60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

ESTUDO DE EFEITO DE TREINO DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NAS HABILIDADES DE LEITURA E ESCRITA EM CRIANÇAS COM DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO

Darlene Godoy de Oliveira1
Elizeu Coutinho de Macedo2

1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCBS (IC)
2. Prof. Dr. - Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCBS (Orientador)


INTRODUÇÃO:
O debate entre os diferentes métodos de alfabetização, que ocasionou modificações nos Parâmetros Curriculares Nacionais, apontou para a necessidade de evidências científicas que legitimem a adoção do modelo de alfabetização no Brasil. Neste debate, o método global e o método fônico têm se destacado. O método fônico desenvolve habilidades de consciência fonológica e ensina correspondências grafofonêmicas para que crianças adquiram leitura e escrita competentes. O método baseia-se na constatação experimental de que crianças com dificuldades na leitura e com dislexia têm dificuldade em discriminar, segmentar e manipular, de forma consciente, os sons da fala. A dislexia é um transtorno de leitura e escrita que aparece em até 17% de crianças e em 67% dos casos, a criança apresenta dificuldades na decodificação grafofonêmica e na leitura. A leitura das crianças disléxicas é lenta e penosa, pois cometem erros de inversões de letras e sílabas, confusões auditivas, confusões de letras por similaridade visual, omissões e acréscimos de letras, sílabas ou sons. O presente trabalho objetivou estudar o efeito do treino de consciência fonológica e de correspondências grafofonêmicas do português em crianças com dislexia do desenvolvimento através do programa Alfabetização Fônica Computadorizada.

METODOLOGIA:
Foram feitas avaliações antes e após a intervenção através da Prova de Consciência Fonológica e de uma bateria de testes de avaliação de leitura e escrita computadorizada (BALE on-line), composta pelos seguintes testes: Nomeação de Figuras por Escolha (Tenofep), Competência de Leitura de Sentenças (TCSE), Compreensão de Sentenças Faladas (TCSF), Nomeação de Figuras por Escrita (Tenofe) e Competência de Leitura Silenciosa de Palavras (Tecolesi). A intervenção foi feita individualmente e cada criança realizou duas vezes as atividades do software. As atividades computadorizadas eram apresentadas de maneira lúdica, com exercícios de consciência fonológica (rima, aliteração, adição e subtração silábica, adição e subtração fonêmica, inversão silábica e fonêmica) e introdução sistemática das letras do alfabeto, com atividades de leitura e segmentação de palavras. A amostra do estudo foi composta de 14 sujeitos com idade média de 11,07 anos, sendo 10 meninos. As crianças foram selecionadas entre a população avaliada e diagnosticada no Laboratório de Distúrbios de Desenvolvimento da UPM e pelo Centro Paulista de Neuropsicologia da UNIFESP. Os responsáveis pelos sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética da UPM.

RESULTADOS:
Testes t de medidas repetidas permitiram comparar os resultados obtidos na pré e pós-intervenção. Houve aumento significativo do número de acertos em todas as provas, exceto para o Tecolesi. No Tenofep o tempo de execução diminuiu, mas esta diferença não foi estatisticamente significante. No TCSE houve aumento não significativo no tempo para execução e aumento significativo de acertos. Este dado é considerado um efeito de regularidade na leitura promovido pela intervenção. Além disso, a leitura de sentenças envolve maior complexidade cognitiva, exigindo do leitor habilidades de reconhecimento visual e decodificação de palavras, bom vocabulário e boa habilidade de análise sintática e síntese semântica. O tempo de execução no Tenofe diminuiu após a intervenção e houve aumento no número de acertos, demonstrando que os sistemas cognitivos envolvidos na leitura interferem diretamente na aquisição da escrita, pois, para escrever, é necessário acessar a representação fonológica das palavras, bem como isolar fonemas individuais e mapeá-los nas letras correspondentes. No Tecolesi não foram observadas diferenças significativas, mas os resultados pós-intervenção mostraram aumento de acertos na leitura de palavras corretas regulares, corretas irregulares, pseudohomófonas e com troca visual.

CONCLUSÕES:
As análises do nível de leitura e escrita obtidas na pré e pós-avaliação a partir dos resultados da BALE computadorizada, bem como na prova de Consciência Fonológica, indicam melhora significativa do desempenho na maioria das provas aplicadas. Portanto, a utilização do “Programa Alfabetização Fônica Computadorizada”, como maneira de estimular as habilidades metafonológicas e correspondências grafema-fonema, trouxe efeitos positivos nas habilidades de leitura e escrita de crianças com dislexia do desenvolvimento. Corroborando diversos estudos da literatura nacional e estrangeira, o presente estudo aponta para a importância dos procedimentos de estimulação em consciência fonológica e correspondências grafema-fonema para aquisição da leitura e escrita em crianças com dislexia. Neste panorama, o Método Fônico é uma ferramenta de relevância prática para os profissionais que trabalham com estas crianças. Além disso, é necessário dar prosseguimento aos estudos de intervenção fônica para a realização de análises mais apuradas a respeito dos alcances e limites deste procedimento.

Instituição de fomento: PIBIC Mackenzie

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  dislexia, leitura, Método Fônico

E-mail para contato: darlenegodoy@gmail.com