60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

BRINCADEIRAS E TELEVISÃO: UM ESTUDO SOBRE A INFLUENCIA DA MÍDIA NA INFÂNCIA

Letícia de Almeida Morelato4
Maria Evelyna Pompeu do Nascimento5, 6, 7

4. Curso de Pedagogia. Faculdade de Educação - Unicamp
5. Profa. Dra/Orientadora
6. Departamento de Políticas, Administração e Sistemas Educativos
7. Faculdade de Educação - Unicamp


INTRODUÇÃO:
A infância não é uma fase natural do desenvolvimento do ser humano, é sim uma construção moldada social, cultural, política e economicamente, que se cria e recria cotidianamente, sempre que transformações mais amplas acontecem na sociedade em determinado momento histórico. Autores como Ariès (1981), Steinberg e Kincheloe, (2001) e Postman (2002) atentam para tais transformações. O objetivo da pesquisa foi examinar as relações que as crianças estabelecem em suas brincadeiras com o conteúdo televisivo que assistem, seja este especificamente ou não destinado à elas, pois sabe-se que as crianças são assíduas expectadoras da TV na pós-modernidade. Considerando o brincar como um elemento de expressão da cultura infantil, busquei detectar os elementos da indústria cultural, especificamente da TV, presentes na cultura que as crianças produzem, a fim de se obter elementos para a analise crítica do momento sócio-histórico vivenciado pela infância. Os objetivos específicos foram: (a)verificar as concepções que meninos e meninas têm sobre produção cultural midiática e sua relação com a produção da cultura pela própria criança, (b) estudar a ação exercida pela televisão, - visto que esta é o meio de comunicação acessível à diversidade das classes sociais -, sobre a criança.

METODOLOGIA:
Definiu-se que os sujeitos desta pesquisa seriam alunos de uma terceira série de uma escola estadual de Ensino Fundamental. A pesquisa empírica foi realizada em três momentos: definição da escola, contatos com a turma escolhida e realização de reuniões com o grupo. Como metodologia investigativa optou-se pelo levantamento de dados através de grupo focal, uma técnica que visa a “fala em debate”, os dados assim obtidos são de natureza essencialmente qualitativa. O tema foi introduzido, para os 28 alunos da turma, a partir da história do livro “No tempo em que a televisão mandava no Carlinhos” de Ruth Rocha (2000), que possui enredo motivador da temática. Após a leitura, propôs-se às crianças que desenhassem suas impressões sobre a história. Foram obtidos 17 desenhos dentre os alunos presentes e realizado posterior sorteio de 6 participantes (divididos entre meninos e meninas). A próxima etapa da pesquisa consistiu em elaborar o roteiro da entrevista, que aconteceu de forma semi-dirigida. As questões que primeiramente nortearam as discussões versavam sobre os tipos de programa e horários, tipos de brincadeiras e se as formulavam com base no que assistiam, etc. Os dois encontros necessários foram gravados em vídeo. Deu-se voz às crianças para estudo de suas próprias realidades.

RESULTADOS:
Os dados obtidos pelos desenhos e nos grupos focais nos permitem verificar pontos de convergência e divergência. Nos desenhos, a TV dividia espaço na estante com o DVD, vídeo cassete e aparelho de som, o que foi confirmado na conversa onde os participantes afirmaram possuir e fazer uso destes aparelhos eletrônicos. A antena sobre a TV, um aparato do séc. XX, aparece quase que na totalidade dos desenhos, que retratam TVs com telas de enormes polegadas. Duas crianças afirmaram possuir TVs de LDC, o que conflita com o desenhado. Todos os sujeitos fazem referencia aos programas da TV aberta. Apenas uma criança afirmou não ter TV em seu quarto; enquanto que em apenas um desenho ela aparece no quarto. Embora a TV esteja localizada nas salas das moradias, ela não favorece a socialização entre os membros das famílias dos entrevistados, apenas em um terço dos desenhos aparecem expectadores acompanhados. Um garoto afirmou ficar sozinho até às 20 h, pois os adultos estão trabalhando e nenhum entrevistado conversa em casa sobre o conteúdo da TV. Programas para adultos apareceram como favoritos nas falas das crianças e nenhuma delas afirmou o “faz-de-conta” baseado no que a TV mostra. As crianças afirmam que gostariam de se parecer com os personagens e possuir os produtos anunciados pela TV.

CONCLUSÕES:
Nosso estudo revela que há uma sofisticada relação entre o que a TV apresenta e as brincadeiras da atualidade. Pôde-se perceber que a TV tem influenciado o lúdico das crianças, não de um modo em que os elementos sejam diretamente apropriados por elas e reproduzidos em seu cotidiano, mas sim está formando cada vez mais cedo suas mentes para o consumo, sendo esta, a consumidora, a criança que a mídia quer, já com vistas nos adultos consumidores que elas serão. Deste modo, as brincadeiras do século XXI são apresentadas pelas propagandas que ditam como se deve ser criança na sociedade pós-moderna, adquirindo formas de diversão, mais, desejando-as. Para brincar do que aparece na TV as crianças necessitam mais do que elas mesmas e suas imaginações. Precisam dos artefatos culturais pensados pelas empresas corporativas, como jogos eletrônicos, vídeo-game, computador e Internet. As crianças deste estudo mostram características da pós-modernidade (cf. Postman, 2002): brincam pelo computador, não dependendo da interação imediata com seus pares (esta pode ser realizada on-line) e sabem os “segredos” do mundo adulto. Assim, a brincadeira é a que forma o consumidor e não a que libera as crianças para pensarem, construírem, imaginarem, enfim para brincarem simplesmente pelo prazer de brincar.

Instituição de fomento: CNPq/PIBIC

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Infância, Televisão, Brincadeiras

E-mail para contato: leal.m@hotmail.com