60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A Educação Ambiental vem sendo proposta como campo essencial para uma educação global, orientada para o bem-estar da comunidade humana e compreendida como uma grande área do conhecimento que abrange conceitos multidisciplinares. Ao longo do tempo, esse campo vem sendo proposto para atravessar os currículos escolares que vão desde a educação básica até o ensino superior. Acreditamos que a escola é um equipamento social com grande potencial para intervir a favor de uma cidadania ambiental, que reconhece os direitos do ambiente e atua para a busca de soluções tanto para a problemática ambiental, quanto para a crise ecológica e civilizatória atual, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência planetária. Com base nesse entendimento, nos propusemos a investigar a ambientalização do currículo do curso de Pedagogia da UNICAMP, e conhecer como esse conhecimento se expressa no discurso de docentes e estudantes de 3º e 4º ano desse curso. Esse estudo poderá contribuir para que a faculdade incorpore cada vez mais em seu currículo a Educação Ambiental como projeto permanente, oferecendo condições para que o futuro pedagogo seja atuante nos processos de mudanças sociais de forma crítica e reflexiva em direção a uma visão sistêmica da realidade.

METODOLOGIA:

Por meio da análise das ementas e dos programas das disciplinas obrigatórias, obteve-se, um quadro de categorias que organizou e identificou diversas temáticas próprias da área de Educação Ambiental.Com base nesse levantamento, selecionamos quatro disciplinas que sugeriram possibilidades mais objetivas para a abordagem de questões relacionadas à Educação Ambiental: Antropologia da Educação, Fundamentos do Ensino de Ciências, Sociologia da Educação II e Educação Não – Formal. Entrevistamos os 5 docentes responsáveis por essas disciplinas com base num roteiro semi-estruturado contendo questões comuns a todos e questões específicas, elaboradas com base nos programas das disciplinas, na perspectiva de explicitar qual o conteúdo abordado pelo docente, e a relação entre o ensino praticado e a Educação Ambiental. Por fim, num total de 62 estudantes participantes da pesquisa, aplicamos dois questionários, buscando no primeiro, investigar possíveis associações que os estudantes faziam com imagens, palavras e conceitos próprios da Educação Ambiental, e no segundo, elaborado com base nas respostas dos docentes, investigamos se os estudantes identificavam os mesmos assuntos a que os docentes fizeram referência nas entrevistas, bem como se percebiam relação entre eles e a Educação Ambiental.

RESULTADOS:

A análise documental do currículo nos sugeriu que os indícios de temáticas ambientais que foram traçados, permitem associar elementos que sugerem possibilidades de ambientalização nesse currículo. De acordo com a natureza desses indícios, foi possível supor que muitos dos princípios e propostas participantes da esfera complexa da Educação Ambiental poderiam ser explorados a partir das temáticas que comparecem no currículo do curso. Ao mesmo tempo, as categorias que pudemos definir, bem como os depoimentos dos docentes entrevistados, revela uma intenção de subsidiar a formação dos estudantes em termos de uma educação para a cidadania. A pesquisa também nos permitiu concluir que não obstante o fato dos docentes reconhecerem a Educação Ambiental no curso de Pedagogia como um conhecimento pertinente à formação inicial de professores, parecem não se comprometer com uma intenção pedagógica clara de transmissão dos princípios da área, seja por não se sentirem legitimados a fazê-lo, seja por acreditarem que independente da sua vontade o estarão fazendo. Do lado dos estudantes, observamos que quando consideraram que esse tema foi explorado no curso, exibem uma compreensão pouco abrangente da Educação Ambiental em termos de uma área apoiada em diferentes campos do conhecimento.

CONCLUSÕES:

É possível afirmar que o currículo investigado se propõe a desenvolver posturas críticas, reflexivas e investigativas frente à realidade educacional e social, preocupando-se em criar condições para que os estudantes empreendam uma análise crítica da atual conjuntura cognitiva, política e sócio-econômica. No entanto, a dimensão ambiental da cidadania ainda é pouco trabalhada no âmbito desse currículo. A nosso ver, os docentes não reconhecem uma ambientalização de seus programas por não se identificarem com a perspectiva transformadora da Educação Ambiental. Como não mantém um diálogo com esse campo, não praticam um ensino com intencionalidades claras dos princípios da Educação Ambiental. O ensino desse conhecimento de maneira conseqüente e intencional em cursos de formação inicial emerge como uma possibilidade para que docentes e alunos fortaleçam iniciativas mais investigadoras, reflexivas e críticas das realidades socioambientais e educacionais, na perspectiva de desenvolver posturas individuais e coletivas comprometidas com a responsabilização com um desenvolvimento sustentável. De fato, esse currículo para ambientalizar-se, precisaria, então, criar condições objetivas para reeducar o olhar de seus futuros profissionais, no sentido da formação de sujeitos pro-ativos e da criação de hábitos de vida sustentáveis.

Instituição de fomento: FAPESP

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Educação Ambiental, Pedagogia, Currículo

E-mail para contato: brosalem@gmail.com