60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia

CORRELAÇÃO ENTRE TAMANHO DO INFARTO CEREBRAL E SINAIS NEUROLÓGICOS EM UM MODELO ANIMAL DE ISQUEMIA CEREBRAL FOCAL

Simone Franzin1
Dalton Makoto Senda1
Marco Aurélio Mori1
Humberto Milani1

1. Departamento Farmácia e Farmacologia, Universidade Estadual de Maringá (UEM)


INTRODUÇÃO:
Acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico representa uma das causas mais importantes de incapacitação funcional. Modelos animais de isquemia cerebral focal (ICF) são necessários para avaliação do potencial terapêutico de drogas em aliviar as seqüelas estruturais e funcionais do AVC. A técnica de oclusão temporária da artéria cerebral média (ACM) no rato, mediante inserção intraluminal de um fio oclusor é o modelo mais amplamente utilizado. O volume de infarto cerebral e a presença de alterações neurológicas são usados como parâmetros principais para avaliar o potencial terapêutico de drogas em reduzir seqüelas estruturais e funcionais. Mas, o tamanho de infarto varia entre os indivíduos, e muitos animais não desenvolvem infarto cerebral. Além dos sinais neurológicos observados agudamente se resolverem espontaneamente ao longo do tempo, limitando a utilidade do modelo. Nosso estudo propôs avaliar se os sintomas neurológicos medidos agudamente teriam valor preditivo sobre a ocorrência e tamanho do infarto cerebral. Com objetivo de avaliar, quantitativamente, grau de correlação entre os sinais neurológicos agudos e o tamanho do infarto cerebral, visando determinar se os sinais neurológicos agudos seriam capazes de predizer a ocorrência e/ou magnitude do infarto cerebral.

METODOLOGIA:
Ratos da linhagen Holtzman (280–300g) submetidos à oclusão temporária da ACM pela inserção intraluminal de um fio mononylon 4-0 do início da artéria carótida interna até a origem da ACM, no polígono de Willis. Segue abaixo a escala utilizada para quantificação das alterações neurológicas e/ou comportamentais observadas após oclusão da ACM esquerda. A) Teste da cauda 0: Normal ; 1: Desvio postural p/ direita; 2: Não estende a pata direita; 3: Não estende a pata direita + desvio postural p/ direita B) Rotação para o lado direito 0: Ausente 1: Rotação aberta e inconstante 2: Rotação aberta constante 3: Rotação fechada constante C) Tombamento para o lado direito 0: Ausente 1: Aparente 2: Expressivo D) Posicionamento da pata direita durante o movimento 0: Normal 1: Prejudicado 2: Arrastamento da pata E) Estado geral de alerta e/ou consciência 0: Normal; 1: Prostrado, porém reage à estimulação táctil e/ou sonora. Reflexo de endireitamento preservado; 2: Prostrado, estado de estupor ou perda de consciência. Não reage à estimulação táctil e/ou sonora. Reflexo de endireitamento prejudicado. Os animais foram avaliados imediatamente antes da remoção do fio oclusor (tempo 0), e 1, 2 e 3 horas após a desoclusão. Em cada tempo de observação, os escores alcançados para cada item da escala (A, B, C, D e E) foram somados (Σ). E cada indivíduo, teve escore final expresso pela média das somatórias obtidas nos quatro tempos (Σ/4). Quantificação do tamanho do infarto cerebral No dia seguinte à isquemia, os animais foram anestesiados profundamente e sacrificados por degolação. O cérebro foi cuidadosa e rapidamente extraído a fresco e submetido à marcação histoquímica pelo método do trifeniltetrazólium (TTC). A secções coronais dos cérebros de cada rato, coradas pelo TTC, foram dispostas em série no sentido rostro-caudal, sobre uma folha de transparência, e em seguida escaneadas em um escaner profissional (Scanjet 4p, Hewlett-Packard), conforme descrito por Yang et al. [7]. As imagens capturadas de cada cérebro foram transferidas para um computador (Pentium 4, 1.60 GHz, 256 MB de memória RAM) e processadas pelo software Image-Pro Plus (4.5.0.29 for Windows, Media Cybernetics, Inc). Após calibração (nº de pixels/mm linear), a área de infarto cerebral foi delineada semi - automaticamente (com auxílio de um mouse óptico) em ambos as faces de cada corte coronal. O valor da área de infarto (mm2) foi então determinado automaticamente pelo software. Para cada animal, o volume (mm3) de infarto foi calculado pela seguinte equação: Volume (mm3) = Σ áreas x (2n) / Nº total de faces (n = número de secções contendo infarto).

RESULTADOS:
Os valores de escore neurológico plotados contra o volume de infarto medido no córtex cerebral, estriado, e como o total (córtex + estriado) são apresentados graficamente. O escore neurológico final dos 28 ratos utilizados é expresso pela média dos escores obtidos nos quarto tempos de registros (0,1,2 e 3 h). Doze animais com escore neurológico de 7 a 10 morreram nas primeiras 24 horas pós-reperfusão. Nota-se que, apesar da correlação ser estatisticamente significante (p < 0.001 – 0.01), algumas discrepâncias são evidentes. Por exemplo, três animais com escore neurológico variando entre 4.5 e 6.0 não apresentaram infarto cerebral. Inversamente, pelo menos dois indivíduos com escores <4 apresentaram volumes de infarto em torno de 120 e 240 mm3, respectivamente. Esses resultados mostram ainda que animais sem infarto cerebral apresentam algum escore neurológico variando de 0 a 2, o que pode ser devido aos efeitos de dor, estresse emocional, e outros traumas cirúrgicos sobre o comportamento.

CONCLUSÕES:
Os resultados mostram uma correlação estatisticamente significativa entre o escore neurológico agudo e o tamanho do infarto cerebral. Entretanto, a presença de animais sem infarto cerebral, porém, escore neurológico elevado, ou inversamente, animais com grande volume de infarto e escore neurológico baixo, indica que tais sintomas não têm valor preditivo “absoluto” sobre a ocorrência e magnitude do infarto cerebral. Portanto, a presença ou ausência de tais sintomas não é suficiente para distinguir entre os indivíduos que terão ou não infarto cerebral. Disso resulta que o uso de tais sinais neurológicos, observados agudamente, não é um critério seguro de inclusão/exclusão para fins de tratamento farmacológico e eliminação de possíveis resultados falso-positivos.

Instituição de fomento: CNPq, UEM, FADEC

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Isquemia cerebral focal, Volume de Infarto Cerebral, Sinais Neurológicos

E-mail para contato: franzin_si@yahoo.com.br