60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

INFLUÊNCIA DO SÉCULO XII NO NASCIMENTO DA UNIVERSIDADE NO SÉCULO XIII.

MICHELLE CRISTINA IRIE CARRASCO1
TEREZINHA OLIVEIRA2

1. Universidade Estadual de Maringá - UEM
2. Prof. Dr. Orientadora - DFE / UEM


INTRODUÇÃO:
O propósito é verificar a partir de obras do século XII, especialmente as de Chrétien de Troyes e a Da arte de Ler, de Hugo de Saint Victor, o processo de transformação social que influenciou o nascimento das universidades no século XIII ou, ao menos, desenhou suas raízes. A primeira fonte, que se caracteriza como romance cortês, no qual encontramos a exaltação da honra, da bondade, da beleza, da polidez dos costumes e do vestuário fino, explicita uma mudança na forma de ser dos homens que dirigiam aquela sociedade. A segunda, expressa uma preocupação filosófica presente nas escolas vitorinas, explicita a busca de novos conhecimentos e o entendimento das diferentes artes (profissões). Em última instância, a busca da compreensão do que seja o próprio saber. Se faz necessário entender, ao menos em linhas gerais, os acontecimentos históricos que deram origem a eles, uma vez que pensamos os processos educativos sempre vinculados à sua época, ou seja, ao seu contexto histórico. Nessas duas fontes, (uma literária e outra filosófica), encontramos as marcas que possibilitaram o surgimento do grande século medievo e, com ele, uma das maiores e a mais consagrada instituição dedicada ao ensino, a Universidade.

METODOLOGIA:
Para analisar como a literatura (Chrétien de Troyes) e a filosofia (Hugo de Saint-Victor) do século XII expressaram as grandes transformações que a sociedade ocidental estava sofrendo e, ao mesmo tempo, influenciaram o nascimento de uma das principais instituições de ensino do medievo, a Universidade, foi necessário entender os acontecimentos históricos que deram origem as idéias de Hugo de Saint Victor e da literatura de Troyes, uma vez que pensamos os processos educativos sempre vinculados à sua época, ou seja, ao seu contexto histórico.

RESULTADOS:
Ao procurar entender como a literatura dos Romances de Cavalaria de Chrétien de Troyes e a filosofia de Hugo de San Victor em sua obra Da arte de Ler , ambos do século XII, influenciaram o nascimento das Universidades, que ocorrerá no século XIII, além das duas fontes primárias, buscamos autores que contextualizam o movimento social e comportamental do homem medievo no século XII, assim fazemos uma análise histórica. Ao estudarmos sobre o nascimento das comunas no século XII, estamos buscando entender um pouco mais sobre o homem que viveu nesse ambiente. Quando analisamos a filosofia desse período, não podemos deixar de lado o fato de que quem a produziu foi o homem citadino, daí a importância de verificar sobre a criação das comunas do século XII. Estudar as transformações que ocorreram com várias profissões do século XII e como a Igreja se moldou nisso, é de extrema importância para nosso projeto , pois a filosofia que analisamos passou a ser também uma profissão, uma forma de trabalho, quando ensinada a outros. A Igreja e as novas profissões passam a ocupar o mesmo espaço, se adaptando a esse novo tempo, principalmente a Igreja com o mercador. Sendo que a atividade do mercador e voltada para o lucro, se diferenciando do tempo da Igreja que só pertence a Deus. Muitas profissões foram legalizadas no século XII, que antes eram vistas como ilícitas. Esta mudança teve grande influência nos séculos posteriores e no surgimento da universidade no século XIII, pois a partir do momento que ensinar passou a ser uma profissão as portas foram abertas. Os professores passam a se organizar como corporação de ofício e esta organização que propiciará a corporação universitária. Podemos observar que ser intelectual no século XII passou a ser uma profissão, pois a escola foi considerada um local de trabalho. E muitos desses intelectuais foram quem produziram a filosofia, como Hugo de São Victor, que influenciou na educação do homem dessa época. Em Da Arte de Ler, Hugo mostra que os homens do século XII estão principiando por outro caminho, que não somente o da fé. Em virtude das mudanças e necessidades das comunas, não é possível falar só em Deus, é preciso o trabalho, o material, como vestuário e especiarias. O mundo está deixando de ser rural e passando a ser citadino e os homens não se contentam em produzir apenas para a sobrevivência, eles buscam um certo luxo. Os artesãos vão se desenvolvendo, produzindo além daquilo que eles precisam e assim, estimulam o comércio e a arte. Por isso era necessário discutir sobre as artes mecânicas e Hugo faz uma leitura das artes liberais e de todos os trabalhos. Saint-Victor relata as artes liberais e as artes mecânicas.As artes liberais é dirigida àqueles que não cuidam do trabalho físico mas do intelectual, é o mundo do pensamento. O mundo do trabalho é o das artes mecânicas, que passa a ser necessário para a formação da sociedade no século XII. A filosofia para Hugo é a compreensão do universo social e as artes liberais e mecânicas estão ligadas às novas necessidades dos homens: comércio e trabalho. E, juntamente com as profissões, procura também definir o papel do intelecto humano nas ações cotidianas. No que diz respeito aos Romances de Cavalaria, nos séculos VII e VIII são escritos e recitados relatos sobre navegações e contos e, surge o personagem ‘Arthur’, onde os romances do século XII têm sua origem. Mas é certo que os romances do século XII são bem diferentes dos romances antigos, pois esses estavam relacionados ao mito, ao encantamento mágico e Chrétien de Troyes fez diversas alterações dando uma peculiaridade única ao seus escritos pois, o nobre também muda suas relações sociais quando a vida é modificada na urbis. O personagem do cavaleiro é sempre descrito com características muito próximas à perfeição, era natural que fosse assim, pois se tratava de criar novas formas de agir socialmente. Essas mudanças teóricas ocorridas no espaço urbano e as transformações comportamentais observadas na corte – com os romances, a preocupação em estabelecer determinados modos de comportamento que condizem com um dado segmento social – fazem parte de uma nova forma de ser do homem do século XII. Quando o homem citadino busca novos conhecimentos e os nobres hábitos mais polidos, novas exigências sociais surgem, possibilitando no século XIII, o nascimento das corporações universitárias.

