60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia

NOVA GERAÇÃO: A RÁDIO COMUNITÁRIA E AS RELAÇÕES DE TRABALHO NA COMUNIDADE PORTO BRAGA.

Alex Almeida Coelho1, 2
Guilherme Gitahy de Figueiredo1, 2

1. Universidade do Estado do Amazonas - UEA
2. Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM
3. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – IDSM


INTRODUÇÃO:
O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa (rádio, televisão) se fez acompanhar da sua instrumentalização pela classe dominante (Santos, 1995). Uma pequena classe monopoliza a voz da sociedade, alienando a população da oportunidade e da vontade de falar e ouvir o que melhor lhe convém em cada momento. Para (Winkin, 1998), “A comunicação possui caráter vital para o desenvolvimento e concretização das relações sociais. Por isso, o estudo da comunicação é uma forma privilegiada para compreender as relações sociais”. Como sabemos, os meios de comunicação de massa comercias “monopolizam” a produção e a pauta das informações veiculadas por elas, ou seja, somente exibem o que lhes é de interesse. Porém, existem rádios que abrem fissuras neste monopólio: as rádios livres e comunitárias, através das quais a população marginalizada da comunicação de massa apropriam-se dessas tecnologias, colocando-as a serviço dos seus próprios objetivos. O objetivo deste estudo é analisar os processos dessa construção, bem como as mudanças correspondentes nas relações de trabalho a partir da implantação da rádio comunitária Nova Geração na comunidade de Porto Braga, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Este estudo faz parte de um trabalho maior, que pretende analisar o que muda no conjunto das relações sociais no processo de implantação da rádio.

METODOLOGIA:
Para estudar as relações sociais e suas mudanças no processo de construção da rádio comunitária da comunidade de porto Braga foi utilizado o método da “observação participante” de Becker (1997): a coleta de informações através da participação do observador nas situações da vida cotidiana de um grupo. O observador “entabula conversações com alguns ou com todos os participantes das situações” para descobrir que interpretações eles fazem sobre aquelas situações que o próprio pesquisador pôde observar (Becker, 1997: 47). Segundo Becker (1997), é preciso adaptar os métodos das ciências sociais a cada realidade estudada. A “observação participante” foi realizada durante a saída a campo com estadia de 12 dias na comunidade de Porto Braga. Para o agrupamento de dados que não puderam ser coletados através da observação participante, foram feitas entrevistas. As categorias de análise que organizam a coleta de dados e a sua análise procuraram dar conta das inúmeras dimensões da vida em comunidade, mas no presente trabalho o foco será dado a uma categoria especialmente destacadas das demais por corresponder à dimensão sobre a qual foi possível colher um leque mais rico de dados: “trabalho”. Por isso foi possível começar a desvelar, através dela, as novas tramas sociais que configuraram o processo de implantação da rádio comunitária. O que está acontecendo com as relações de trabalho da comunidade Porto Braga no processo de implantação da rádio comunitária Nova Geração.

RESULTADOS:
Os tipos de trabalho realizados por homens e mulheres da comunidade de Porto Braga são: a pescaria, a roça, o ajuri de limpeza, o trabalho doméstico, atenção à saúde e ensino formal. A pescaria é uma atividade predominantemente individual e desempenhada por homens. Eles pegam o peixe, cabendo às mulheres limpar o pescado e prepará-lo. Na pescaria houve um caso de uso da rádio para o pedido de empréstimo de ferramentas de trabalho, mas em geral a rádio não é usada. As atividades na roça são realizadas pela unidade familiar, na qual todos participam. Os homens são os que preparam o solo, enquanto as mulheres participam a partir do plantio até a colheita. Não houve uso da rádio associadas ao trabalho da roça. No mutirão, os homens das famílias desempenham atividades que são de utilidade para a comunidade. Nessa atividade a rádio é usada como ferramenta de coordenação dos trabalhos. Um agente de saúde comunitária, da própria comunidade, que atua sobretudo na prevenção e saneamento. O agente usa a rádio para enviar convites e dar orientações de saúde e higiene aos comunitários. Nos trabalhos da educação temos um professor e uma professora, que é também diretora da escola. Eles atuam no ensino fundamental de 1ª a 4ª e 5ª a 8ª serie. Eles, sobretudo a diretora, usam a rádio no auxilio das atividades educacionais, e para a transmissão de informações sobre a educação aos comunitários.

CONCLUSÕES:
A rádio tem sido utilizada como um instrumento que facilita e, portanto, fortalece os trabalhos que envolvem algum tipo de coordenação entre os membros de distintas famílias. É o caso do uso nos mutirões. Na pesca e na roça o uso é menor, já que são tarefas realizadas pela unidade doméstica. Isto nos permite dizer que a rádio provavelmente está contribuindo para o fortalecimento do coletivismo, em detrimento do individualismo nas relações de trabalho comunitárias. Por outro lado, como os trabalhos coletivos que envolvem membros de distintas famílias são realizados apenas por homens, pode-se dizer que as mulheres estão ficando de fora deste fortalecimento da cooperação. Pudemos levantar também que a rádio tem sido usada de maneira a ampliar a capacidade e as possibilidades de intervenção dos trabalhos intelectuais que visam algum processo educativo, como os trabalhos relacionados à saúde e ao ensino, executados pelo agente de saúde e os professores da comunidade. Isso significa que a rádio está proporcionando um salto qualitativo nas ações comunitárias e promovidas pelo Estado em defesa da saúde e da educação na comunidade. Nesses trabalhos tanto homens como mulheres se beneficiam do uso da rádio, sendo que no caso estudado a professora está usando mais a rádio do que o professor e o agente de saúde.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Rádio comunitária, relações de trabalho, Amazônia

E-mail para contato: Alexe_fb@hotmail.com