60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

O PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO NO ENSINO DE CIÊNCIAS: O CASO DE ALGUMAS ESCOLAS DE FEIRA DE SANTANA – BA

Tatiane Bitencourt Barreto1
Milton Souza Ribeiro Miltão1

1. Departamento de Física, Universidade Estadual de Feira de Santana


INTRODUÇÃO:
Baseado no atual projeto de reforma educacional para os ensinos Fundamental e Médio, o processo de ensino-aprendizagem das chamadas Ciências Naturais deve privilegiar uma formação que priorize a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. Para tal, deve-se contemplar o desenvolvimento de capacidades como: pesquisar; buscar informações, analisá-las e selecioná-las; aprender; criar e formular, ao invés do simples exercício de memorização. Estes princípios são oriundos da reformulação curricular do Ensino Fundamental e Médio, expressos na LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/96. Dentro dessa perspectiva de reformulação do ensino, é fundamental a devida utilização de recursos pedagogicamente adequados, sob condição de propiciar situações de efetivo aprendizado. Acreditando que o livro didático, historicamente, é um importante instrumento no processo de ensino-aprendizagem, nos parece relevante um estudo sobre a influência dessa ferramenta no ensino de Física, sob o ponto de vista de uma realidade local. Dessa forma, nosso trabalho se propõe a estudar algumas das etapas do processo de ensino-aprendizagem de Ciências: a atividade do estudante e sua interação com o livro texto e a atividade do professor. Nesta última, pretendemos investigar os principais critérios adotados para a escolha do livro utilizado e a influência deste importante instrumento pedagógico no seu trabalho docente, uma vez que normalmente orienta, influenciando decisivamente a prática docente e de que essa prática pode “reparar” as limitações impostas pela literatura disponível para a utilização no nível médio de escolaridade.

METODOLOGIA:
Nosso trabalho teve suas ações pautadas inicialmente em pesquisa bibliográfica relevante seguida por um período de observação direta e extensiva (LAKATOS, E. M. 2006). Considerando que são muitos os fatores que influenciam a prática pedagógica e por conseqüência, determinam a adequada utilização do livro como instrumento de apoio ao processo de ensino-aprendizagem e o bom desempenho escolar dos estudantes, abordamos alguns aspectos que consideramos de maior relevância nesse processo. Com aplicação de questionários-piloto pretendíamos considerar aspectos quantitativos e qualitativos que pudessem influenciar a seleção e utilização do livro-texto no ensino de Física. Para tanto, escolhemos oito escolas da rede privada e pública de ensino da cidade de Feira de Santana-Ba, onde, numa abordagem inicial, consultamos representantes de três categorias: direção/coordenação, professores de Ciências Naturais (Física, Química e Biologia) e estudantes da 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio. Num segundo momento, os instrumentos de pesquisa foram analisados a partir da delimitação de quatro segmentos: coordenação e planejamento pedagógico; regime de trabalho; formação acadêmica e prática pedagógica.

RESULTADOS:
Seguindo uma tendência nacional os resultados da nossa investigação mostraram que o livro didático ainda aparece como “fiel” aliado do professor e como recurso imprescindível para os estudantes mesmo levando em consideração o desenvolvimento de novas tecnologias - inclusive com aplicação no âmbito educacional - e as críticas recorrentes citadas por eles, tais como: redução indevida dos conteúdos; redução do rigor científico de diversos conceitos/conteúdos; escassez de sugestões de atividades práticas; ausência de uma relação entre os conteúdos com o cotidiano dos alunos e exploração de exercícios repetitivos. Para o professor, este recurso se mostra como um importante instrumento pedagógico, já que, mesmo em um ambiente que deveria se apresentar cheio de alternativas, ainda é o livro-texto a principal referência para sugestão de conteúdos, metodologia, atividades e etc. Dessa forma, notamos que para a amostra estudada, muitos são os fatores que influenciam ou até condicionam a utilização de recursos didáticos adequados, inclusive o livro-texto. A ausência de coordenação e planejamento pedagógico adequado, extensa carga horária de trabalho, ausência de formação inicial e contínua adequada e escassez de recursos pedagógicos auxiliares entre outros.

CONCLUSÕES:
Partindo da hipótese de que o ambiente escolar não deve sofrer mudanças significativas, pelo menos a médio prazo, justificamos nossa crença de que o livro didático, na maioria das salas de aula, deve continuar aparecendo como o principal instrumento de trabalho docente. Dessa forma, consideramos relevante nossa preocupação com as críticas sistemáticas que os livros didáticos ainda recebem, quando de avalia suas deficiências e limitações e as condições nem sempre favoráveis em que se dá sua utilização durante o processo de ensino-aprendizagem de Física. Acreditamos que, algumas das questões apontadas estão diretamente relacionadas a formação inicial e capacitação dos professores que influem diretamente no planejamento e na práxis pedagógica. Assim, defendemos a adoção de políticas públicas de incentivo a leitura e uma postura autônoma do professor, enquanto crítico de sua prática docente, para que o mesmo não se torne escravo dessa ou de outra única fonte, ainda que os livros-texto melhorem consideravelmente sua qualidade. Isso porque, essa postura é fundamental para a adoção de uma metodologia baseada na pluralidade de recursos didáticos devidamente utilizados no ambiente escolar e que contemple as múltiplas variáveis que compõem o cenário da sala de aula.



Palavras-chave:  Livro didático, Ensino-aprendizagem, Ensino de Física

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