61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 4. Arqueologia
PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NA REGIÃO DE SILVES E DO BAIXO URUBU (AM).
Bruno Marcos Moraes 1
Helena Pinto Lima 2
1. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
2. Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:
A literatura histórica que trata do rio Urubu apresenta o território ocupado pela cidade de Silves, desde sua primeira menção, como uma área marcada pela diversidade étnica e cultural. Tal diversidade remonta aos tempos pré-coloniais, conforme indica a arqueologia da região. Seu reconhecido potencial arqueológico é corroborado pela identificação de diversos sítios em pesquisas realizadas entre as décadas de 60 e 80. Após vinte anos de recesso nas pesquisas arqueológicas, a área passa a ser alvo de novas investidas, principalmente em função dos estudos ambientais levados a cabo para a implementação de diversas obras de infra-estrutura pelo setor privado. Estas ações – que incluem a arqueologia dentro destes estudos – são garantidas pela legislação vigente, aliando de forma conveniente o afã do desenvolvimento econômico da Amazônia às pesquisas acadêmicas, permitindo um sensível aumento dos dados empíricos disponíveis, quantitativa e qualitativamente. Dessa forma, o crescente ritmo dos investimentos pode contribuir para uma maior solidez na produção do conhecimento voltado à ocupação humana pretérita da Amazônia, preenchendo lacunas nos dados atualmente disponíveis.
METODOLOGIA:
Neste segundo momento, numa arqueologia voltada à prevenção de possíveis danos causados pela construção e funcionamento destes empreendimentos, as pesquisas voltaram-se à identificação de sítios e ocorrências arqueológicas visando antecipar quais seriam seus impactos e propor medidas para minimizá-los. No caso em questão, os levantamentos arqueológicos foram feitos levando-se em conta as Áreas Diretamente Afetadas (ADAs) e as Áreas de Impacto Indireto (AIIs) do Sistema de Produção e Transmissão de Energia de Silves, em seus diferentes momentos: o Poço de extração de gás natural, a Usina Termelétrica e as Linhas de Transmissão, que ligarão Silves aos municípios vizinhos de Itacoatiara, Rio Preto da Eva e Manaus. Os diferentes procedimentos metodológicos adotados nas etapas do empreendimento – a instalação do Poço e a Linha de Transmissão – se deram em função das etapas do processo de licenciamento ambiental em que se encontravam as obras. No primeiro caso, nos estudos para a confecção do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) foram realizados levantamentos prospectivos em sub-superfície dentro da ADA e observações de superfície na AII, além do re-cadastramento dos sítios arqueológicos já conhecidos próximos da área. No segundo caso, ainda em estágio de Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA), não foram realizadas intervenções em sub-superfície. Entretanto, a metodologia que permeou ambos os trabalhos foi o levantamento oral oportunístico, que se impõe como técnica mais proveitosa para uma abordagem inicial das áreas. Isto porque a maioria dos vestígios arqueológicos amazônicos está associada à ocorrência das Terras Pretas de Índio. Em função da alta fertilidade deste tipo de solo e de sua localização junto aos recursos da várzea e da terra firme, estes locais foram constantemente habitados, no passado e no presente. Em função disso, as cidades e comunidades ribeirinhas estão, via de regra, sobre os sítios arqueológicos, e seus habitantes vivendo – e convivendo – diariamente com estes vestígios. Em escalas, amostragens e métodos diferenciados, os levantamentos abarcaram tanto as áreas de influência direta e indireta, como seu entorno, para inserção dos dados da área num quadro regional mais amplo.
RESULTADOS:
A alta potencialidade arqueológica da área fica clara ao nos apercebermos dos resultados dos levantamentos orais empreendidos. Dos locais onde fizemos entrevistas com os moradores, menos de 10% deles não nos renderam informações acerca da ocorrência de sítios nas proximidades. Em adição a isso, muitos dos locais onde colhemos as informações eram eles próprios sítios arqueológicos. Quando levamos em conta as pesquisas realizadas nas décadas de 60 a 80 por Simões e Hilbert, sua área de abrangência contemplava majoritariamente as calhas dos grandes rios. À época destas pesquisas, as rodovias às quais percorremos ainda não existiam, ou eram apenas estradas vicinais não-pavimentadas, o que dificultava a uma prospecção mais sistemática. Este recente empreendimento, em especial a etapa da Linha de Transmissão, atravessará grandes extensões de terras adentro, hoje cortadas por estradas. Desta forma, à base de dados anteriormente construída soma-se outra ainda maior, contemplando compartimentos geográficos diferenciados. Estas rodovias muitas vezes cortam as médio-vertentes para minimizar o custo da rodovia com a construção de pontes, possibilitando a entrada em locais antes densamente florestados e de acesso quase impossíveis. Portanto, a maioria dos sítios que encontramos ainda não está catalogada ou descrita em lugar algum, o que os torna uma fonte de estudo privilegiada.
CONCLUSÃO:
Apesar de tratar-se de uma região reconhecidamente fértil para o campo da arqueologia, com questões científicas de relevância, estudos de arqueologia preventiva como estes aqui apresentados, ainda são raros. A salvaguarda do patrimônio arqueológico é garantida pela legislação brasileira. No entanto, estudos desta natureza normalmente acontecem somente para empreendimentos de maior visibilidade, sendo completamente ignorados os demais realizados apenas em esferas regional ou local. Garantir a preservação deste patrimônio demanda ações ainda mais profundas. A educação visando uma sensibilização da população com relação às questões patrimoniais é a resposta para a continuidade da preservação destes locais.
Palavras-chave: arqueologia amazônica, licenciamento ambiental, arqueologia do baixo Urubu.