60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 2. Enfermagem de Saúde Pública

GERAÇÃO E GÊNERO NA CONSTITUIÇÃO DE SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE AOS ACIDENTES E VIOLÊNCIAS ENTRE JOVENS DE PORTO ALEGRE

Marcele Peretto1
Marta Cocco2
Marta Julia Marques Lopes3

1. Acad. Enf. EENF/UFRGS – Membro do GESC/UFRGS – BIC/UFRGS
2. Dda. em Enfermagem EENF/UFRGS – Membro do GESC/UFRGS
3. Orientadora: Profa. Dra. DAOP/UFRGS – PPGEnf/UFRGS – Coord. GESC/UFRGS


INTRODUÇÃO:
Este estudo integra um projeto base desenvolvido em parceria pelo Grupo de Estudos em Saúde Coletiva GESC/EENF com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre/RS, que tem como objetivo construir e qualificar um sistema de informações sobre a morbidade relativa aos agravos por Causas Externas (acidentes e violências) e consolidar um Observatório de Causas Externas. Atualmente, constata-se que as Causas Externas vêm sendo alvo de muitas discussões, reflexões e pesquisas por atingirem diferentes gerações e grupos sociais. Desse modo, os eventos de saúde resultantes de violências e de acidentes, presentes no cotidiano das cidades, representam uma das causas de maior morbimortalidade e de procura de atendimento nos serviços de saúde. Na população brasileira, os acidentes e as violências têm ocasionado forte impacto nos indicadores, configurando-se em um problema de saúde pública de grande magnitude e transcendência. Os jovens são particularmente vulneráveis a esses agravos. Este estudo objetivou “conhecer e compreender a morbidade por Causas Externas (acidentes e violências) entre jovens - dos 10 aos 19 anos, considerando a demanda dos serviços de saúde da região Lomba do Pinheiro/Partenon, do município de Porto Alegre, de 2002 a 2005”.

METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo híbrido do tipo ecológico, agregado a uma série temporal com elementos de coleta e análise qualitativa. A população constitui-se de jovens, na faixa etária de 10 a 19 anos, atendidos e registrados nos serviços de saúde como vítimas de agravos por Causas Externas, no período de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2005. Para caracterizar o perfil da morbidade por Causas Externas na demanda específica, utiliza-se o instrumento que registra os atendimentos e alimenta o banco de dados do Observatório. Os dados qualitativos foram coletados mediante técnica de entrevista semi-estruturada, com 23 jovens que se caracterizaram e se constituíram em situações de vulnerabilidade geracional e/ou de gênero para esses agravos. Para análise dos dados quantitativos foi utilizado o software SPSS e para interpretação dos dados discursivos, organiza-se Genograma e Ecomapa (para estabelecer as relações dos jovens no convívio familiar e as relações sociais na comunidade), e opta-se pela análise de conteúdo do tipo temático (MINAYO, 1996). O estudo segue as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, tendo como compromisso oferecer o máximo de benefícios e mínimo de riscos e danos aos sujeitos envolvidos.

RESULTADOS:
Foram registrados 1676 agravos por Causas Externas, destes, 442 foram para jovens. Inicialmente, buscou-se resgatar a identidade desses indivíduos, a fim de evidenciar e visibilizar as situações de vulnerabilidade a que estariam expostos. Com isso, identificou-se predomínio dos agravos entre jovens do sexo masculino (64%). O domicílio configurou-se no principal local das ocorrências (45,9%). Entre as ocorrências mais freqüentes estão os acidentes domésticos, acidentes de esporte e lazer, acidentes com animais, violências interpessoal e sexual. Evidenciou-se que esses jovens são oriundos de famílias de precária inserção socioeconômica - identificada pela renda familiar; pelo baixo nível de escolaridade dos pais; pelas condições de moradia; pela dificuldade de acesso aos bens de consumo e de inserção no mercado de trabalho, bem como, nas evidências de fragilidade das relações sociais - na família e na comunidade. A violência e os acidentes para esse grupo populacional fazem parte do cotidiano (processo de banalização/naturalização), e os jovens estabelecem relação desses eventos com o consumo de álcool e drogas, ao hábito de fumar, dirigir em alta velocidade, às condutas agressivas ou violentas, testando os próprios limites, e a potencialização dessas atitudes quando em grupos.

CONCLUSÕES:
Buscou-se, neste estudo, conhecer e compreender a morbidade por Causas Externas entre jovens, a partir do contexto vivido, considerando-os como sujeitos, inseridos em determinado espaço social e histórico. Assim, as especificidades locais e as relações sociais instituídas na família e na comunidade podem atenuar ou acentuar, em muitos casos, as situações que produzem ou reproduzem as violências e os acidentes nos espaços público e privado. A partir dos resultados apresentados revela-se, portanto, essa população/geração como um grupo vulnerável aos agravos por Causas Externas, considerando, entre outros elementos, as culturas de gênero e a precariedade dos espaços coletivos das relações sociais. Esses achados apontam para a necessidade de ações de saúde intersetoriais dirigidas aos jovens, às famílias, à escola, à comunidade - entre outros espaços de socialização - como resposta às situações de vulnerabilidade que se apresentam nas diferentes dimensões, sejam programáticas, sociais e individuais as quais os jovens encontram expostos.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Causas externas, Adolescentes, Vulnerabilidade

E-mail para contato: marcypc@terra.com.br