60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira

HISTÓRIA E FICÇÃO: UM OLHAR SOBRE A LITERATURA E O CINEMA NACIONAIS

GISELLA MENEGUELLI DE SOUSA1
NATÁLIA ROMPINELLI1
ALEXANDRE G. FARIA1, 2

1. DEPARTAMENTO LETRAS - UFJF - UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
2. ORIENTADOR


INTRODUÇÃO:
O projeto de pesquisa “Representações da identidade cultural no Brasil contemporâneo” propõe um mapeamento das concepções de identidade que fragmentam a concepção unitária ou homogênea do nacional e de suas expressões culturais. Parte do projeto analisa a problemática relação entre ficção e História e também como a produção de ficção atual vem narrando os dados históricos nacionais. Tenta-se entender de que maneira as narrativas literária, cinematográfica e histórica se relacionam.

METODOLOGIA:
O trabalho de pesquisa iniciou-se com um levantamento primário de narrativas cinematográficas brasileiras a fim de mapear como algumas delas demonstram certa tendência a dialogar com a história e a cultura brasileiras. Esse levantamento limitou-se a obras que datam da década de 1990, que foi o período conhecido como o do renascimento do cinema nacional, até as produções contemporâneas. Esses filmes foram organizados em dois grupos temáticos: Carlota Joaquina Princesa do Brazil , (1994) e Brava gente brasileira (2000), que revisitam o passado colonial brasileiro; Lamarca (1994) e Cabra Cega (2004), que retornam à recente ditadura militar de 1964, sobre os quais constatamos que houve o objetivo de buscar na história recente do Brasil o resgate das identidades nacional e cultural suprimidas neste período; enquanto Quase dois irmãos (2004) serve como filme-síntese das questões culturais, identitárias, étnicas confrontadas entre grupos distintos (negros pobres e brancos intelectuais da classe média), problematizadas nas obras citadas. A pesquisa de títulos foi feita principalmente em sítios na internet e em livros sobre cinema. As referências bibliográficas são os filmes citados, obras da literatura nacional, assim como de teoria, sítios na internet, dissertações de mestrado.

RESULTADOS:
Alguns fatos históricos foram determinantes para a influência do ideal nacionalista que visava à construção de um imaginário nacional, como a vinda da família real para o Brasil, em 1808, que mexeu com a vida da população e com o seu sentimento de pertencimento a um lugar. As referências usadas em certos filmes contemporâneos parecem orientar-se por obras românticas (literárias e pictóricas), como Brava gente brasileira e em alguma medida Lamarca . A literatura romântica parece que serviu como referência para uma retomada da historiografia brasileira, a partir da qual se tentou compreender o “nascimento” da identidade nacional, resgatada pela comemoração dos 500 anos do “descobrimento” do Brasil, durante a qual se rememorou os seus fatos históricos e culturais. A ficção tenta compreender os fatos históricos; ela não tem compromisso com a reconstituição fidedigna dos fatos passados, e sim com uma representação verossímil deles. A História não deve ser entendida como algo objetivo, puramente real, visto que o historiador é um mediador que se coloca entre os fatos e os outros homens; faz mais sentido pensá-la como uma idéia responsável por dar-nos conhecimento sobre como a humanidade orientou suas relações sociais e com o mundo que habita.

CONCLUSÕES:
Parece que a intenção das narrativas cinematográficas pesquisadas é tentar no presente responder às perguntas que no passado ficaram sem solução ou cujas soluções não foram convincentemente contadas, tendo obviamente o passado como base determinante para a realização da obra de ficção histórica. E é justamente esse o propósito da cinematografia brasileira alinhada com o discurso histórico: tentar construir novas possibilidades de leitura dos acontecimentos passados que nos chegaram por uma visão subjetiva do historiador, ou a partir de relatos a que este teve acesso, encontrados em documentos escritos por um produtor textual que conta eventos vistos, vivenciados e interpretados apenas por ele. Desde a retomada do cinema nacional, em meados da década de 1990, a cinematografia brasileira vem buscando um incessante diálogo com a História nacional, culminando em representações desta, sem se restringir a fatos oficialmente narrados por ela, mas sim trazendo à tona uma possível interpretação da História ainda não narrada ou não refletida. Para se chegar a essas conclusões, imprescindíveis foram as referências teóricas de Homi Bhabha e Benedict Anderson, encontradas em Memória e esquecimento . In: ROUANET, Maria Helena (org.). Nacionalidade em questão. Rio de Janeiro: UERJ, 1998.

Instituição de fomento: UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  IDENTIDADE CULTURAL, FICÇÃO, HISTÓRIA

E-mail para contato: gisellameneguelli@yahoo.com.br