60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

ASPECTOS DA BIOLOGIA E ECOLOGIA DE MOENKHAUSIAAFF. SANCTAEFILOMENAE(CHARACIFORMES: CHARACIDAE) NA REGIÃO DE INFLUÊNCIA DA FUTURA PCH ALTO SUCURIÚ, RIO SUCURIÚ, MS.

Letícia de Oliveira Manoel2
Cléia Natália Pascoalim Caires2
Maria José Alencar Vilela1

1. Profª Drª - Dept° Ciências Naturais/UFMS Campus Três Lagoas - Orientadora
2. Curso de C. Biológicas UFMS Campus Três Lagoas


INTRODUÇÃO:
O rio Sucuriú nasce na região nordeste do Estado do Mato Grosso do Sul e deságua no rio Paraná em Três Lagoas, MS, percorrendo, nesse trajeto, cerca de 340 km. Por correr em terreno acidentado e rochoso, tem o leito pontuado de corredeiras e cachoeiras, características que o tornam atrativo do ponto de vista energético. Em conseqüência, diversas usinas hidroelétricas têm sido instaladas ao longo do alto curso e em alguns afluentes, sobretudo as PCH’s (Pequena Central Hidroelétrica). Desde outubro de 2005 alguns estudos bioecológicos vêm sendo efetuados na área de influência da PCH Alto Sucuriú, localizada em Paraíso das Águas, MS, incluindo o monitoramento da ictiofauna, com objetivo de levantar informações sobre a composição das ictiocenoses, anteriormente às alterações ambientais decorrentes do represamento. Neste trabalho são apresentados os primeiros resultados sobre a biologia do lambari-olho-de-fogo, Moenkhausia aff. sanctaefilomenae (Steindachner, 1907), uma espécie relativamente freqüente nas amostragens efetuadas até o momento (VILELA e ALMEIDA, 2005). Trata-se de um caracídeo de pequeno porte, de ampla distribuição em rios e riachos de várias bacias brasileiras, incluindo as do Paraná e Paraguai (AGOSTINHO e JÚLIO JR., 1999; BRITTO, 2003; REIS et al., 2003). O estudo inclui análises sobre época e locais de ocorrência, composição em tamanho da população e descrição preliminar de aspectos reprodutivos e alimentares da espécie na região.

METODOLOGIA:
Os dados biológicos foram obtidos em campanhas realizadas entre outubro/2005 e setembro/2006, na área de influência da PCH Alto Sucuriú, alto curso do rio Sucuriú. As coletas foram feitas com rede de arrasto de 20 m de comprimento e peneirão de 1x1 m, ambos com malha de 2,5 mm, trabalhadas em praias arenosas, áreas litorâneas rasas, lagoas marginais, trechos de corredeiras e desembocaduras de riachos. Os exemplares capturados foram colocados em sacos plásticos etiquetados, fixados em formol 10% e analisados em laboratório para medição (comprimento total, em cm) e pesagem, com precisão de 0,1g. A identificação de sexo e estágio de maturação foi feita com auxílio de microscópio estereoscópico para melhor visualização das gônadas, com base em cinco estágios de maturação (ZAVALLA-CAMIN, 2004): Imaturo (A), em maturação (B), maduro (C), desovado (D) e em repouso (E). A relação entre peso e comprimento foi estimada para todos os indivíduos amostrados segundo a equação: W=a.Ltb, onde: W=peso total (g); Lt=comprimento total (cm); a e b = constantes. Os estômagos com conteúdos foram guardados em frascos etiquetados e conservados em formol 10% para posterior análise em laboratório, com base na freqüência de ocorrência dos itens ingeridos. A identificação dos itens foi feita até o menor táxon possível, com apoio de bibliografia pertinente (BORROR e DELONG, 1969; BICUDO e BICUDO, 1970; MENDES, 1982; BARNES, 1984; BICUDO e MENEZES, 2005) e auxílio de professores e especialistas nas áreas de vegetais e insetos.

RESULTADOS:
A espécie foi capturada em trechos rasos, incluindo áreas litorâneas do rio e de lagoas marginais, varjões inundados e desembocaduras de riachos, freqüentemente associada a macrófitas aquáticas, enraizadas ou flutuantes. Em 333 exemplares capturados, o comprimento total variou de 2,7 a 5,3 cm, com média de 3,9 cm; o peso total variou entre 0,2g e 2,06g, com média de 0,79g. A relação peso-comprimento resultou na equação Wt=0,0096 x Lt3,1894 (R2=0,9368). Indivíduos maduros (machos e fêmeas) foram observados nos meses de junho a outubro, indicando uma temporada reprodutiva mais ou menos extensa. Não houve captura de indivíduos da espécie em novembro e março, devido ao grande volume de águas dificultar as amostragens em áreas rasas; não foram realizadas campanhas nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e abril. Segundo GRAÇA e PAVANELLI (2007), Moenkhausia aff. sanctaefilomenae não apresenta cuidados parentais, realiza pequenas migrações e tem a primeira desova por volta de 2,1-2,2 cm. Os itens alimentares encontrados nos conteúdos estomacais incluem algas, restos vegetais, restos de insetos e fragmentos de espículas de esponja. A maior freqüência corresponde às algas (Chlorophyta, 9,2%; Bacillariophyta, 15,5% e Euglenophyta, 10,8%), seguidas por insetos (20,3%), restos vegetais não identificados (19,4%), camarões (7%) e fragmentos de espículas de esponja (8,1%), além de material de origem mineral, que deve resultar da ingestão acidental durante a busca de alimento junto ao substrato.

CONCLUSÕES:
Moenkhausia aff. sanctaefilomenae é uma espécie freqüente nos ambientes marginais rasos e vegetados do Alto rio Sucuriú. Nestes locais, encontra abrigo contra predadores e alimento em abundância, composto predominantemente por insetos e algas, o que permite considerá-la como onívora, com preferência por alimentos de origem vegetal. Indivíduos maduros foram observados a partir de junho até outubro. Com base em dados bibliográficos, os exemplares coletados até o momento compreenderiam indivíduos maduros, aspecto que precisa ser confirmado em estudos futuros. A obtenção de informações, principalmente no período chuvoso, poderia permitir o melhor conhecimento sobre a reprodução da espécie na região. Caso as construções de usinas hidrelétricas ocorram em série, as pequenas lagoas e córregos situados nos varjões, habitats preferenciais da espécie, poderão ser definitivamente inundados, interferindo na distribuição e na manutenção das populações desta e de outras espécies de peixes que utilizam estes ambientes.

Instituição de fomento: ONIX - Geração de Energia S/A

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  ictiofauna, lambari-olho-de-fogo, alimentação.

E-mail para contato: leticia.is@gmail.com