60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 3. Sociologia do Desenvolvimento

PROCEDIMENTOS DEMOCRÁTICOS EM ORGANIZAÇÕES DE ECONOMIA SOLIDÁRIA: ALTERNATIVAS DE INCLUSÃO SOCIOECONÔMICA E COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS?

Gabriel de Souza da Rosa1
Noëlle Marie Paule Lechat2

1. Departamento de Ciências Sociais / Unijuí
2. Profª Drª / Orientadora


INTRODUÇÃO:
A Economia Solidária (ES) é formada por diversas atividades econômicas que, mesmo estando inseridas na economia capitalista, não compartilha de suas principais características como a acumulação de capital, a exploração da mão de obra e a indiferença quanto à pobreza e à exclusão social. A valorização do ser humano é a característica central da ES. Em 2005 e 2007, foi aplicado o questionário da SENAES (Secretária Nacional de Economia Solidária), contendo 72 perguntas sobre as características históricas, sociais, econômicas, políticas e culturais, para 373 Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) situados nos COREDES da Região Noroeste do RS: Noroeste Colonial, Fronteira Noroeste, Alto Jacuí e Missões. Os dados obtidos fazem parte do Sistema Nacional de Informação da Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego. Nessa pesquisa pretende-se analisar um conjunto dessas respostas, dando ênfase aos seguintes pontos: identificar as atividades realizadas de forma coletiva pelos associados dos EES, estabelecer o perfil dos EES, levantar os principais produtos ou serviços, as principais matérias-primas utilizadas e sua origem. Tem-se ainda a finalidade de identificar as possíveis formações de cadeias produtivas regionais, e as redes de cooperações a serem estabelecidas para compras conjuntas, troca de experiências e formação.

METODOLOGIA:
Em um primeiro momento trabalhou-se na fundamentação teórica do tema estudado, através da leitura de obras de autores brasileiros e estrangeiros, e fichamento do material bibliográfico. Procurou-se ainda tomar conhecimento dos resultados de pesquisas já publicadas sobre ES no Brasil. Em um segundo momento, estão sendo elaboradas tabelas e gráficos estatísticos juntando os dados coletados em 2005 com os de 2007. Para avaliação das contribuições da ES para a contenção das desigualdades de natureza socioeconômica (distribuição da renda, geração de trabalho, inclusão de inempregáveis), sócio-política (democratização do poder, empoderamento dos sócios) e sócio-cultural (valorização da cultura popular, ruptura de discriminações de gênero, raça, processos educativos e de capacitação) serão analisados dados quantitativos e qualitativos. Nesta etapa, a pesquisa utilizará a técnica da entrevista evidenciando aspectos como idade, origem étnica, nível socioeconômico e formação escolar dos sócios. Buscar-se-á fazer verificação da inserção sócio-econômica anterior a entrada no EES e a atual percepção dessa inserção. Todas as entrevistas serão gravadas desde que o entrevistado assim a permitir por escrito (conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido).

RESULTADOS:
Na pesquisa realizada constatou-se que 53,4% dos EES são grupos informais, 26,3% são associações e 18% são cooperativas. Quanto à localização 49,1% situam-se no meio rural, 23,1% no meio urbano e 26% são rural-urbanos. Predominam, na região noroeste do RS, atividades coletivas de comercialização 45,8%, de produção 37,3% e de uso de maquinas e equipamentos 27,9%. Uma atividade não sendo excludente da outra. A solidariedade e o apoio municipal se refletem no fato que 70,2% dos EES funcionam em espaços cedidos ou emprestados. Apenas 11 EES, 3%, adquirem a matéria-prima ou os insumos utilizados junto a EES. Já 41% deles adquirem junto a associados, 35,5% junto a empresas privadas, 3,3% os recebem como doação, 3% através de coleta (materiais recicláveis ou matéria prima para artesanato), 1,1% adquirem de produtores não sócios, 3,9% de outra fonte, porém essa questão não se aplica a 9,1% dos empreendimentos, uma resposta não excluindo a outra. Dos 373 EES, produzem produtos agropecuários, no caso leite 9,38%, hortofrutícolas 5,3%, carne 1,1%, derivados de produtos agrícolas, cana-de-açúcar 5,1%, produtos coloniais 3,2%, produtos de padaria 10,4%, embutidos 1,8%. Trabalham com artesanato 11,5% e com coleta de resíduos sólidos 3,2%. Prioritariamente 55,5% dos EES realizam venda direta ao consumidor e chegam à Incubadora da UNIJUÍ, inúmeras solicitações de organização de feiras de comercialização.

CONCLUSÕES:
Observa-se claramente através dos dados que, de momento, não há condições para formação de cadeias produtivas, mas sim de redes de cooperação, como no caso do leite e seus derivados, produtos de padaria, artesanato, produtos hortofrutícolas, derivados da cana-de-açúcar e pelo aspecto social com as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis. Além disso, o fato de haver mais de 100 produtos diferentes sendo produzidos pelos EES prova a viabilidade da formação de associações de comercialização, de consumo solidário e da organização de feiras. A maioria dos produtos e serviços, necessários ao mercado local, pode, em tese, provir de EES formando cadeias produtivas e redes de cooperação e como tal pode, futuramente, ser pensado como uma economia alternativa. A fragilidade dos EES se deve à falta de experiência tanto econômica quanto de organização sócio-política dos trabalhadores, por isso a importância das incubadoras universitárias em parceria com entidades públicas e privadas. A Economia Solidária tem pela frente um caminho com muitos obstáculos, mas já esta construindo uma identidade própria e condições de se organizar tanto regional, quanto nacional e internacionalmente, promovendo um desenvolvimento sócio-sustentável. Isso nos impulsiona e motiva a continuar a buscar soluções coletivas para a pobreza e a exclusão social.

Instituição de fomento: FAPERGS

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Economia Solidária, Cadeias Produtivas, Inclusão Sócio-econômica

E-mail para contato: gabrieldesouzadarosa@yahoo.com.br