60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística

CONCEITOS E VULGATAS DA AD: ESTUDO DE CASO

Francisca Adriana Ferreira do Nascimento1
Maria da Conceição Fonseca-Silva1, 2
Edvania Gomes da Silva1, 2

1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários - DELL/UESB.
2. Professor Doutor / Orientador.


INTRODUÇÃO:
Este trabalho apresenta resultados parciais do subprojeto “O problema dos conceitos e das vulgatas: estudo de casos” que está ligado ao projeto temático maior intitulado “Análise de Discurso: Foucault e Pêcheux, o diálogo teórico-metodológico e as repercussões na França e no Brasil”, coordenado pela Profª Drª Maria da Conceição Fonseca-Silva. Fonseca-Silva (2000; 2003a, 2003b) defende a importância e a necessidade de se realizar estudos epistemológicos para evitar as confusões teórico-metodológicas geradas pela utilização de vulgatas nos estudos da linguagem, que surgiram a partir dos anos 60 do século XX. Discute-se, neste trabalho, a relação entre conceitos pertencentes ao quadro teórico-metodológico da Escola Francesa de Análise de Discurso, cunhada por Michel Pêcheux, e vulgatas com o objetivo de verificar se eles possuem ou não o mesmo funcionamento. A discussão refere-se aos conceitos de sujeito e de discurso, da AD Francesa, e suas respectivas vulgatas.

METODOLOGIA:
A fundamentação teórica da pesquisa está baseada no quadro teórico da Escola Francesa de Análise de Discurso e compreende, também, postulados de M. Foucault, alguns dos quais foram revistos por Pêcheux e seu grupo. O trabalho resulta da leitura, recensão e discussão de textos que compõem o corpus do projeto de pesquisa, dentre eles: Análise de Discurso: princípios e procedimentos e Michel Pêcheux e a Análise de Discurso, de Orlandi; Do lugar social ao lugar discursivo: o imbricamento de diferentes posições-sujeito, de Grigoletto; A Análise do Discurso e questões sobre a linguagem, de Piovesan et. al.; e O sujeito da AD: um conceito em transformação, de Piccardi. O corpus compreende escritos de Foucault e sobre suas contribuições, de Pêcheux e seu grupo, de pesquisadores brasileiros filiados ao quadro epistemológico da AD Francesa e de pesquisadores que fazem uso de vulgatas da AD. O levantamento bibliográfico dos escritos foi realizado pela coordenadora do projeto, e teve fontes no Brasil e na França. O acervo conta com 698 escritos e foi catalogado, sob orientação da coordenadora do projeto de pesquisa, por Celma Oliveira Prado, bolsista IC/CNPq de agosto de 2004 a julho de 2006, e contou com a colaboração de Shirley Guedes, bolsista IC/FAPESB de maio de 2005 a abril de 2006.

RESULTADOS:
Os resultados indicaram que vulgatas e conceitos da AD funcionam de forma distinta. Em relação à noção de sujeito, observou-se que, nos trabalhos analisados, ele é tomado enquanto sujeito empírico que assume uma posição e uma função hierárquica em certa situação de interação; sujeito que, ao formular palavras, determina e controla os sentidos delas. Trata-se do sujeito intencional da Pragmática. Mas, este não é o sujeito da Análise de Discurso. A AD aborda o sujeito por meio de uma teoria não subjetiva, considerando que ele possui “marcas do social, do ideológico, do histórico” (GRIGOLETTO, P. 1) e do inconsciente. Trata-se de um lugar de subjetivação para indivíduos, uma ‘posição’ em relação a outras que possibilita a inscrição do sujeito em uma formação discursiva e o acesso ao interdiscurso. Quanto ao conceito de discurso, verificou-se que ele é visto como sinônimo de texto e analisado estruturalmente em relação a fatores externos. Mas, para a AD, discurso e texto são diferentes: o discurso é definido como “efeito de sentidos entre locutores” (ORLANDI, 1999, P. 11), uma prática que se materializa em diferentes formulações; o texto, por sua vez, é uma materialidade, historicamente inscrita, na qual é possível encontrar diferentes discursos funcionando.

CONCLUSÕES:
Constatou-se que as vulgatas dos conceitos de sujeito e de discurso não são idênticas. A noção de sujeito do discurso é pensada como o sujeito empírico, origem das palavras e sentidos, e, desse modo, aproxima-se de teorias fundamentadas em fatores pragmáticos e não discursivos. Mas, para a Análise de Discurso, sujeito é um lugar de subjetivação, condição necessária para que os indivíduos tenham acesso ao conjunto de saberes já ditos e se constituam enquanto sujeitos do discurso. No interior deste quadro epistemológico, o discurso também não pode ser pensado como um texto (oral ou escrito), visto que um texto pode materializar diferentes discursos. O texto se configura como uma unidade de análise, porque diversos discursos podem estar materializados, isto é, presentes, em um mesmo texto. Sobrepor um a outro, em um trabalho, é utilizar vulgatas e se distanciar do escopo teórico da AD. As conclusões apresentadas, até então, referem-se aos resultados parciais obtidos durante o subprojeto, que está em andamento e que abarca outros casos de relações entre conceitos e vulgatas da AD, os quais serão apresentados em trabalhos posteriores.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Análise de Discurso, Discurso, Sujeito

E-mail para contato: drianascimento@gmail.com