60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada

GENEALOGIAS COLONIAIS

Deilma Santos da Luz1
Eneida Leal Cunha1, 2

1. Universidade Federal da Bahia - Instituto de Letras
2. Profa. Dra. Orientadora


INTRODUÇÃO:
A pesquisa intitulada Genealogias Coloniais integra o projeto etnicidades: entre Bahia e Angola e tem como objeto de estudo as obras Viva o Povo Brasileiro (João Ubaldo Ribeiro) e A Gloriosa Família: o tempo dos flamengos ( Pepetela), analisando e identificando, em perspectiva comparativa, as possíveis relações convergentes e distintas entre as duas representações da história colonial. Apresentamos os primeiros resultados da pesquisa que se iniciou em agosto de 2007: o mapeamento e análise das estratégias discursivas presentes nos romances, estabelecendo comparação entre as narrativas, escritas sob perspectivas pós-coloniais.

METODOLOGIA:
Para a elaboração do trabalho, foram realizadas leituras de fundamentação teórico-crítica e histórica, e a leitura crítica e comparativa das duas obras selecionadas para análise, bem como a leitura e fichamento de parte relevante de suas respectivas fortunas crítica.

RESULTADOS:
Nos romances Viva o Povo Brasileiro (1984) e A Gloriosa Família (1997), observamos a reconstituição da trajetória de diferentes linhagens em contextos históricos análogos e ao mesmo tempo distintos, ou seja, Brasil e Angola enquanto construções coloniais. Viva o Povo Brasileiro possui uma abrangência temporal que abarca o período de 1647 até a década de 70 no século XX. A estrutura do romance se desenvolve a partir do desenrolar de duas grandes linhas familiares. Na primeira linhagem estão os descendentes de Perilo Ambrósio e Amleto Ferreira, na outra linhagem estão às reencarnações da “alminha brasileira”. Em A Gloriosa Família, podemos observar, através do escravo-narrador, a história da linhagem dos Van Dum, um núcleo familiar no qual Van Dum era o patriarca e possuía vários filhos mestiços, divididos entre os gerados por escravas, os chamados filhos da “senzala”, e os gerados por sua esposa, D. Inocência, os “filhos da casa grande”. “Baltazar Van Dum comandava de acordo com uma ótica “branqueadora” a sua família miscigenada estabelecendo hierarquias discriminatórias entre os filhos oficiais e os filhos da senzala” (Oliveira 2003).

CONCLUSÕES:
Nesse percurso investigativo inicial, pude perceber como as duas narrativas reecenam ficcionalmente histórias coloniais que foram revistas e ressignificadas. Ambas as narrativas nos permitem compreender que a perspectiva genealógica, no sentido foucaultiano, não pretende demarcar uma origem única continua de onde viemos, ela pretende fazer aparecer todas as interferências e descontinuidades que nos atravessam. Em Viva o Povo Brasileiro observamos uma dialogicidade construída por várias vozes, nesse romance o autor extrai das classes subalternas da sociedade brasileira um emaranhado de histórias que irão contestar algumas formas de poderes constituídos. Em A Gloriosa Família a presença de uma única voz irá operar um descentramento no cerne de um discurso hegemônico. Observamos que é através das vozes daqueles que foram excluídos e marginalizados que irão se organizar dentro de A Gloriosa Família e Viva o Povo Brasileiro os procedimentos discursivos que operam algumas desconstruções nos sistemas de valores que coordenan a consolidação do etnocentrismo europeu. É com aqueles que sofreram o sentenciamento da história – subjugação, dominação, diáspora, deslocamento – que aprendemos nossas lições mais duradouras de vida e pensamento ( Bhabha, p. 240, 1998)

Instituição de fomento: PIBIC/CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  pós-colonial, Genealogia, reencenação

E-mail para contato: deilma@hotmail.com