60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia

MONITORAMENTO DA ANUROFAUNA DE SERRAPILHEIRA NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA LINHA DE TRANSMISSÃO GUARULHOS-ANHANGUERA, NO INTERIOR DO PARQUE ESTADUAL DA CANTAREIRA, SÃO PAULO, SP

Camila da Silva Nunes1
Gláucia Cortez Ramos de Paula1
Victor Gregorato1
Frederico Alexandre Roccia Dal Pozzo Arzolla1
Francisco Eduardo Silva Pinto Vilela1

1. INSTITUTO FLORESTAL


INTRODUÇÃO:
O Estado de São Paulo apresenta remanescentes florestais que se encontram protegidos sob a forma de Unidades de Conservação. Muitas destas áreas são ainda desconhecidas em relação à composição de espécies de anuros, em especial nas regiões sob o domínio da Mata Atlântica. Na região metropolitana de São Paulo, o Parque Estadual da Cantareira – PEC destaca-se como um dos mais importantes remanescentes florestais e sua anurofauna tem sido recentemente estudada. Muitas espécies de anfíbios mostram especificidades quanto ao seu habitat, tornando-se vulneráveis a alterações ambientais e por isso são utilizados como indicadores de qualidade ambiental. Foi instalado um novo traçado da Linha de Transmissão Guarulhos-Anhanguera no interior do Parque. Este trabalho teve como objetivos caracterizar a anurofauna de serrapilheira na área de influência da Linha de Transmissão, no interior do PEC, em áreas onde houve o corte da vegetação para a instalação de torres de transmissão e em trechos de floresta adjacentes; monitorar os impactos e propor medidas de manejo para mitigar eventuais impactos à anurofauna de serrapilheira nos trechos do Parque cortados pela LT.

METODOLOGIA:
A área de estudo localiza-se no Parque Estadual da Cantareira, no município de São Paulo, em sites da Linha de Transmissão Guarulhos-Anhanguera da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista – CTEEP, onde estão instaladas torres de transmissão. A linha de transmissão antiga foi desativada e removida do interior do Parque Estadual da Cantareira em junho de 2006. No novo traçado da LT Guarulhos-Anhanguera, diversas áreas foram submetidas ao corte da vegetação, para a instalação de torres de transmissão. A metodologia empregada foi a busca ativa nas áreas das bases e trechos de floresta adjacentes à essas bases das torres de transmissão. O sistema de classificação utilizado foi o proposto por Frost et al. A campanha no traçado antigo foi realizada em abril de 2006, no início do período seco. No traçado novo, foram realizadas duas campanhas, a primeira no período de abril e maio de 2006, também no início do período seco, e, a segunda, no período de janeiro de 2007, no período chuvoso. As campanhas tiveram duração de 15, 14 e 14 horas, respectivamente. Foi calculada a abundância relativa das espécies, pela fórmula ARi = 100. ni/N, onde ni é o número de indivíduos da espécie i e N é o número total de indivíduos amostrados.

RESULTADOS:
No levantamento da anurofauna de serrapilheira foram amostradas oito espécies, das quais Brachycephalus nodoterga, “Eleutherodactylus” binotatus, Ischnocnema guentheri, I. parva e Ischnocnema sp. pertencem à família Brachycephalidae; Rhinela ornatta, à família Bufonidae; Proceratophrys boiei, à família Cycloramphidae; e Leptodactylus marmoratus, à família Leptodactylidae. As espécies encontradas são típicas de serrapilheira. As espécies de maior abundância relativa foram Ischnocnema parva e Ischnocnema guentheri nas três campanhas. Na primeira, segunda e terceira campanhas I. parva apresentou abundâncias relativas 56,7%, 70% e 65,5%, com 93, 117 e 169 indivíduos, e I. guentheri, 38,4%, 25,8% e 19,4%, com 63, 43 e 50 indivíduos, respectivamente. Foi encontrada uma abundância de indivíduos 54,5% maior no período chuvoso, com 258 indivíduos, em relação ao período seco, com 164 e 167 indivíduos. No traçado novo, nas áreas onde foram instaladas as torres, a anurofauna de serrapilheira não foi encontrada, devido à supressão da floresta e conseqüente destruição do habitat para essa comunidade, confirmando a vulnerabilidade dos anfíbios a alterações ambientais.

CONCLUSÕES:
A amostragem com o uso do método de procura ativa apresentou indicativos sobre a composição e abundância relativa da anurofauna de serrapilheira, sendo eficiente para diagnosticar os impactos da supressão da vegetação à comunidade da anurofauna, decorrente da instalação do novo traçado da LT Guarulhos-Anhanguera. Espécies de hábitos noturnos e/ou fossoriais não foram amostradas no presente estudo, muito provavelmente devido ao método empregado. Como medida mitigatória, nas áreas onde houve supressão de vegetação, orientou-se o empreendedor a não proceder ao corte raso das árvores, espalhar os materiais vegetais sobre a área desmatada, revolver e descompactar o solo e manter o solo coberto com serrapilheira, para acelerar o processo de regeneração da floresta e o conseqüente restabelecimento da comunidade de anurofauna de serrapilheira.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  mitigação de impactos ambientais, desmatamento, monitoramento ambiental

E-mail para contato: camili_nunes@hotmail.com