60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 5. Psiquiatria

O EFEITO DO LÍTIO NA DISFORMIA E FUNÇÃO DA TIREÓIDE EM POPULAÇÕES DE PACIENTES PSIQUIÁTRICOS ATENDIDOS NO CENTRO PSIQUIÁTRICO EDUARDO RIBEIRO NA CIDADE DE MANAUS - AM

James Hamilton Maranhão Dias1
João Bosco Lopes Botelho1
Sóstenes José de Lima1
Sérgio Fernández Laskani1

1. Universidade do Estado do Amazonas - UEA - Escola Superior de Ciências da Saúde


INTRODUÇÃO:
O lítio é um elemento químico do grupo 1A da tabela periódica, descoberto, isolado por Humphrey Davy em 1818, e utilizado na Medicina, pela primeira vez, em meados de 18401. É possível ocorrer alterações funcionais da tireóide secundárias ao uso lítio em certas doenças psiquiátricas2. Não existem dados desses pacientes, no Estado do Amazonas, devido à ausência de trabalhos científicos dessa natureza. Este trabalho tem como objetivo estabelecer a ocorrência de alterações na forma e na função da tireóide nos pacientes em tratamento com essa droga e sugerir normas no Sistema Único de Saúde no Amazonas.

METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo transversal com componente retrospectivo e avaliações analítico-descritivas. O público alvo foram os pacientes atendidos no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, na cidade de Manaus-AM, com vários diagnósticos clínicos, submetidos a litioterapia. Os elementos da amostra foram os prontuários que se encontram na base de dados da instituição, bem como o resultado dos exames laboratoriais: dosagem hormonal (TSH e T4 livre), nível sérico do lítio e estudo ultrassonográfico da tireóide. Critérios de inclusão: pacientes em tratamento com lítio num tempo igual ou superior a 12 meses, com autorização do termo de consentimento livre e esclarecido, por parte do paciente ou representante legal. Critérios de exclusão: uso irregular do lítio e tempo inferior a 12 meses. O desenvolvimento se deu através da avaliação de 5950 receituários localizados no depósito da farmácia, sendo que 409 continham prescrições de lítio. Desse total, 223 prontuários de pacientes em uso de lítio foram localizados no Serviço de Arquivo Médico do hospital, para obtenção de dados pessoais e clínicos. Foram incluídos 137 pacientes, mas apenas 28, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), seguiram os procedimentos: dosagens dos hormônios tiroidianos (TSH e T4 livre) e do lítio séricos, no Laboratórios Reunidos de Patologia, e a ultra-sonografia da tireóide, no Hospital Adriano Jorge. Dentre os que assinaram o TCLE, 22 realizaram pelo menos um e somente 12 fizeram todos os exames complementares solicitados.

RESULTADOS:
81,8% (18/22) dos indivíduos era do sexo feminino, com faixa etária variando entre 30 e 65 anos, prevalecendo a idade entre 40 e 54 anos (63,63%); 72,7% (16/22) eram pardos; 40,9% (9/22) eram casados, 45,5% (10/22) solteiros e 13,6% (3/22) divorciados. Sendo a maioria, 72,7%(16/22) natural do Estado do Amazonas. Concluíram o ensino fundamental 50% (11/22), ensino médio com 36,4% (8/22), superior incompleto 9,1% (2/22), superior completo 4,5% (1/22) e 27,3% (6/22) eram domésticas. O diagnóstico clínico principal, com 77,3% (17/22) dos casos, foi o transtorno bipolar tipo I; 18,2% (4/22) não sabem o diagnóstico e 4,5% (1/22) com distúrbio psicótico. 81,8% (18/22) não apresentavam diagnóstico clínico secundário. O tempo mínimo de uso do lítio foi de 1 ano e o máximo de 25 anos. 54,5% (12/22) tomavam a medicação a menos de 5 anos, 22,27% (6/22) a mais de 5 e menos 10 anos. Acima de 10 anos, 18,18% (4/22); 54,5% (12/22) utilizavam dose menor ou igual 600mg/dia, 40,9%(9/22) tomavam 900mg/dia e 4,5% (1/22) tomavam 1050 mg/dia. 68,2% (15/22) faziam uso concomitante de outras medicações e 31,8% (7/22) usavam somente o lítio; referiram ganho de peso 40,9% (9/22) e melhora do quadro clínico 36,4% (8/22). Apenas 13,6% (3/22) faziam uso de T4. O volume da glândula tireóide variou de 8,23 a 24cm3, com 54, 54% (12/22) dentro da normalidade (6a15 cm3); acima do normal 13,5%(3/22); 9%(2/22) apresentaram nódulos. O restante não realizou o exame. Ao avaliar o TSH observou-se que 54,54% (12/22) normal; alterado 18,2% (4/22); os demais, 27,3% (6/22) não realizaram o exame. O T4 livre foi normal em 36,4% (8/22) dos pacientes, em 13,6% (3/22) estava diminuído, 22,7% (5/22) aumentado e, 27,3% (6/22) não realizaram o exame. Em relação ao lítio sérico apenas 31,8% (7/22) estavam dentro do índice terapêutico, 50% (11/22) abaixo dos valores mínimos e, 18,2% (4/22) não realizaram o exame.

CONCLUSÕES:
Mesmo com amostragem não volumosa, resultante das dificuldades na obtenção das autorizações, junto aos pacientes em tratamento psiquiátricos e/ou as respectivas famílias, os primeiros resultados confirmam dos dados da literatura quanto a interferência do lítio na forma e na função da glândula tireóide.

Instituição de fomento: FAPEAM

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Lítio, Tireóide, Hormônios

E-mail para contato: joao_botelho@vivax.com.br; jameshmd@yahoo.com.br