi a coleta de dados, a gravação de conversas espontâneas entre falantes natalenses. Após a coleta, procedemos à transcrição dos dados obtidos, ou seja, reprodução do material gravado através de símbolos gráficos, simulando, na escrita, procedimentos que são específicos da fala, como por exemplo, a entonação, que é marcada por pausas, alongamento de vogais, etc. Utilizamos as normas específicas de transcrição utilizadas pelo Projeto NURC e outras estabelecidas pela Base de Pesquisa Discurso & Gramática da UFRN, além das normas de transcrição elaboradas pela University of California, Santa Barbara. De acordo com essa orientação, o texto falado foi segmentado em unidades entonacionais. Segundo Chafe (1994), a unidade entonacional representa a unidade fundamental do processo de produção do discurso falado. Essas unidades são limitadas por pausas que o falante naturalmente produz na fala, cada pausa marca uma frase entonacional e cada unidade é transcrita em uma mesma linha. O importante é que esses registros se aproximem, tanto quanto possível, do material gravado e, portanto, sejam relevantes para a análise lingüística.


RESULTADOS:
De acordo com a lingüística funcional, a língua é usada para satisfazer as necessidades comunicativas dos seus usuários. No entanto, sempre nos deparamos com aquele velho comentário: “...você está falando errado... a Gramática diz que...”. Ora, se a língua é um “sistema adaptativo” (DU BOIS, 1985), que está sempre sofrendo mudanças, então devemos acompanhar essas mudanças. Que vantagens pode ter um pesquisador da área da linguagem em testar suas hipóteses sobre a língua em textos “fabricados”, inventados? Com base nesse argumento, os lingüistas funcionalistas defendem a necessidade de investigar a natureza da língua a partir do seu uso na vida diária, examinando o discurso falado. Para cumprir esse requisito teórico-metodológico, fez-se necessário a constituição de um corpus que reproduza esse discurso, nesse caso o Banco Conversacional de Natal, constituído de 20 conversações entre falantes natalenses, com um total de aproximadamente 6 horas de gravação. As conversas receberam os seguintes títulos: Biblioteca, Discussão, Cursinho, Música, Pagamentos, Esporte, Família, Conversa na calçada, Jogo de futebol, Vídeo Game, Aula, Amiga, Trabalhos Escolares, Alimentação infantil, Água de Natal, Vendedor de salgado, Casa Sorteada, Almoço de Domingo, Financiamento da casa.


CONCLUSÕES:
Algumas pesquisas ainda têm sido realizadas de forma tradicional, sem levar em conta os contextos reais de uso da língua. Muitas vezes os dados examinados não correspondem a dados efetivamente produzidos por falantes engajados em situações comunicativas interacionais. Posso dizer que gravar a fala casual não é uma tarefa tão simples, ao contrário, chega a ser por vezes bastante árdua. Freqüentemente o material coletado fica comprometido, ou porque os participantes não se sentem à vontade para falar quando já sabem que estão sendo gravados, ou pela interferência de fatores externos à gravação, como ruídos. E por questões éticas, sempre devemos mostrar ao informante o material já gravado e pedir a autorização para usar a gravação. É por motivos como esses que às vezes temos que descartar o material coletado e proceder a outras gravações. O Banco Conversacional de Natal é estritamente conversacional e poderá fornecer comprovação empírica para os trabalhos desenvolvidos não só no interior do D&G, mas também para dissertações e teses que seguem outras orientações teóricas. O corpus servirá como fonte de dados e material de constantes pesquisas para a comunidade acadêmica por ser a primeira e única amostra do Estado que contempla o discurso natural, espontâneo, dos falantes natalenses.


Instituição de fomento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Universitário, Natal/RN 59078-970 – Brasil

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  banco conversacional, interação, fala espontânea

E-mail para contato: luciachavess@hotmail.com