61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 4. Fitotecnia
ENXERTIA DE CLONES DE COPA DE SERINGUEIRA RESISTENTES AO MAL-DAS-FOLHAS E PRODUÇÃO DE BORRACHA NATURAL NO AMAZONAS
José Roberto Antoniol Fontes 1
Ronaldo Ribeiro de Morais 1
1. Embrapa Amazônia Ocidental
INTRODUÇÃO:
A seringueira (Hevea brasiliensis) é fonte de borracha natural, e na Amazônia, sua região de origem, o seu cultivo é impedido devido à sua elevada suscetibilidade ao Microcyclus ulei, causador do mal-das-folhas, acrescido ainda da dificuldade de controle dessa doença por meio da aplicação de fungicidas. As plantas atacadas perdem as folhas, há redução de produtividade, e em casos severos, a planta morre. Entretanto, o conhecimento da resistência à doença em outras espécies de Hevea e da compatibilidade entre elas e clones de painel possibilitou o uso da enxertia de copa para o desenvolvimento de plantas resistentes ao mal-das-folhas. Destacam-se H. benthamiana, H. guianensis var. marginata, H. pauciflora e H. rigidifolia, além de híbridos interespecíficos originários de cruzamentos controlados entre elas. A produção de borracha das combinações de clones de painel enxertados com clones de copa tem sido avaliada, constatando-se produtividades expressivas. Além de conferir resistência à doença, a enxertia de copa reduz o período juvenil, possibilitando a realização mais precoce da sangria. Assim, este trabalho teve o objetivo de avaliar a produtividade do clone de painel CNS AM 7905 enxertado com 11 clones de copa resistentes ao mal-das-folhas nas condições ambientais de Manaus-AM.
METODOLOGIA:
O trabalho foi conduzido na Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus-AM (02o53’48’’S, 59o59’08’’W), em um plantio de seringueira com 9 anos, num LATOSSOLO AMARELO, muito argiloso; clima do tipo Af. O espaçamento adotado foi o de 7 X 3 m, com mudas de toco alto. Sobre o clone de painel CNS AM 7905 (H. brasiliensis) foram enxertados 11 clones de copa resistentes ao mal-das-folhas, provenientes de cruzamentos entre H.guianensis var. marginata, H. pauciflora e H. rigidifolia. As parcelas experimentais foram formadas por 7 plantas, dispostas em blocos ao acaso, com três repetições. A sangria, no sistema 1/2S d/3 6d/7, 11 m/y Et 2,5 6/y, foi iniciada quando o tronco atingiu 45 cm de circunferência a 1,5 m de acima da superfície do solo. A produção de borracha seca (BS), na forma de coágulo seco ao ar (53% de borracha, média de 5 anos), foi estimada utilizando a fórmula: PBS = [(DAA X NAS X PBA)/FS] / 1000, onde PBS (kg/ha/ano) é a produtividade de borracha seca; DAA, dias aptos à sangria (300 dias); NAS, número de árvores em sangria por ha (420); PBA, produção média de borracha seca por árvore por sangria (g); e FS, freqüência da sangria (a cada três dias). Os dados foram submetidos à análise de variância. As médias de tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS:
A produtividade do painel CNS AM7905 obtida com algumas copas superou 1.500 kg, considerada a média nacional, obtida em áreas-escape ao mal-das-folhas, com destaque para o estado de São Paulo. As produtividades, kg/ha/ano, painel combinado com as diversas copas e seus respectivos paternais foram, em ordem decrescente: 1- CPAA C01 (H. pauciflora X H. guianensis var. marginata), 1.786; 2- C06 (H. pauciflora X H. rigidifolia), 1.476; 3- CPAA C45 (H. guianensis var. marginata X H. pauciflora), 1.322; 4- CPAA C13 (H. guianensis var. marginata X H. pauciflora), 1.262; 5- CPAA C14 (H. guianensis var. marginata X H. pauciflora), 1.113; 6- CPAA C16 H. (guianensis var. marginata X H. pauciflora), 1.069; 7- CPAA C15 (H. guianensis var. marginata X H. pauciflora); 933; 8- CPAA C20 (H. guianensis var. marginata X H. pauciflora), 883; 9- CPAA C33 (H. pauciflora X H. rigidifolia), 672; 10- CBA 2  (H. pauciflora), 707; e 11- CPAA C18 (H. pauciflora X H. guianensis var. marginata), 571. As produtividades das três primeiras combinações foram estatisticamente superiores às demais. Para comparação, as produtividades dos clones de painel PR 255 e RRIM 600, cultivado com copas próprias, foram de 1.806 e 1.736 kg, média de cinco anos, em área-escape (Guararapes-SP), adotando o mesmo sistema de sangria.
CONCLUSÃO:
A produtividade do clone de painel CNS AM7905 foi influenciada pelos clones de copa enxertados, com destaque para os clones CPAA C01, CPAA C06 e CPAA C45. Estas produtividades permitem considerar que o cultivo da seringueira na região de Manaus por meio da técnica de enxertia de copas resistentes ao mal-das-folhas é uma alternativa econômica viável em condições ambientais semelhantes às verificadas durante a condução deste trabalho. Em razão do número ilimitado de cruzamentos que podem ser realizados nos centros de pesquisa é fundamental que o trabalho de avaliação da interação entre clones de painel e de copa seja expandido para outras áreas da Amazônia com condições favoráveis ao ataque do mal-das-folhas. A cultura da seringueira, enquanto meio de geração de emprego e renda na Amazônia, pode ser aprimorada por meio da incorporação de tecnologias acessíveis aos diversos estratos da produção primária, da agricultura familiar à empresarial.
Palavras-chave: Amazônia, Hevea brasiliensis, Microcyclus ulei.