61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
ARTE-CIDADANIA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ARTE E EDUCAÇÃO EM VÁRZEA GRANDE/MT
Alice de Oliveira 1
Márcia Santos Ferreira 2
1. Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
2. Profª. Drª. da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT - Orientadora
INTRODUÇÃO:

Este trabalho é resultado de uma experiência realizada no Projeto “Arte e Cidadania” da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Várzea Grande, na qual foram ministradas oficinas de teatro e contação de histórias em cinco escolas municipais de bairros periféricos da cidade. A proposta do projeto era de, por um lado, promover a educação através do teatro para alunos do ensino fundamental e, por outro, buscar atender uma demanda cada vez maior de crianças que adentram as escolas com sérias dificuldades de aprendizagem. Através da contação de histórias, procurou-se incentivar a imaginação e a expressão criativa, além do gosto pela leitura e o interesse pelas artes em geral. O teatro foi uma ferramenta utilizada como expressão desse saber. A leitura dos contos, lendas e fábulas da literatura infantil foi utilizada para orientar e motivar os alunos a pesquisar na comunidade outras histórias que fossem contadas pelos pais, amigos ou pessoas de seu convívio social. Essa pesquisa foi um ponto de partida para a identificação das relações entre as histórias contadas ou lidas e as histórias pesquisadas. Acredita-se que, através dessas ações, abriam-se possibilidades para os alunos e a comunidade se sentirem representados no palco e na vida.

METODOLOGIA:

As oficinas foram realizadas no período de um ano, sendo quatro horas-aula por semana em cada uma das cinco escolas selecionadas para receber o projeto. Foram atendidos cerca de 25 alunos de cada escola. Os alunos que se inscreveram para a oficina de teatro fizeram atividades de expressão corporal, trabalho de voz, exercícios de socialização, brincadeiras e dinâmicas em grupo. Nestas oficinas, foram abordados os seguintes tópicos: 1) a importância de conhecer a história do teatro; 2) o valor educacional das histórias; 3) transmissão de valores através do teatro: estudando uma história, fazendo a narração, trabalhando a imaginação e a improvisação. Os alunos acompanharam e participaram ativamente da construção dos cenários, figurinos e adereços através das histórias contadas ou lidas, em seguida, pesquisaram na própria comunidade outras histórias e passaram a vivenciar e representar no teatro as emoções construídas e desenvolvidas em grupo. As apresentações dos resultados do projeto foram compartilhadas em uma culminância onde cada escola e membros da comunidade puderam conferir o progresso dos alunos.

RESULTADOS:

No decorrer do primeiro ano de desenvolvimento do Projeto foi observada uma significativa mudança nas atitudes dos alunos que participaram das oficinas. Os alunos adquiriram maior desinibição para falar em público e, principalmente, nas relações com os colegas, com a família e professores. Esses mesmos alunos passaram a colaborar mais nas atividades propostas pelas escolas. Concordando com a afirmação de Franco Cambi, segundo a qual “no teatro a comunidade educa a si mesma” (História da Pedagogia, São Paulo, Ed. UNESP, 1999, p.79), observou-se que a partir do momento que os alunos passaram a ouvir e discutir temas das histórias infantis apresentadas, relacionando-os com as histórias pesquisadas na comunidade e, além disso, vivenciando as histórias na própria comunidade, com liberdade de escolha, houve uma identificação entre o que estava sendo estudado e a realidade. Desta forma, ao ver a representação no teatro dessas histórias escolhidas pelos seus membros, a comunidade e os alunos se reconheceram nas suas próprias histórias, dando mais valor a sua própria cidadania.

CONCLUSÃO:

Todo o processo adaptativo levou tempo e envolveu a mobilização das instituições educacionais, da Secretaria de Educação e Cultura, da comunidade, dos alunos e dos professores. Foi através dessa união que o projeto alcançou seus objetivos, deixando visíveis as mudanças de comportamento dos alunos, os quais se tornaram mais participativos, leitores criativos e atentos as questões sociais. Esses mesmos alunos, que eram considerados crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem, obtiveram um avanço significativo. No decorrer desse projeto, observou-se que, para informar e formar um cidadão crítico, especialmente aqueles que dependem das instituições públicas para ter acesso ao patrimônio artístico e cultural de sua cidade, era preciso associar os conteúdos escolares, as questões sociais e as linguagens artísticas propostas no projeto. Boa parte daquelas crianças e jovens hoje participa efetivamente da produção cultural da sua comunidade, encontrando, portanto, uma melhor forma de conviver em sociedade.

Palavras-chave: arte-educação, produção cultural, cidadania.