60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 7. Fonoaudiologia - 1. Fonoaudiologia

CONDIÇÕES DE TRABALHO, SAÚDE E VOZ EM PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL: ESPECIFICIDADES DAS UNIDADES DE ENSINO

Isabela de Sousa Ruela1
Emilse Aparecida Merlin Servilha1, 2

1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS/PUC-Campinas
2. Profa. Dra.


INTRODUÇÃO:
As relações entre o professor e seu trabalho despertam a atenção de pesquisadores nacionais e estrangeiros, em especial pelas repercussões negativas sobre a voz desse segmento profissional, decorrentes das condições ambientais e de organização do trabalho. De um lado, o ruído, a poeira, a fumaça, o uso de produtos químicos para limpeza da escola e problemas com a temperatura, ventilação e iluminação presentes no ambiente de trabalho e, por outro lado, o excesso de trabalho, o tempo curto para desenvolver as atividades na escola e a fiscalização constante, pertinentes à organização do trabalho, vêm sendo indicados como riscos ocupacionais que prejudicam a saúde e a voz docentes. No Brasil, os professores, número estimado em cerca de dois milhões, têm sido priorizados nas pesquisas fonoaudiológicas pela freqüência de distúrbios vocais encontrados nesta categoria, o que muitas vezes acarreta o afastamento temporário ou definitivo do trabalho pelos docentes. Desse fato decorrem enormes e distintos custos para o professor que tem sua saúde e carreira comprometidas; para os alunos que deixam de ter condições apropriadas de ensino-aprendizagem; para a instituição escolar pela rotatividade de docentes; e para o Estado que, usualmente, arca com todos os encargos gerados por esta situação. Nesta perspectiva, o objetivo deste estudo foi comparar as condições de trabalho, saúde e voz em professores da rede municipal de ensino, particularizando os riscos ocupacionais presentes nas diferentes unidades escolares.

METODOLOGIA:
Participaram dessa pesquisa 165 professores de diferentes níveis de ensino, média de 37 anos, predomínio de mulheres, casados e escolaridade superior, da rede municipal de educação de uma cidade do interior do estado de São Paulo, que responderam a um questionário proposto por Ferreira et. al. (2003) relativo à identificação, situação funcional, aspectos vocais e de saúde geral, hábitos, antecedentes familiares e ambiente de lazer. Os dados foram organizados e procedida à análise estatística das respostas dos professores de cada uma das nove unidades escolares, de modo a ressaltar suas características ambientais, a saúde e a voz de seus professores, assim como seus riscos ocupacionais. Todas as variáveis foram analisadas descritivamente. Para as quantitativas observaram-se os valores mínimos e máximos, médias, desvios-padrão e mediana. Quanto às qualitativas calcularam-se freqüências absolutas e relativas. Para a comparação de médias dos grupos estudados empregou-se a Análise de Variância a um fato. Quando a suposição de normalidade dos dados foi rejeitada optou-se pelo teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, com comparações múltiplas feitas através do teste de Dunn. Para se testar a homogeneidade entre as proporções foi utilizado o teste qui-quadrado ou o teste exato de Fisher, quando ocorreram freqüências esperadas menores de 5. ( ROSNER, 1986). O nível de significância considerado para os testes foi de 5%. Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa institucional em 29/05/07, sob nº. 182/07.

RESULTADOS:
Na organização do trabalho, o tempo curto para desenvolver as atividades na escola foi o ponto comum entre as unidades, variando de 90,91% a 60%. Outros fatores mostraram porcentagens variáveis indicando ser relevante somente para algumas escolas. Houve diferença significativa entre as escolas quanto à presença de local para descanso (0,004) e fiscalização constante (0,017). No que tange às condições ambientais, as porcentagens das queixas também variaram muito, mostrando-se negativas em maior ou menor grau de acordo com a unidade. Assim, as escolas diferiram quanto ao número de alunos por classe (0,001), ruído (0,002), iluminação (0,001), limpeza (0,001), condições de higiene nos sanitários (0,002), poeira (0,001), tamanho da sala (0,020) e temperatura (0,001). Quanto à voz, as menções de alteração variaram de 76,47% a 40%, atribuída principalmente ao uso intensivo de voz (100% a 85,71%). A análise estatística não mostrou significância no quesito presença de alteração na voz nos professores e não se constatou diferença significativa em relação às possíveis causas da alteração vocal como estresse, exposição ao barulho, alergia, infecção respiratória e exposição ao frio. Os problemas de saúde foram diversificados como ansiedade (84% a 54,55%), dores de cabeça (73,17% a 40%), doenças de vias aéreas (72,73% a 24,39%), alergias (68% a 45,45%) e incômodos a ruídos. Apesar disso não foram constadas diferenças significativas nesse item, exceto o incomodo a sons (0,036) que diferenciou as escolas.

CONCLUSÕES:
Conclui-se que há riscos ocupacionais relacionados à organização e ambiente de trabalho nas unidades escolares, que podem prejudicar a voz e saúde dos docentes. Evidenciaram-se particularidades quanto à presença de fatores de risco, a saber: ausência de lugar para descanso, poeira e ruído na unidade I; ruído e fumaça na II; ausência de lugar para descanso, fiscalização, ruído, temperatura inadequada e poeira na IV; material inadequado, poeira, ruído e fumaça na V; trabalho estressante, ruído, poeira, temperatura inadequada e fumaça na VI, trabalho estressante, poeira, ruído e acústica ruim na VII; fiscalização, poeira e fumaça na VIII e falta de lugar para descanso, sala inadequada para o número de alunos, temperatura inadequada, ruído e fumaça na IX. A unidade III estava desativada. Essas peculiaridades podem decorrer da localização geográfica da escola, arquitetura e materiais empregados na construção, nível de conservação e melhorias realizadas. Professores de todas as unidades referiram altos índices de alteração vocal, com destaque para as unidades I, VIII e V. Os professores das escolas I e V detiveram, por mais vezes, os maiores índices de referência às doenças. As escolas exibem pontos comuns, sendo o tempo restrito para desenvolver todas as atividades na escola o mais evidente. O desvelamento das relações entre trabalho, saúde e voz nas diferentes escolas da rede municipal subsidiará o gestor na implantação de ações contextualizadas para promover ambiente saudável para a comunidade escolar.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  distúrbios da voz, docentes, riscos ocupacionais

E-mail para contato: isabelaruela@hotmail.com