60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 4. Patologia Animal

ISOLAMENTO DE MICOBACTÉRIAS EM MEIO DE STONEBRINK E BACILOSCOPIA DO CULTIVO APÓS COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN

Bethania Silva Santos1
Klaudia dos Santos Gonçalves Jorge2

1. Bolsista de Iniciação científica da UFMS
2. Laboratório de Micobacteriologia da FAMEZ da UFMS


INTRODUÇÃO:
A tuberculose é uma zoonose de evolução crônica e efeito debilitante, causada por Mycobacterium bovis, cujo hospedeiro primário é o bovino. Outras espécies de animais domésticos e silvestres, além do homem, são também susceptíveis ao bacilo bovino (Jordão Júnior et al. 2005). O controle da tuberculose bovina se fundamenta no bloqueio dos pontos críticos de transmissão da doença. A identificação das fontes de infecção é feita por meio da implementação de rotina de testes tuberculínicos com abate dos animais reagentes. As lesões encontradas no abate podem não ser distintas o suficiente daquelas causadas por outras etiologias, o que dificulta o trabalho do inspetor sanitário em estabelecer um diagnóstico seguro da tuberculose. A complementação do diagnóstico macroscópico post mortem por meio de estudo histológico e bacteriológico respalda o diagnóstico clínico realizado à campo e o diagnóstico post mortem< (Pinto et al. 2002), além de permitir a investigação epidemiológica da enfermidade (Almeida et al. 2006). Dessa forma, o objetivo desse estudo foi realizar diagnóstico bacteriológico de tuberculose bovina no estado de Mato Grosso do Sul por meio do isolamento de micobactérias em meio de Stonebrink e baciloscopia para a pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) após coloração de Ziehl-Neelsen.

METODOLOGIA:
Foram utilizadas 29 amostras de órgãos com lesões sugestivas de tuberculose selecionadas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) obtidas de bovinos abatidos em matadouros-frigoríficos do estado do Mato Grosso do Sul, encaminhadas ao Laboratório de Micobacteriologia da UFMS no período de Agosto de 2006 à Abril de 2007. Para o exame bacteriológico, a amostra congelada a -20 ºC foi descongelada até temperatura ambiente e uma porção de aproximadamente dois gramas foi transferida para gral e macerada com quantidade equivalente de areia estéril. Ao macerado foi adicionado 2ml de água destilada estéril. A suspensão obtida foi filtrada em gaze estéril e transferida para um tubo cônico para centrifugação a 1.200 xg por 15 minutos. O sobrenadante foi desprezado, e ao precipitado adicionado 2 mL de água destilada estéril. Para a descontaminação da amostra se utilizou o método de Petroff modificado. Seis gotas dos inóculos descontaminados foram semeadas em tubos contendo meio de cultura de Stonebrink e incubados em estufa a 37ºC onde permaneceram por 90 dias. Os tubos semeados foram examinados semanalmente para verificar isolamento de micobactérias. Os isolados obtidos foram corados pelo método de Ziehl-Neelsen (ZN) para baciloscopia.

RESULTADOS:
Das 29 amostras de órgãos de bovinos com lesões sugestivas de tuberculose cultivadas em meio de Stonebrink, 28 (96,6%) apresentaram crescimento de colônias de aspecto rugoso e coloração creme entre sete e 75 dias de cultivo. Na baciloscopia, todos os isolados eram de BAAR. Embora a literatura registre uma ampla variação na proporção de recuperação de M. bovis em cultivo, tais como 67,8% (Andrade et al. 1991), 28,9% (Jorge 2001), 12% (Pinto et al. 2002), 68,2% (Leite et al. 2003), 23,6% (Araújo et al. 2005) e 22,2% (Salazar 2006), neste estudo foi possível obter 96,6% de isolamento. Apenas uma das amostras cultivadas foi descartada devido à presença de contaminantes, o que danificou o meio de cultura, mesmo na segunda tentativa de isolamento. Corner (1994) ao avaliar o tempo decorrido do cultivo até o aparecimento da primeira colônia de M. bovis em meio de Stonebrink encontrou média de 36 dias. Já, no presente estudo, os resultados concordam com os de Araújo (2004) que obteve crescimento entre oito e 70 dias de cultivo. A coloração de ZN revelou BAAR em 100% dos isolados, assim como nos estudos de Jorge (2001), Araújo et al. (2005) e Salazar (2006). Outros autores só constataram BAAR em 27,5% (Andrade et al. 1991) e 50% dos isolados (Pinto et al. 2002).

CONCLUSÕES:
O exame post mortem realizado durante a inspeção sanitária de abate provê apenas o diagnóstico presuntivo da tuberculose bovina, uma vez que se constitui em uma análise macroscópica das lesões encontradas (Araújo et al. 2005). Além disso, essas lesões precisam ser diferenciadas daquelas causadas por outras enfermidades como, por exemplo, linfadenite e cisticercose ou ainda dos abscessos que podem estar presentes no decorrer de diversos processos infecciosos. Assim, a habilidade dos inspetores ao proceder o exame macroscópico durante o abate, como demonstrado neste estudo, é fator primário para o sucesso do diagnóstico bacteriológico. A confirmação bacteriológica da tuberculose no rebanho bovino de Mato Grosso do Sul registrada pela primeira vez nesse estado por Jorge (2001) e posteriormente corroborada por Araújo et al. (2005), foi mais uma vez notificada no presente estudo. A luta contra a tuberculose bovina justifica-se tradicionalmente por tratar-se de uma doença infecto-contagiosa de caráter zoonótico que apresenta risco a saúde pública e impõe limitações ao comércio internacional de bovinos e seus subprodutos, além de diminuir a produtividade dos animais afetados

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  tuberculose bovina, diagnóstico bacteriológico, zoonose

E-mail para contato: beemedvet@gmail.com