61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
AS PERCEPÇÕES DOS ESTUDANTES BAIANOS SOBRE O DESMATAMENTO DA REGIÃO DE MATA ATLÂNTICA EM QUE VIVEM: SUBSÍDIOS PARA O ENSINO ESCOLAR EM REGIÃO CARACTERÍSTICA
Izan Ramos Porto 1
Júlio César Castilho Razera 2
1. Professora de Ciências Biológicas da rede pública da Bahia
2. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Departamento de Ciências Biológicas
INTRODUÇÃO:
No sudeste da Bahia, os poucos remanescentes da Mata Atlântica situam-se especialmente nas fazendas de cacau. No entanto, grandes e pequenos proprietários dessas fazendas vêm usando a madeira como fonte emergencial de renda, por causa de doenças e baixos preços do cacau no mercado da agroindústria, além de omissões da política agrária. Sem estímulos para a conservação de áreas naturais, a total degradação das manchas da Mata Atlântica ainda existente na região cacaueira ocorrerá rapidamente. Com os pressupostos de que a Educação Ambiental é processo pedagógico que trabalha com a capacidade crítica do estudante, com possibilidades de torná-lo agente ativo na comunidade, foi realizada uma pesquisa sobre as percepções de alunos do ensino médio sobre o desmatamento da Mata Atlântica no distrito de Florestal, com o objetivo de levantar elementos que possam servir de subsídios para a implementação de programas educativos sobre essa temática na região, na tentativa de interferências sobre a atual situação de degradação ambiental.
METODOLOGIA:
O distrito de Florestal situa-se na região sudeste da Bahia, localizado a 13°48’46”S e 39°50’50”O, distante 36 km do município de Jequié. O estudo foi realizado com 30 alunos do ensino médio, da única escola local. Foram escolhidos aleatoriamente 10 alunos de cada série. No final, o grupo contou com 7 alunos do sexo masculino e 23 do feminino, com idades entre 15 e 35 anos. O critério de escolha da região e da escola deveu-se a fatores como: degradação ambiental no entorno bastante visível; comunidade local resistente a programas de preservação da Mata Atlântica ali existente, devido à situação econômica que enfrentam; a escola atender filhos de fazendeiros; auxílio a outras pesquisas realizadas na região (IBAMA, CRA e Grupo Ecológico Rio das Contas). Optou-se pela abordagem qualitativa, utilizando-se entrevista semi-estruturada e observação participante para a coleta de dados. Buscou-se extrair: i) conceitos gerais sobre meio ambiente; ii) idéias sobre problemas ambientais locais; iii) relações entre pobreza, problemas e conservação ecológica; iv) especificidades sobre o desmatamento local. Após tratamento e categorização das idéias expostas pelos estudantes, a análise foi realizada com auxílio de técnicas de interpretação discursiva e de referenciais sobre Educação Ambiental.
RESULTADOS:
A maior parte dos alunos expressou idéia de meio ambiente como um espaço importante ao nosso redor (exclusão dos humanos), a ser preservado e apreciado: “Aquilo que está na sua volta” (21 anos). Desmatamento e poluição dos rios aparecerem como os maiores problemas ambientais do mundo, cujos responsáveis são “os outros” (prevalência) e “nós mesmos”. Sobre os problemas locais, “desmatamento” e “poluição dos rios” também formaram a maior parte das respostas. Todos demonstraram incômodo com os problemas locais, especialmente porque “prejudica a nós mesmos” (20 anos). Especificamente sobre o desmatamento da região, as consequências giraram em torno de prejuízos a seres humanos, animais e paisagem; havendo necessidade de maior controle e fiscalização. Sobre os responsáveis pela preservação da mata, o quadro de respostas basicamente constituiu-se de: “nós” (47%); “os homens” (33%); “os fazendeiros” (7%); “IBAMA” (3%). Algumas falas: “Nós somos responsáveis por esse problema” (17 anos); “O homem é o único responsável” (16 anos). A pobreza é causa de desmatamento local para 63% dos estudantes: “Tem pobreza muito grande e desmatamento também (23 anos). O que você pode fazer para ajudar? Essa questão teve respostas superficiais e generalizadas (ex: “aconselhar”; “fazer cartaz”; “plantar”).
CONCLUSÃO:
As percepções dos estudantes da região apresentaram semelhanças com outros grupos investigados, de locais diversos, difundidos na literatura da área. A prevalência foi de um conjunto de idéias superficiais, antropocêntricas e utilitaristas de meio ambiente. Houve demonstração de conhecimentos sobre os problemas da região, mas sem perspectivas de transformação. O incômodo dos estudantes em relação aos problemas ambientais da região em que vivem é importante elemento a ser considerado, mas parece não se transformar em ações efetivas para além dos limites internos da escola. Se a educação formal quer ter um papel mais relevante na comunidade, deve sentir-se integrante dela. A cultura de passividade da escola diante dos problemas comunitários pode ser minimizada ou revertida, se o seu espaço for utilizado para promover discussões de idéias que impliquem uma compreensão racional mais aprofundada e de comprometimento atitudinal sobre a temática, a possibilitar percepções de corresponsabilidade sobre as práticas sociais que vivenciam, potencializando-se a atuação crítica sobre todos os fatores subjacentes como, por exemplo, os aspectos socioeconômicos. Essa é uma das possibilidades da educação formal na busca do desenvolvimento sustentável para a respectiva região da pesquisa.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Senso Comum, Responsabilidade Social.