60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia

IMPORTÂNCIA DA INTERNAÇÃO PROLONGADA COMO FATOR DE RISCO PARA A INFECÇÃO HOSPITALAR EM PEDIATRIA

Emilia Nunes de Melo1
Eduardo Luiz Andrade Mota3
Luciana Rodrigues Silva1
Diogo Radomille Santana1
Juliana Rossetto Oliveira1
Suzy Santana Cavalcante2

1. Faculdade de Medicina/Universidade Federal da Bahia (UFBA)
2. Professora Adjunto da Faculdade de Medicina/UFBA/Orientadora
3. Instituto de Saúde Coletiva/UFBA


INTRODUÇÃO:
A Infecção hospitalar (IH) ainda permanece como um dos problemas mais preocupantes relacionados à internação de crianças, levando ao agravamento das condições clínicas ou cirúrgicas que motivaram a internação e ao prolongamento da estadia no hospital. Aspectos relacionados à ocorrência de IH entre crianças ainda precisam ser melhor estudados, devido às características peculiares da hospitalização nesta faixa etária. A freqüência de IH varia entre os hospitais de regiões com características sócio-econômicas diversas, apresentando-se com taxas mais elevadas nos países em desenvolvimento, onde os recursos são limitados e as práticas de controle de infecção não são ideais, facilitando a transmissão de agentes infecciosos. Em Pediatria, as taxas são, dramaticamente, influenciadas pela idade dos pacientes, sítio anatômico acometido, tipo de unidade assistencial e duração da hospitalização. Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de estudar as características epidemiológicas da IH em um grupo de crianças internadas em um hospital pediátrico de Salvador, Bahia, avaliando a importância do internamento prolongado como fator de risco importante para IH.

METODOLOGIA:
Estudo de morbidade hospitalar, prospectivo, desenvolvido no período entre agosto/2006 e julho/2007, no Hospital da Criança das Obras Sociais Irmã Dulce/OSID, hospital de ensino, de nível terciário, localizado em Salvador, Bahia, Brasil. Foram acompanhadas, durante todo o período de internação e por período estabelecido após a alta hospitalar, crianças de 0 a 14 anos, residentes no município de Salvador, hospitalizadas para tratamento clínico ou cirúrgico, após consentimento livre e esclarecido pelos responsáveis. Excluídos os pacientes que já apresentavam diagnóstico de IH à admissão. A coleta de dados teve início com a admissão hospitalar, através do preenchimento de Protocolo de Pesquisa, passando o paciente a ser acompanhado por todo o período de internação através de visitas diárias realizadas por pesquisadores treinados para a identificação de fatores de risco e episódios de infecção, caracterizando vigilância epidemiológica hospitalar por busca ativa de casos. Após a alta hospitalar, o seguimento do paciente foi continuado por meio de contatos telefônicos em uma primeira etapa e por consultas ambulatoriais, para aqueles com problemas identificados nesta triagem inicial, a fim de que se estabelecesse identificação de casos de infecção manifestados após a saída do hospital.

RESULTADOS:
Foram acompanhados 387 pacientes, sendo 47% de sexo feminino e 34 (8,8%) menores de 1 ano. A média de idade foi de 5,6 ± 4,1 anos. A renda per capita para 260 (72%) crianças foi inferior a ½ salário mínimo. Quanto à duração do internamento, 131 (34%) pacientes estiveram internados por um período maior ou igual a 7 dias. A incidência cumulativa de episódios de IH foi de 23,3%, sendo a densidade de incidência de episódios de IH de 14,1 por 1.000 pacientes-dias (p-d). A incidência de episódios de IH entre pacientes que ficaram internados por 7 dias ou mais foi de 34,7 por 1.000 p-d e a incidência de episódios de IH entre pacientes que ficaram internados por menos de 7 dias foi de 5,8 por 1.000 p-d. Assim, a incidência foi maior (p<0,001) para pacientes com internação mais prolongada quando comparados àqueles que ficaram internados por período inferior a sete dias (Razão de Densidade de Incidência/RDI=6,02; Intervalo de Confiança/IC a 95%=3,82-9,50). Outros fatores risco relacionados a uma alta incidência de IH foram o tratamento clínico (RDI=4,8; 3,09-7,47) e o uso de antibiótico não relacionado a tratamento de infecção hospitalar, mas para profilaxia ou tratamento de infecção comunitária (RDI=3,5; 2,18-5,71).

CONCLUSÕES:
Os resultados encontrados evidenciam a necessidade de se priorizar a menor duração do internamento em unidades de internação de crianças e adolescentes, otimizando tempo e utilizando métodos clínico-laboratoriais que facilitem o alcance mais rápido do diagnóstico e da terapêutica. A população estudada apresentou perfil de Incidência de IH compatível com outros estudos: a faixa etária mais acometida é aquela de crianças menores de 1 ano, coincidente com o período no qual as crianças se apresentam mais susceptíveis. Crianças submetidas a tratamentos clínicos apresentaram taxas de IH mais elevadas do que as submetidas a tratamento cirúrgico, possivelmente, pelas características predominantes dos procedimentos cirúrgicos efetuados no Hospital da Criança, os quais correspondem a internações curtas para tratamentos eletivos em pacientes não portadores de patologias associadas, em sua maioria.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia/FAPESB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  infecção hospitalar, pediatria, fatores de risco

E-mail para contato: emiliamima@yahoo.com.br