60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 21. Economia Industrial

MUDANÇAS RECENTES NA INSERÇÃO INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DOS FLUXOS DE COMÉRCIO DOS PRODUTOS INTENSIVOS EM TRABALHO

Paulo César Morceiro1
Rogério Gomes1, 2

1. Departamento de Economia/UNESP-Araraquara
2. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
Nas últimas décadas houve um grande deslocamento das indústrias mundiais em direção a China e outros países asiáticos. Esse movimento promoveu uma forte reestruturação na indústria brasileira, em especial nos setores que geram maior número de emprego e exigem menor especialização do trabalho e poucos requisitos tecnológicos. Este projeto de iniciação científica examina, através dos fluxos de comércio exterior do Brasil, as alterações recentes (entre 1997 e 2006) na estrutura produtiva nacional, com foco especial nas indústrias intensivas em trabalho, em particular, dos setores calçadista, moveleiro, coureiro e de plásticos, fortemente impactados pelo “efeito China” e pelo processo de abertura comercial que se iniciou no final dos anos 80. É pressuposto que as mudanças na estrutura industrial se refletem nos fluxos de comércio, tanto em relação ao destino/origem dos produtos, ou na composição da pauta comercial, quanto nas alterações no conteúdo tecnológico embutido naqueles. No conjunto, o exame dos fluxos de comércio permitem, também, uma avaliação da nova inserção do Brasil nas cadeias internacionais de valor. A análise do papel do Brasil dentro dessa reconfiguração é essencial para diagnosticar as suas fragilidades e competências, e prever possíveis problemas futuros.

METODOLOGIA:
O estudo será feito com a partir dos seguintes critérios: 1. Países selecionados: China e Itália. A revisão bibliográfica selecionou estes dois países, o primeiro em desenvolvimento e o segundo desenvolvido. 2. Estatísticas para comparar os fluxos comerciais do Brasil com os China e Itália: i) Através da base de dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), manipulada pelo software estatístico SPSS, para o período de 1997 a 2006, para o comércio entre Brasil, China e Itália. ii) Manipulação da base de dados UNCTAD/PC-TAS – Período 1997 a 2006. Para dimensionar o comércio da China e Itália com o resto do mundo. iii) Seleção de produtos: foram selecionados um total de 22 produtos nos 4 setores examinados. Sendo 7 do setor de couros, 3 do setor de calçados, 5 do setor de móveis e 7 no de plásticos. Estes produtos representam mais se 50% das exportações da industria intensiva em trabalho do Brasil. 3. Classificação do comércio brasileiro em categorias tecnológicas (metodologia UNCTAD, 2002 e Sanjaya Lall, 2000). São 6 categorias: “produtos primários”, “recursos naturais”, “baixa tecnologia”, “média tecnologia”, “alta tecnologia”, e “outras transações”. Os quatros setores da industria intensiva em trabalho estão alocados na categoria tecnológica de “baixa tecnologia”.

RESULTADOS:
Os resultados mostram que o Brasil aumentou a participação relativa nas exportações mundiais no período 2003-2006. No entanto, sua pauta comercial está se concentrando em “produtos primários” e “manufaturados em recursos maturais”. Assim, tem diminuído a participação das vendas externas em bens de “baixa tecnologia” e “alta tecnologia” (mais industrializados que os anteriores), reforçando o aspecto de reprimarização (ou especialização regressiva) da nossa pauta comercial. Enquanto as exportações mundiais se concentram, paulatinamente, nos produtos de maior densidade tecnológica, em detrimento dos produtos de “baixa tecnologia”, o Brasil aumentou sua participação no comércio mundial nos “produtos primários” e “manufaturados em recursos naturais”, num movimento contrário à tendência geral. Os 22 produtos selecionados representam mais de 50% da subcategoria “indústria intensiva em trabalho”, a qual é classificada como “baixa tecnologia”. A análise revelou que o Brasil está perdendo participação relativa na composição da pauta comercial nesses 22 produtos em detrimento do aumento da competitividade das exportações da China – país que assumiu a liderança mundial nas exportações nesses setores. Além disso, o Brasil vem “sofrendo” com as importações chinesas nesses setores.

CONCLUSÕES:
A revisão bibliográfica evidenciou que a abertura comercial iniciada em 1989 e aprofundada nos anos 1990 foi muito rápida e sem aparato aos setores de produtos manufaturados, já que os produtos primários e intensivos em recursos naturais gozam de amplas vantagens naturais e comparativas. O país não aumentou as exportações “a taxas chinesas” nos anos 2000, mas isto não tem sido grande entrave em termos do balanço de pagamentos (BP), pois após 2002 o Brasil passou a ter saldos na balança comerciais crescentes e elevados (até 2006), contribuindo para tornar as contas do governo superavitárias (BP). Como foi salientado na secção de resultados, o país sofre forte pressão dos produtos importados chineses intensivos em mão-de-obra. Essa pressão juntamente com a abertura comercial intensificada nos anos 1990 levou a demissão de um grande contingente da força de trabalho, ou seja, o Brasil também segue a tendência de transferir empregos de menor qualificação para a China, através da importação desses produtos com diminuição relativa da fabricação interna. Assim, diante de uma abertura rápida e profunda, o país vem conseguindo reagir de maneira “corajosa”, mesmo não reduzindo a dependência (ou subordinação) tecnológica expressa pelo índice de densidade tecnológica.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Comércio Exterior, Conteúdo Tecnológico, Inserção Internacional

E-mail para contato: paulo.morceiro@yahoo.com.br