60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior

O EFEITO REAL DAS COTAS NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Claudete Batista Cardoso1, 3
Jacques Rocha Velloso2, 4

1. Faculdade de Educação / UnB
2. Prof. Dr. - Faculdade de Educação / UnB - Orientador
3. Centro de Seleção e de Promoção de Eventos / UnB
4. Núcleo de Estudos para o Ensino Superior / UnB


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é parte de pesquisa de mestrado e insere-se em um projeto mais amplo de estudos sobre o sistema de cotas para negros da Universidade de Brasília. Na apreciação de uma política como esta, as questões que suscitam interesse são inúmeras, uma delas refere-se, por exemplo, às diferenças de desempenho no vestibular e às chances reais de ingresso dos negros. Assim, o objetivo deste estudo foi comparar o desempenho, no vestibular, dos candidatos que concorreram via sistema universal e o daqueles que concorreram pela reserva de vagas e verificar o efeito real das cotas no período em estudo, ou seja, qual seria a proporção de negros a ingressar na universidade caso as cotas inexistissem. Primeiramente, comparou-se as diferenças entre as médias de escore bruto do conjunto de candidatos e, em seguida, entre o conjunto de aprovados. O efeito real das cotas foi calculado por meio de simulação de aprovação de candidatos que se declararam negros numa situação hipotética de vestibular sem reserva. A principal contribuição dos resultados deste estudo refere-se à possibilidade de apreciar o efeito das cotas por grupo de prestígio social dos cursos da universidade.

METODOLOGIA:
A fonte da pesquisa foi a base de dados referente ao segundo vestibular de 2006, fornecido pelo CESPE/UnB. Esta base contém, entre outras variáveis, o escore bruto (EB) e o argumento final dos candidatos de ambos os sistemas de inscrição. As análises foram realizadas por área do conhecimento e por grupo de prestígio social dos cursos, com o objetivo de se fazer um controle socioeconômico. Este agrupamento dos cursos por prestígio social foi proposto por Velloso (2004) com base no AF médio dos cursos e está embasado em estudos de Costa Ribeiro (1981) sobre o perfil social das carreiras universitárias. As comparações de desempenho foram feitas por meio da média do escore bruto. Já para a simulação, que mediu o efeito real das cotas, realizou-se uma reclassificação dos candidatos por argumento final (AF), conforme o número de vagas ofertada em cada curso, somadas as vagas do sistema tradicional e as do sistema de cotas. O efeito real das cotas é, portanto, a diferença entre a proporção de negros (cotistas) aprovados pela reserva de 20% das vagas do vestibular e a proporção de negros que seria aprovados sem a reserva de vagas.

RESULTADOS:
Quando consideramos o conjunto de candidatos, encontramos muita proximidade entre a média de EB dos estudantes dos dois sistemas de inscrição. No entanto, ao compararmos o desempenho apenas dos aprovados por ambos os sistemas, na maior parte dos grupos de cursos, constatamos um grande aumento nas diferenças de escores entre os dois conjuntos de estudantes, variando de 15% a 25%. O aumento da diferença entre cotista e não-cotistas, quando comparados candidatos e aprovados, deve-se a dois processos de efeitos opostos: a seletividade do vestibular e o efeito das cotas (Velloso, 2006). Nesta lógica, o efeito das cotas deve ser maior nos grupos de cursos nos quais a diferença entre os dois conjuntos de aprovados é maior. Tratando da efetividade das cotas, verificou-se que a reserva foi muito efetiva para os cursos de alto e médio prestígio das Humanidades e das Ciências e para os cursos de baixo prestígio da Saúde. No entanto, o efeito foi mais modesto para os cursos de baixo prestígio das Humanidades e das Ciências e para os cursos de alto e médio prestígio da Saúde. Por exemplo, em cursos de Pedagogia e de Artes todos os aprovados pelas cotas já o seriam, enquanto em cursos de Relações Internacionais e de Arquitetura nenhum candidato negro seria aprovado.

CONCLUSÕES:
Em geral, houve expressiva diferença de desempenho entre os aprovados pelo sistema de cotas e os aprovados pelo sistema tradicional, mas essa diferença depende do prestígio social do curso: nos cursos mais valorizados encontraram-se as maiores diferenças. Pela simulação, pode-se dizer que as cotas na UnB cumprem um dos seus objetivos, que seria o de redistribuir os aprovados negros por entre os gradientes de prestígio social dos cursos. Vale destacar, entretanto, o curso de Medicina, no qual os cotistas tiveram desempenho muito semelhante ao dos demais aprovados e no qual, sem a reserva, já haveria 14% de negros entre os aprovados. Esses resultados estão em consonância com os encontrados em pesquisas com dados do segundo vestibular de 2004 da universidade analisada (Velloso, 2007).



Palavras-chave:  cotas, vestibular, desempenho

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