60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE: RELAÇÃO ENTRE TESTE DE DESEMPENHO ESCOLAR E ELETRENCEFALOGRAMA (DIGITAL E QUANTITATIVO)

Marcela Pupin de Almeida1
Lineu Correa Fonseca2

1. Marcela P. de Almeida - Fac. Medicina - PUC - Aluna da Faculdade de Psicologia
2. Prof. Dr. Lineu C. Fonseca - Fac. Medicina - PUC - Orientador


INTRODUÇÃO:
O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é um dos distúrbios do comportamento mais comuns na infância. Segundo estudos epidemiológicos recentes ocorre em 4 a 12% da população de crianças de 6 a 12 anos de idade. O diagnóstico é baseado nos critérios do DSM IV (1994) e consiste em um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, mais freqüente e grave do que nos indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento. Nas crianças com TDAH, essa desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade podem ocasionar comprometimento do desempenho escolar. O Teste de Desempenho Escolar (TDE) é um instrumento psicométrico que avalia as capacidades fundamentais para o desempenho escolar (escrita, aritmética e leitura). O eletrencefalograma digital (EEGd) - registro da atividade elétrica cerebral – pode trazer subsídios quanto a possíveis lesões ou alterações funcionais e do processo de maturação cerebral. Já o Eletrencefalograma quantitativo (EEGq) permite a quantificação dos dados. Crianças com déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), quando comparadas a crianças normais, exibem várias diferenças na avaliação do EEGq. Porém, ainda há, controvérsias a respeito do valor do EEGd e EEGq na avaliação de crianças com déficit de atenção. O objetivo deste trabalho foi estudar, em crianças com Transtorno de Déficit de atenção, a relação entre o Teste de Desempenho Escolar e aspectos do eletrencefalograma digital e quantitativo.

METODOLOGIA:
Foram incluídos neste estudo 22 escolares (7 a 11 anos de idade) com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, segundo os critérios do DSM-IV-TR (2002), precedentes dos ambulatórios de Psiquiatria da Infância e Adolescência, e de Psicopedagogia da Clínica de Psicologia e que atendiam os critérios de adesão ao estudo: 1. Ausência de história de problemas neurológicos (antecedentes pessoais de crises epilépticas, traumatismo crânio-encefálico com perda de consciência, encefalite, rebaixamento mental, entre outros); 2. Desenvolvimento neuropsicomotor normal; 3. Exame neurológico tradicional normal; 4. Ausência de déficit cognitivo. Foram realizados: Anamnese, Avaliação Psiquiátrica, Child Behavior Checklist 4-18 (CBCL /4-18): Inventário de Comportamentos da infância e Adolescência, Escalas de Conners revisadas – pais e professores; Exame Neurológico Tradicional, Teste de Desempenho Escolar, Escala Wechsler de Inteligência, Eletrencefalograma digital (atividade epileptiforme) e quantitativo (análise de freqüências das faixa delta teta, alfa e beta) . Foi analisada a relação entre os parâmetros do EEGd e do EEGq e os vários resultados do Teste de Desempenho Escolar. No EEGd foi analisada a ocorrência de AE e no EEGq foi analisado o perfil da composição de freqüências levando em conta que o predomínio das freqüências lentas tende a indicar imaturidade cerebral. Foi estudada a correlação entre as variáveis com a utilização de análises estatísticas paramétricas ou não-paramétricas, dependendo da situação em análise.

RESULTADOS:
No EEGd foi registrada atividade epileptiforme, em pequeno número, em duas crianças (9,09%) com TDAH, achado semelhante ao da literatura. No EEGq, a comparação entre grupo de crianças com TDAH e o grupo controle revelou potências relativas e absolutas delta e teta estatisticamente maiores, nas crianças com TDAH. Já as potências relativas alfa 1, e alfa 2 e beta foram maiores no grupo controle. As crianças com TDAH tiveram também menor potência absoluta nas faixas alfa 2 e beta. Nesta pesquisa, o estudo separado de duas faixas dentro da banda alfa (alfa 1 e alfa 2) permitiu maior delimitação das diferenças entre o grupo TDAH e controle. As diferenças não se fazem em alfa 1, mas em alfa 2. Assim a diminuição de alfa 2 e beta representam a redução de elementos que representam maior maturidade do ponto de vista do EEG. No mesmo sentido, o incremento da atividade delta e teta aponta para maior imaturidade nas crianças com TDAH. Observou-se que as crianças com desempenho médio/superior em escrita tinham maior potência relativa alfa 1 e menor potência teta que as crianças com desempenho inferior. Pior desempenho associado a mais atividade teta e menor alfa pode ser interpretado como decorrente de imaturidade cerebral. As alterações foram menos nítidas para os resultados em aritmética talvez porque a exposição a situações favorecedoras ao raciocínio matemático seja mais precoce.

CONCLUSÕES:
Atividade epileptiforme encontrada em pequena proporção das crianças, pode ser um possível fator na gênese do déficit de atenção. O EEGd e o EEGq trazem informações importantes para compreensão de mecanismos biológicos do TDAH. As crianças com TDAH apresentaram maior potência absoluta e relativa delta e teta do que as do grupo controle, o que sugere a existência de aspectos ligados ao número de sinapses e ao sistema de controle neuronal.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  TDAH, Eletrencefalograma, Teste de Desempenho Escolar

E-mail para contato: marcela.almeidaa@yahoo.com.br