61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
OCORRÊNCIA DE PRIMATAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS DE TERRA FIRME NO MUNICÍPIO DE TEFÉ, AMAZONAS.
Luciane Lopes de Souza 1
Márcia Corrêa Baraúna 1
Jesuley Lopes Holanda 1
Wandresson Rodrigo Martins de Castro 1
1. Universidade do Estado do Amazonas – Centro de Estudos Superiores de Tefé
INTRODUÇÃO:
A Amazônia é a região mais diversa em primatas neotropicais com 14 gêneros descritos, sendo que cinco ocorrem exclusivamente na região. Mesmo em pleno século XXI ainda ocorrem descobertas de novas espécies de primatas amazônicos. Lamentavelmente, seus hábitats estão sendo invadidos e gravemente ameaçados pelo desmatamento e queimadas, por isso a sobrevivência destas espécies corre um risco considerável. Em algumas áreas do Médio Solimões é esperado encontrar até mais de 12 espécies, entretanto, poucos estudos foram desenvolvidos para obter dados mais concretos sobre tal diversidade. Este estudo representa os primeiros registros sobre a ocorrência de primatas em três diferentes fragmentos florestais nas proximidades da área urbana da cidade de Tefé no estado do Amazonas: Comunidade da Missão, Reserva Flora Agrícola (Comunidade da Agrovila) e Estrada da EMADE, visando investigar dados quali-quantitativos sobre a ocorrência de primatas, incluindo os principais fatores que limitam a conservação dessas populações na natureza.
METODOLOGIA:
A coleta de dados ocorreu no período de maio de 2007 a fevereiro de 2009, realizada por três diferentes observadores em meses não consecutivos. As áreas de estudo, situadas a aproximadamente 20 km do centro urbano de Tefé, compreendem fragmentos de floresta de terra firme que sofrem interferência antrópica em virtude de atividades extrativistas e agrícolas. Para obtenção dos dados quantitativos foram feitas caminhadas diurnas em trilhas pré-existentes nos três sítios de estudo. Tais trilhas foram percorridas a uma velocidade aproximada de 1,5 km/h para não afugentar os animais próximos a elas. Ao final de cada trilha era dado um intervalo de 15 minutos para retornar ao ponto inicial realizando o censo. Durante a coleta foi adotado o método de amostragem ad libitum que consiste em uma técnica descritiva que permite a coleta de informações variadas a respeito do indivíduo ou grupos observados, sendo que estes eram acompanhados até serem totalmente perdidos. A cada avistamento foram anotados os seguintes dados: data, hora, condições do tempo, nome vulgar ou científico, tamanho do grupo (quando possível), local da observação, atividade do primeiro animal avistado e dados complementares. Para a coleta dos dados a respeito da ocorrência de primatas nestas localidades foram aplicados questionários a moradores locais, selecionando moradores mais antigos e que praticavam algum tipo de atividade na floresta.
RESULTADOS:
Em todos os levantamentos registrou-se a presença de cinco espécies de primatas: Saguinus mystax (sagüi ou sauim), Saimiri sciureus (macaco-de-cheiro), Cebus apella (macaco-prego), Callicebus moloch (zogue-zogue) e Lagothrix lagothricha (macaco-barrigudo). Na Comunidade da Missão em 213 km percorridos foi confirmada a presença de três espécies de primatas em 35 avistamentos: S. mystax (86%), S. sciureus (11%) e C. moloch (3%). Já na Flora Agrícola houve a confirmação apenas da ocorrência de S. mystax durante o total de 179 km de censo, enquanto em florestas da EMADE em 76,5 km percorridos houve a confirmação de quatro espécies de primatas: S. mystax (61,5%), S. sciureus (15,4%), C. apella (15,4%) e L. lagotricha (7,7%).  A média do tamanho de grupo de S. mystax na Comunidade da Missão foi de 10 indivíduos por grupo, enquanto na Flora Agrícola foi de 11,1 indivíduos e na EMADE os grupos avistados tinham em média 12,8 indivíduos. Segundo os relatos dos moradores locais, a caça não é uma ameaça para os primatas da região. Por outro lado, eles apontam o desmatamento provocado pelas constantes atividades agrícolas e pela construção da estrada da EMADE, como a principal ameaça a estes animais. A criação de primatas em cativeiro também merece destaque na região, onde é comum encontrá-los nas casas como animais de estimação.
CONCLUSÃO:
Das espécies esperadas para a região somente foram confirmadas pelo presente estudo a presença de cinco, sendo que houve indicação por moradores locais de outras espécies, incluindo Aotus sp., popularmente conhecido por macaco-da-noite. Os resultados indicam que S. mystax (espécie comum a todos os sítios de estudo) é um primata muito tolerante à pressão antrópica da região, ao contrário de espécies de médio a grande porte como Alouatta seniculus, que não foi avistado em nenhum dos levantamentos. O processo de fragmentação de hábitat parece ser o principal fator que está contribuindo para o baixo número de espécies avistadas nesta área, visto que a fragmentação e a perda da cobertura vegetal comprometem a locomoção, abrigo e disponibilidade de recursos alimentares para as espécies, deixando-as mais expostas a predadores e a maiores riscos de extinção local. Reforça-se a necessidade de ampliar as investigações para se conhecer melhor a ocorrência dos primatas desta porção da Amazônia, bem como sua ecologia e comportamento.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa na Amazônia
Palavras-chave: Primatas, Amazônia, Conservação.