60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre

COMPARAÇÃO DE HOSPEDEIRAS NA GERMINAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA DE PLÂNTULAS DA PARASITA STRUTHANTHUS FLEXICAULIS (LORANTHACEAE) EM CAMPOS FERRUGINOSOS DE ALTITUDE, MG.

Izabela Márcia Coelho de Abreu1
Fabiana Alves Mourão1
Claudia Maria Jacobi1

1. Universidade Federal de Minas Gerais


INTRODUÇÃO:
As plantas da família Loranthaceae são hemiparasitas porque realizam fotossíntese apesar de utilizarem o xilema da planta hospedeira. São conhecidas como “ervas-de-passarinho” devido a sua dependência da dispersão realizada por aves. Struthanthus flexicaulis, muito comum nos cerrados do Brasil central, é considerada uma parasita generalista. Parasitas generalistas infectam várias espécies de hospedeiras e apresentam certa preferência por algumas delas em detrimento de outras. A utilização diferencial das hospedeiras por plantas parasitas pode ser explicada por três fatores: i) comportamento das aves que dispersam seus frutos e os depositam preferencialmente em uma ou mais hospedeiras em detrimento de outras; ii) sucesso diferenciado para estabelecimento de plântulas e iii) potencial diferenciado para persistência de adultos. Tendo em vista que S. flexicaulis é uma parasita de comportamento generalista, foi avaliado se existe alguma especificidade entre ela e suas hospedeiras. Para este fim, foi desenvolvido um experimento que simula a deposição de sementes pela ave em igual freqüência em Lychnophora pinaster, Mimosa calodendron, Stachytarpheta glabra e Vellozia compacta, dando chances iguais para que a parasita se desenvolva sobre elas.

METODOLOGIA:
Os experimentos foram realizados nos campos ferruginosos do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, onde tem sido notada recentemente a expansão da população de S. flexicaulis e utilizada como objeto de estudo. O Parque está situado na região metropolitana de Belo Horizonte, região rica em campos rupestres ferruginosos e campos de altitude, que sofre grandes pressões devido à intensa urbanização e atividade mineradora em seu entorno. Foram selecionados 10 indivíduos de cada uma das 4 espécies de hospedeira, nos quais foram escolhidos 5 galhos com diâmetro entre 0,4 e 1,2 cm. Em cada galho foram colocadas 5 sementes, totalizando 250 sementes por espécie e 1000 sementes em todo o experimento. A permanência e germinação de sementes bem como o crescimento das plântulas foram acompanhados após 1, 2, 7, 16, 21, 27, 42, 58, 72, 90, 117, 143 e 183 dias da fixação das sementes. Foi notável a ocorrência de predação de sementes ao longo do período observado. Por essa razão, as sementes que apareceram nitidamente danificadas foram registradas.

RESULTADOS:
Adesão: Aos 16 dias, mais de 50% das sementes depositadas em L. pinaster e V. compacta havia se perdido, enquanto que M. calodendron e S. glabra ainda apresentavam cerca de 60% das sementes iniciais. A análise estatística revelou diferenças entre as espécies (ANOVA RM, F= 6,14; p= 0,00174). Germinação: A maior ocorrência de germinações se deu no segundo dia de observação, com valores variando entre 14% para V. compacta e 26% para M. calodendron. A análise estatística evidenciou diferenças entre as espécies de hospedeiras (ANOVA RM, F= 4,7129; p= 0,0071). Após o pico de germinações ocorrido no segundo dia, esses valores tenderam a diminuir, demonstrando que, apesar de muitas sementes serem viáveis e germinarem com sucesso, a mortalidade é alta, provavelmente devido às condições extremas de temperatura e umidade do local. Crescimento: O número de plântulas sobreviventes em S. glabra foi maior que em M. calodendron. Entretanto, as maiores médias de tamanho registradas foram para plântulas de M. calodendron, o que pode indicar maior compatibilidade entre S. flexicaulis e esta hospedeira. Predação: Até o final do experimento, cerca de 50% das sementes foram predadas, mas não houve diferença significativa entre as espécies.

CONCLUSÕES:
As diferenças na adesão de sementes podem ser atribuídas ao grau de rugosidade do galho. Galhos mais rugosos podem facilitar a adesão de uma semente, ao contrário dos mais lisos que perderiam as sementes aderidas com maior facilidade. Entretanto, L. pinaster, que aparentemente apresenta os galhos mais rugosos, não se destacou entre as outras espécies por manter mais sementes aderidas. A germinação de ervas-de-passarinho é menos influenciada pelo substrato, que seria o galho da espécie hospedeira, do que por condições ambientais como água, temperatura e intensidade luminosa. Dessa forma, a mortalidade de plântulas em hospedeiras que deixam seus galhos mais expostos ao vento e à radiação solar pode ser maior devido ao dessecamento. Apesar da germinação de S. flexicaulis ser tipicamente alta, o estágio em que ocorre formação do apressório é decisivo, pois este é sensível à hospedeira. Neste estudo, duas hospedeiras (Mimosa calodendron e S. glabra), apresentaram os melhores desempenhos. Entretanto, o alto grau de parasitismo em M. calodendron, observado em condições naturais, pode estar relacionado ao comportamento da ave na escolha por poleiros.

Instituição de fomento: FAPEMIG

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Struthanthus flexicaulis, erva-de-passarinho, Loranthacea

E-mail para contato: imcabreu@yahoo.com