CONCLUSÕES:
Um primeiro aspecto que observamos reside no fato de que a Universidade e a “Alta” Escolástica são provenientes do amadurecimento das transformações sociais que estavam ocorrendo no Ocidente medieval desde os fins do século XI, perpassando o século XII e atingindo seu ápice no século XIII, conhecido, muito justamente, como o século das corporações de ofício. Consideramos, portanto, a Universidade como uma instituição histórica, produto das relações humanas e filha de seu tempo (OLIVEIRA, 2005, p. 5). As corporações de ofício passam a existir no século XIII pelo fato de que, no século XII várias profissões foram reconhecidas e precisavam ser organizadas, pois antes eram profissões consideradas ilícitas. O intelectual, como qualquer outro artesão, percebe que a vida se realiza neste ambiente agitado de mudanças. Em função destas transformações, torna-se necessário criar um novo ensino, não apenas com novas disciplinas como, por exemplo, a dialética, a física e a ética, como, também, os homens das cidades precisam de novas técnicas científicas e artesanais. Em última instância , o renascimento das cidades “exige” dos homens não só uma nova forma de ensinar, mas que estes precisam, fundamentalmente, aprender. É deste período a famosa frase de Hugo de Saint-Victor: “O exílio do homem é a ignorância; sua pátria a ciência” (Oliveira, 2005, p.12). Hugo de San Victor foi o primeiro autor a falar sobre as artes mecânicas (profissões) porque viu que os homens precisavam saber mais do que simplesmente o trivium e o quadrivium, pois estas sete artes liberais não atendiam todas as necessidades desse novo homem, está surgindo nas cidades a divisão do trabalho, novas profissões e, essas precisam ser discutidas. Com as novas profissões, esses profissionais sentem a necessidade de se organizarem e assim, no século XIII surge as corporações de ofício e os homens do saber também se organizam e sua corporação é a universidade. No entanto, a universidade se parece com as outras corporações na forma como é sistematizada pois, sua finalidade era buscar a compreensão do homem e da natureza e cuidar do desenvolvimento do espírito. Portanto, o surgimento das Universidades no século XIII não é um acontecimento repentino mas, deriva de transformações que vinham acontecendo gradualmente, alterando as relações sociais como um todo. E essas transformações estão relacionadas com as mudanças comportamentais ocorridas com o cavaleiro, relatadas por Chétien de Troyes, que é decorrente do comércio que trouxe a esse homem o consumo do luxo, especiarias, e consumir produtos de alto nível exigia dele comportamentos refinados. E a nova filosofia que inclui as artes mecânicas, que Hugo de San Victor apresenta é proveniente da organização das comunas e do comércio. Portanto, as comunas e o comércio foram fatores preponderantes para as transformações comportamentais e sociais que plantaram a semente para o surgimento das corporações universitárias no século XIII.

Instituição de fomento: UEM/PIBIC/CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Idade Média, transformação social, universidade

E-mail para contato: icmichelle@gmail.com