60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

EXPRESSÕES DE TEMPO E TRABALHO: UM ENFOQUE NA QUESTÃO DO LAZER DOS DOCENTES UNIVERSITÁRIOS

Samuel Gonçalves Pinto1
Karla Maria Damiano Teixeira1
Eveline Torres Pereira2
Magnus Francisco dos Santos3
Daniela Gomes Rosado2
Marie Luce Tavares2

1. Universidade Federal de Viçosa/Departamento de Economia Doméstica
2. Universidade Federal de Viçosa/Departamento de Educação Física
3. Universidade Federal de Viçosa/Departamento de Economia


INTRODUÇÃO:
A convivência com outros e o êxito social do indivíduo, dependem do desenvolvimento de “couraças” psicológicas seguras, que impedem manifestações espontâneas de desejos e sentimentos e, ao mesmo tempo, dependem da possibilidade que o indivíduo tem de encontrar espaços e oportunidades socialmente adequados para liberar as tensões provocadas por este esforço de auto-contenção. O contexto laboral está passando por um processo de mudanças constantes, fazendo com que se questione se o trabalho está perdendo sua centralidade para dar lugar a uma civilização do lazer ou do ócio. O tempo livre, ou seja, o tempo liberado do trabalho, foi uma conquista moderna das lutas sindicais, da revolução tecnológica do trabalho e da pressão de diversos setores da sociedade (Werneck, 2002). Portanto, o lazer parece ser entendido como “válvula de escape” para as tensões do cotidiano, onde sua prática insere-se em oposição ao universo das obrigações, onde sentimentos como o prazer e a descontração só podem ser buscados no lazer, sendo o mesmo tratado como uma esfera estanque. Dessa forma, neutralizamos os campos de atuação dos indivíduos e damos oportunidade para que a indústria do consumo restrinja escolhas, denote preferências, reduzindo as possibilidades humanas. O objetivo do estudo foi de perceber a questão do lazer no cotidiano dos professores da Universidade Federal de Viçosa, paralela ao trabalho e a dinâmica da família.

METODOLOGIA:
Fizeram parte da amostra do estudo 265 professores da Universidade Federal de Viçosa, das diversas áreas do conhecimento. Diante do problema de pesquisa proposto e dos objetivos traçados, esta pesquisa de caráter descritivo-explicativo, utilizou do survey interseccional (cross-sectional). O instrumento a ser utilizado para a coleta de dados foi o questionário semi-estruturado. Os dados quantitativos foram tabulados e analisados em termos de média, freqüência e correlação entre as variáveis, sendo utilizado o Statiscal Package for Social Sciences (SPSS). Os dados qualitativos foram analisados com a utilização do MaxQda, para fim de tabulação e organização dos dados fornecidos pelo instrumento de coleta, relacionado as categorias existentes com a literatura em questão.

RESULTADOS:
Ao relacionar Lazer e Trabalho, (64,8%) dos professores acreditam não existir a relação, enquanto (31,8%) acreditam na existência da relação e (3,4%) acreditam que a relação se estabelece em alguns momentos. Ao relacionar Lazer e Família, (31,6%) dos professores acreditam não existir a relação, enquanto (62,8%) estabelecem essa relação e (5,6%) acreditam que a relação se estabelece em alguns momentos. No que se refere às circunstâncias das relações estabelecidas entre família e lazer, temos que (48,2%), assumem que nos momentos de lazer envolvimentos por maior quantidade de tempo com a família são priorizados. As obrigações familiares para (18,6%) dos professores é fato delimitante para que haja relações entre práticas de lazer e família. A questão de diversificar ou não os momentos de lazer está intimamente ligada à multiplicidade de conteúdos e percepções que envolvem e dão consistência as vivências de tempo livre, ou seja, o adentrar ao mundo da cultura, envolve uma gama de possibilidades lúdicas. Podemos perceber que os professores que não buscam diversificar suas atividades de lazer, justificam essa atitude em sua maioria (43%) por custume, (16,6%) por faltas de opções na cidade, (15,8%) por indisponibilidade de tempo, (14,2%) porque existe prazer nas atividades desenvolvidas, (6,8%) acreditam que é mais prático fazer sempre as mesmas coisas e (3,6%) julgam não ter recursos suficientes para buscar novas opções.

CONCLUSÕES:
Para os professores o tempo parece constituir elemento imprescindível na coordenação e integração das relações sociais atuais, visto que o número de atividades a serem sincronizadas na modernidade é maior e em redes cada vez mais complexas. Por causa da maior dependência das medidas temporais, ocorre uma ênfase excessiva na temporalidade e a sensação que se tem é de escassez do tempo. Com os momentos de lazer, presentes e constituintes da dinâmica cultural, os personagens envolvidos, homens e mulheres dotados de seus valores, crenças e ideais, tecem relações de sociabilidade, ou seja, as possibilidades de interações no/com o meio, permitem ressignificações constantes e interferências diversas no cotidiano dos indivíduos, no espaço e na questão do tempo. Dessa forma o corpo pode ser modificado, aperfeiçoado, e suas necessidades, produzidas e organizadas de diferentes maneiras. Ele é maleável, flexível, formado por diversos hábitos, valores e práticas, estando, portanto, inscrito na história. É por não ser um dado natural, que as técnicas de poder investem sobre sua materialidade e forças (Almeida, 2001). Esse corpo se transforma, construindo e ressignificando percepções e idéias. Sofre influências ao passo que desenvolve mecanismos de resistência face à lógica apresentada na sociedade, homens e mulheres revelam sua identidade, sujeitas a fragmentações, constituindo novas formas e contornos diferenciados.



Palavras-chave:  Lazer, Tempo, Trabalho

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