60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano

AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO LEXICAL E VISO-ESPACIAL EM CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL

Pedro Pinheiro-Chagas1, 2, 4
Érica Alves Arantes1, 2, 5
Fernanda Gomes da Mata1, 2, 5
Júlia Beatriz Lopes Silva1, 2, 4
Patrícia Martins de Freitas2, 3
Vitor Geraldi Haase1, 2, 6

1. Departamento de Psicologia, Fafich - UFMG
2. Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento - UFMG
3. Departamento de Psicologia, CCS – UFRB
4. (PIBIC/CNPq)
5. (PROBIC/Fapemig)
6. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
O estudo do desenvolvimento cognitivo infantil é muito importante para as pesquisas em neuropsicologia, bem como para a clínica neuropsicológica, uma vez que a identificação precoce de déficits cognitivos relaciona-se à sua interferência na capacidade de aprendizagem e na necessidade de medidas reeducativas específicas. O objetivo do trabalho foi avaliar o perfil neuropsicológico dos diferentes tipos de paralisia cerebral (PC), no que diz respeito ao processamento lexical e viso-espacial, bem como investigar o desenvolvimento dessas funções em crianças normais. Para tal, foram elaborados instrumentos neuropsicológicos, fundamentados em modelos cognitivos-neuropsicológicos de processamento de informação.

METODOLOGIA:
A amostra foi constituída por 189 crianças, sendo que 137 formaram o grupo CONTROLE, enquanto 31 formaram o grupo PC. O grupo CONTROLE apresentou média de idade de 5,23 anos (dp=1), 49,6% do sexo feminino. As crianças foram recrutadas e avaliadas em escolas públicas e privadas de BH. O grupo PC apresentou média de idade de 6,75 anos (dp= 1,14 anos), 43,8 % do sexo feminino. Os subgrupos foram: [9 crianças com lesão no hemisfério esquerdo (HE), 7 com lesão no hemisfério direito (HD), e 15 (DIPLÉGICOS)]. As crianças foram recrutadas e avaliadas na Associação Mineira de Reabilitação em BH. Os participantes do grupo PC possuíam inteligência normal (Raven). O processamento lexical foi investigado por meio de tarefas que avaliam os níveis fonológico (tarefa de discriminação de fonemas e de rimas), input lexical (tarefa de discriminação lexical), semântico (categorização verbal e pictorial) e output lexical (repetição de palavras e pseudopalavras). O modelo do processamento viso-espacial engloba as vias visuais, dorsal (input, armazenamento, execução) e ventral (fórmulas gráficas ou “léxico construtivo”). Dessa forma, as tarefas avaliaram construção espacial, percepção visual, representação mental, memória espacial, construção tridimensional e cópia de figuras.

RESULTADOS:
Do ponto de vista do grupo CONTROLE, observou-se uma melhora progressiva no desempenho da maioria das tarefas ao longo dos períodos cursados, tendo sido evidenciado um salto no desempenho na passagem do 2º para o 3º período (comparações de grupos dois a dois por meio do teste de Mann-Whitney, usando correção de Bonferroni). As crianças de escolas privadas apresentaram um desempenho superior em todas as tarefas aplicadas, quando comparadas às crianças de escolas públicas. O grupo CONTROLE apresentou resultados superiores aos do grupo PC nos domínios avaliados. As tarefas do processamento lexical discriminaram os subgrupos de PC, sendo que o HE apresentou desempenho inferior (d’s>0,8). As tarefas do processamento viso-espacial não discriminaram HE de HD. Crianças do subgrupo HE apresentaram um déficit mais específico nas habilidades semânticas e lexicais. Os subgrupos RH e DIPLÉGICOS não apresentaram um padrão deficitário específico. A dificuldade de discriminação entre HE e HD, no processamento viso-espacial, pode estar relacionada a processos de neuroplasticiadade, priorizando as funções lingüísticas. Todas as tarefas apresentaram consistência interna superior a α=0,7 (maioria α>0,8), com exceção da tarefa de Construções Tridimensionais (com α=0,68).

CONCLUSÕES:
As tarefas utilizadas foram revestidas de caráter lúdico e mostraram-se eficazes para avaliar os domínios investigados. Foi possível identificar um efeito do desenvolvimento e do tipo de escola para as crianças do grupo CONTROLE. Com relação ao perfil neuropsicológico da PC, os instrumentos foram capazes de elucidar questões relacionadas ao desenvolvimento cognitivo dos diferentes subgrupos investigados, sendo o HE o que apresentou um padrão deficitário mais consistente, caracterizado por dificuldades nas habilidades do processamento lexical. Adicionalmente tais instrumentos possuem utilidade na clínica neuropsicológica, no que se refere ao diagnóstico e reabilitação. Para essas questões, entretanto, serão necessários estudos posteriores.

Instituição de fomento: CNPq e Fapemig

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  perfil neuropsicológico, paralisia cerebral, processamento lexical e visoespacial

E-mail para contato: pedropchagas@gmail.com