60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia

NIILISMO EM NIETSCHE E HEIDEGGER

Debora Pazetto Ferreira1
Luiz Alberto Hebeche1

1. UFSC


INTRODUÇÃO:
O objetivo do projeto de pesquisa é estudar o conceito de niilismo na obra do filósofo Friedrich Nietzsche, na obra de Martin Heidegger e, principalmente, na interpretação que Heidegger faz do conceito de niilismo em Nietzsche, em seu livro Nietzsche e em outros artigos que abordam o mesmo tema. Assim, realiza-se primeiramente uma abordagem do conceito de niilismo na obra de Nietzsche, mostrando as três formas de niilismo aí apresentadas, a saber, o niilismo cristão, o niilismo científico e o niilismo ativo. Em seguida, aborda-se a interpretação que Heidegger faz do mesmo conceito em Nietzsche. Compreendendo-o a partir da noção de vontade de poder, Heidegger interpreta o niilismo em Nietzsche como a dinâmica dos valores, isto é, como o modo pelo qual o Ocidente se institui politicamente, religiosamente, artisticamente, etc., através dos valores. O passo seguinte é mostrar como Heidegger se apropria do conceito de niilismo, realizando nele uma modificação fundamental. Ele compreende o niilismo de modo histórico, mas a partir da história do ser: niilismo é um passo fundamental da história do ser, é o esquecimento do ser, a sobreposição do ente ao ser, que é cooriginária à própria metafísica.

METODOLOGIA:
O material utilizado na pesquisa consiste na bibliografia apresentada no final do relatório, na qual é possível destacar os artigos de Martin Heidegger A Essência do Niilismo e A sentença nietzschiana “Deus está morto” , bem como o livro Nietzsche, do mesmo autor. O método utilizado na pesquisa é a análise bibliográfica dos textos referentes ao tema abordado. Além disso, faz-se uso do método fenomenológico, elaborado por Husserl e utilizado pelo próprio Heidegger, seu discípulo, e do método hermenêutico. O método fenomenológico-hermenêutico, no que diz respeito à análise de textos filosóficos, exige que não se interprete um texto através de conceitos e opiniões prévias, buscando apenas confirmar no texto aquilo que já se concebeu previamente. O método exige que se parta do próprio texto, tal como ele se mostra em si mesmo, e se elabore os conceitos a partir daí, levando em consideração as diferenças históricas e lingüísticas.

RESULTADOS:
A parte mais essencial do pensamento de Nietzsche é, conforme Heidegger, expressa por cinco termos capitais: “eterno retorno”, “transvaloração de todos os valores”, “super-homem”, “vontade de potência” e “niilismo”. Nihilismus vem do latim nihil, “nada”, significando literalmente “nadismo”. O termo adquiriu vários sentidos na história da metafísica, significando, em geral, a rejeição da tradição, da autoridade e da moralidade. Essa denotação é compatível com Nietzsche, no entanto, ele atribui um significado mais específico ao termo. O niilismo é caracterizado por Nietzsche como “a morte de Deus”, mas com isso Nietzsche não faz uma afirmação objetiva acerca de Deus: o Deus cuja morte é enunciada por Nietzsche é o Deus da metafísica, é o próprio supra-sensível platônico-cristão. Ou seja, o supra-sensível morreu enquanto eixo em torno do qual a existência humana girava. Conforme Heidegger, o niilismo diz respeito ao ser e ao ente em sua totalidade, logo, deve ser tratado no contexto do lugar onde estes são pensados, a saber, na metafísica. Por esse motivo, Heidegger faz uma investigação do núcleo da metafísica nietzschiana, que, conforme sua interpretação, se condensa no conceito de vontade de poder. Vontade de poder é, conforme Heidegger, a essência da totalidade dos entes na metafísica nietzschiana. A arte, o estado, a moral, a religião são modos de pôr ordem da vontade de poder. São valores impostos pela mesma.

CONCLUSÕES:
Nietzsche afirma que o niilismo é a queda de todos os valores, é a desvalorização dos valores supremos. Entretanto, Heidegger afirma que a desvalorização não esgota a essência do niilismo. O niilismo é antes a dinâmica, o princípio da metafísica ocidental, da qual a desvalorização dos valores é somente uma parte. O niilismo é a criação de valores, a desvalorização destes e a criação de novos, e assim sucessivamente. Niilismo nomeia tanto a desvalorização quanto o contramovimento valorativo que lhe é intimamente ligado. Em outras palavras, niilismo é a dinâmica pela qual o ocidente se institui metafisicamente, politicamente, artisticamente, cientificamente através da valoração. Niilismo é a história dos valores no ocidente. Essa é a interpretação de Heidegger quanto ao conceito de niilismo em Nietzsche. Entretanto, Heidegger afirma que Nietzsche ainda não pôde pensar a essência do niilismo. Nesse ponto, Heidegger abandona a posição de intérprete de Nietzsche para mostrar o que ele mesmo entende por niilismo. Conforme Heidegger, niilismo é pôr no lugar do ser algo que é nada de ser; é pôr no lugar de ser algo que é do ente. Assim, estabelecer a vontade de poder, a valoração no lugar do ser é niilismo. A diferença fundamental entre as concepções de niilismo dos dois filósofos em questão é: o nihil do niilismo de Nietzsche é o “nada de valores” enquanto o nihil da essência do niilismo de Heidegger é o “nada de ser”, é o nada acontecer com o ser.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq - BIP UFSC

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  FENOMENOLOGIA, NIILISMO, METAFÍSICA

E-mail para contato: deborapazetto@gmail.com