60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento

ANÁLISE DOS MOVIMENTOS OCULARES NA ROTAÇÃO MENTAL

João Roberto de Souza Silva1
Elizeu Coutinho de Macedo2

1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCBS (IC)
2. Prof. Dr. - Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCBS (Orientador)


INTRODUÇÃO:
Ao longo dos últimos 20 anos pesquisadores defendem a importância do estudo dos movimentos oculares para a investigação dos aspectos cognitivos. Entre as funções cognitivas, a habilidade visuo-espacial é uma das mais requeridas em atividades diárias, pois ela é necessária para a execução de tarefas simples como: cópia de desenhos, montagem de objetos, comparar e discriminar padrões ou faces. Por meio da análise da direção e fixação dos olhos é possível fazer inferências a respeito da estratégia cognitiva utilizada em tarefas como a de rotação mental. Sherpard e Metzler no ano de 1971 no clássico experimento de rotação mental pediram aos seus colaboradores para observarem pares de figuras bidimensionais, as quais mostravam formas geométricas tridimensionais. Essas figuras sofriam rotação e os colaboradores tinham que compará-las e dizer se os pares eram idênticos ou não. O presente trabalho teve como objetivo analisar os movimentos oculares em tarefas de rotação mental de universitários não treinados para a tarefa, com a finalidade de identificar a existência de padrões, e explorar a estratégia utilizada, tentando evidenciar a divisão desta tarefa.

METODOLOGIA:
Participaram do estudo 44 universitários sendo 20 homens, 13 são destros e 7 são sinistros; 24 mulheres, 14 são destras e 10 são sinistras. A apresentação dos estímulos e registro do padrão dos movimentos oculares foi feita no Tobii® 1750. Foram apresentadas 64 telas, em uma seqüência aleatória, contendo figuras de pares de mãos rotacionados (20, 60, 100 e 140 graus), sendo 32 pares de mãos esquerda - esquerda e 32 pares de mãos esquerda - direita. A figura da mão esquerda ficava fixa do lado esquerdo da tela e a figura do lado direito ficava rotacionada e/ou invertida. A tarefa do sujeito consistia em dizer se os desenhos da mão eram ou não idênticos. As instruções foram dadas de forma oral. Ao colaborador foi dito que ele veria um par de mãos na tela e que ele devia comparar as duas figuras e dizer se os pares eram idênticos (esquerda - esquerda) ou se eram diferentes (esquerda - direita) o mais rápido possível, a resposta era anotada em uma folha de respostas pelo examinador. Depois que a resposta era dada o examinador mudava a tela. Após o entendimento da tarefa o colaborador ficava em frente o equipamento e lhe era solicitado para não mexer a cabeça, para que o equipamento fosse calibrado para os olhos do colaborador e iniciava-se o experimento sem a realização de treino.

RESULTADOS:
O número médio de fixações do lado esquerdo foi sempre menor que a do lado direito, sendo que as curvas apresentaram maior taxa de declínio nos 7 primeiros testes, mantendo-se depois com um leve declínio. A média de fixações do lado esquerdo tendeu a zero, enquanto que do lado direito foi de 4 fixações. O resultado indica a formação de learning-set, uma predisposição a aprender a partir de experiências anteriores. A explicação é dada em função da formação de uma representação mnêmica da figura do lado esquerdo, pois esta era usada como referência para a comparação da rotação. Quanto ao padrão de comparação, observa-se que as fixações no desenho do lado esquerdo concentraram-se na região do polegar. Inicialmente o sujeito identifica o segmento do objeto e procura pelo segmento correspondente no outro, isso foi constatado pelas alternâncias no dedo polegar. A análise dos traçados indica que o individuo rotaciona um dos segmentos, o mantêm na memória de trabalho, e o compara com o mesmo segmento do outro objeto. Este processo não é somente composto pela transformação do segmento, mas pela busca de um segmento a ser rotacionado e sua confirmação. O número de fixações variou em função da diferença de angulação (p=0.003), sendo maior nos pares que havia grande diferença de angulação.

CONCLUSÕES:
Todos os sujeitos apresentaram padrões similares de comparação das duas figuras, sendo que todos os sujeitos dirigiram o olhar preferencialmente para a região do polegar. A estratégia utilizada envolveu a formação do esboço de desenho visuo-espacial com a memorização da figura de referência (mão do lado esquerdo). O efeito de angulação foi observado para o número de fixações, indicando ser esta também mais uma variável para análise do efeito de rotação mental. Não foram observadas diferenças significativas para o número de fixação para as demais variáveis analisadas: posição da figura (mão de comparação na posição normal versus mão de comparação na posição invertida); sexo (homens versus mulheres); lateralidade (destros versus sinistros); configuração (4 tipos diferentes de representação das mão). Das ausências de diferenças não observadas chama a atenção o fato de homens e mulheres terem um desempenho semelhante neste tipo de prova. Estes resultados podem ser explicados por dois fatos: viés de amostra, já que todos os participantes eram estudantes do curso de psicologia; grau de complexidade da tarefa, já que a tarefa era relativamente simples, com dificuldade baixa e podendo ser realizada com poucas comparações entre as figuras.

Instituição de fomento: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  movimentos oculares, rotação mental, Learning-set

E-mail para contato: joaorssil@yahoo.com.br