60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica

A NARRATIVA COMO ESTRATÉGIA DE PESQUISA EM ESTUDOS SOBRE PRÁTICAS PSICOLÓGICAS CLÍNICAS EM INSTITUIÇÕES

Maísa Tordin Ramos1
Vera Engler Cury2

1. Aluna da Faculdade de Psicologia da PUC-Campinas e bolsista PIBIC de IC
2. Orientadora e líder do grupo de pesquisa institucional


INTRODUÇÃO:
O objetivo desta pesquisa é analisar o uso da narrativa como estratégia de análise dos elementos intersubjetivos que emergem nas relações dialógicas construídas no contexto da pesquisa. Considerando-se um recorte epistemológico de natureza fenomenológica, torna-se significativa a presença do pesquisador não apenas como aquele que pretende questionar a realidade, isentando-se do desenrolar dos fatos, mas essencialmente na função de um participante ativo no contexto das relações interpessoais que, ao gerar o estudo, inserem-se na própria intervenção. O elemento primordial desta concepção de pesquisa como intervenção é a interação que se estabelece entre pesquisador e pesquisado, por meio de um diálogo narrativo que promove transformações, cujos significados transcendem o tema da pesquisa, constituindo-se em verdadeiras reflexões acerca da própria experiência. Portanto, assumir a narrativa como estratégia de pesquisa significa, antes de tudo, adotar como referencial a existência, compreendida na experiência vivida. Pode-se, portanto, pela vida da narrativa, aproximar-se do outro, sem que se perca a existência, a principal característica que o distingue.

METODOLOGIA:
Primeiramente, foi efetuado um levantamento bibliográfico de artigos que conceituam a narrativa, a fim de possibilitar um melhor entendimento sobre esta forma de realizar pesquisa. Posteriormente, a busca bibliográfica passou a enfatizar artigos que retratassem resultados de estudos científicos que adotaram a narrativa como método de pesquisa, para assim ser possível contextualizá-la no cenário da pesquisa atual em psicologia, bem como analisar se a maneira como outros pesquisadores utilizam-se do narrar guarda semelhança com aquela adotada pelo Grupo de Pesquisa institucional “Atenção Psicológica clínica em instituições: prevenção e intervenção”. Análises de dissertações e teses deste grupo foram feitas no sentido de caracterizar a maneira que faz uso da narrativa, apontando suas particularidades e semelhanças em relação a outros pesquisadores.

RESULTADOS:
A narrativa é usada de maneira peculiar pelo grupo de pesquisa “Atenção Psicológica clínica em instituições: prevenção e intervenção”. O princípio comum que une os trabalhos deste grupo é de que a experiência do pesquisador é sempre intencionalmente impregnada pelos significados vividos no desenrolar das práticas psicológicas, sendo envolvida pela teia de intersubjetividade presente. Portanto, a construção de conhecimento nestas pesquisas é eminentemente intersubjetiva, já que provém da interação entre pesquisador e participante e dos significados que surgirem dessa interação. Envolve então, uma perspectiva dialética na qual sujeito e objeto são considerados como fenômenos constituintes de uma totalidade. A narrativa, elaborada pelo próprio pesquisador com foco na sua própria subjetividade, busca traduzir o que houve de mais significativo na experiência deste de estar com outras pessoas. Portanto, não visa descrever detalhadamente cada episódio, mas sim fazer uma análise psicológica dos significados dos elementos intersubjetivos que emergem das relações dialógicas construídas no contexto da pesquisa.

CONCLUSÕES:
A narrativa, ao ser adotada como um modo de construção do conhecimento em pesquisas de cunho fenomenológico, constitui um procedimento rigoroso de interpretação da experiência intersubjetiva gerada a partir de uma relação dialógica entre o pesquisador e os participantes. Por outro lado, permite que a construção do conhecimento constitua-se num modo de intervenção, pela via da interlocução com o leitor, uma vez que a narrativa permite uma abertura continua, na medida em que o que se conta atinge um outro em sua própria subjetividade, em sua maneira peculiar de atribuir significados ao que está sendo narrado. Assim, extrapola a vivência da subjetividade, apontamento elementos para a compreensão do ser humano que transcende o ser humano particular, a partir de denominadores comuns a todos os homens no que tange às vivências da consciência.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  metodologia de pesquisa, pesquisa fenomenológica, práticas psicológicas em Instituições

E-mail para contato: maisatramos@hotmail.com