Este relato de experiência visa expor situações vivenciadas com uma turma de “Alfabetização” de uma escola particular localizada na cidade de Manaus que atende às crianças de classe média-alta com bom poder aquisitivo, que no atual contexto histórico vivenciado, apresentavam resistência à prática de uma alimentação saudável e tinham como hábitos alimentares uma proporção muito grande de alimentos industrializados que dificultavam seu desenvolvimento físico e propiciavam a obesidade. Visando reverter e reeducar os hábitos alimentares dessas crianças, foi desenvolvido nessa turma de seis anos um Projeto intitulado “Horta orgânica: alimentação e saúde” com o objetivo de sensibilizar crianças e familiares para as mudanças de hábitos alimentares, facultando o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa através do Ensino de Ciências Naturais. Nessa perspectiva, consideramos o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil como pressuposto teórico que orienta sobre o ensino através de Projetos, tendo como referentes o meio e o contexto histórico em que a criança está inserida, além de valorizarmos a aprendizagem significativa e ampliação dos conhecimentos durante o processo ensino-aprendizagem.

O Projeto foi desenvolvido durante o ano de 2003, numa escola particular de Manaus-AM com uma turma composta por trinta crianças de seis anos de idade em processo de alfabetização. Tivemos como parceria, estagiárias de um curso de Pedagogia, pessoas dos serviços gerais da escola, pais e avós das crianças e um técnico em Ciências Agrícolas da Escola Agrotécnica de Manaus. Esse parceiro nos orientava sobre todas as condições necessárias para a manutenção da Horta. Dessa forma, deram-se as seguintes etapas do Projeto: 1) discussão do problema apresentado (maus hábitos alimentares); 2) excursão à Escola Agrotécnica de Manaus; 3) seleção e plantio das sementes  nas sementeiras; 4) transporte das hortaliças das sementeiras para os canteiros. Por último, a culminância do Projeto, mediante dois momentos diferentes: colheita das alfaces para um lanche coletivo (sanduíche natural e suco), e em outro momento, colheita das cebolinhas e couve para um sopão com a participação ativa de todas as pessoas envolvidas durante o processo. Nessa interação entre família e escola compreende-se o que sugerem os Referenciais Curriculares da Educação Infantil (BRASIL, 2001) no que propõem que a escola deve proporcionar momentos de interação com as famílias de seus educandos. 

Essa alternativa foi considerada facilitadora e viável para mudança de hábitos alimentares e construção da aprendizagem significativa porque a partir do momento em que as crianças desenvolveram aprendizagens que deram significados claros e diferenciados em sua estrutura cognitiva, para que a aprendizagem fosse significativa, o material passou a ser potencialmente significativo e ela passou a  manifestar disposição para aprender. Essa disposição para aprender e mudar seus hábitos alimentares se completou com atividades que tinham relação com o meio ambiente e com outros indivíduos numa constante atividade reflexiva. Durante o período em que o Projeto foi desenvolvido, compreendemos a relação existente entre a ação direta da criança durante o plantio e a formação de conceitos. Para Vygotsky (1998), a criança em relação com outros sujeitos e com o meio, desenvolve em suas experiências cotidianas “conceitos espontâneos” ou “cotidianos” e, esses conceitos que são desenvolvidos na infância são mediados por pensamentos complexos e pela linguagem, um elemento primordial, para a ampliação de conceitos científicos, além da compreensão dos códigos lingüísticos desenvolvidos sem imposição e autoritarismo.   

Diante dessa prática de ensino-aprendizagem de ciências naturais vivenciada com crianças da Educação Infantil em processo de “Alfabetização”, considera-se que atividades que as envolvam em sua construção e em contato direto com o objeto, num processo dinâmico e cooperativo, de forma “não arbitrária” e “não literal” contribuem efetivamente com a ampliação de novos conhecimentos, a formação de conceitos, de princípios e de valores. Nessa perspectiva, compreende-se o que sugerem as novas concepções de ensino em relação aos conceitos adquiridos pelas crianças, conceitos que devem ser estimulados a partir de interações múltiplas e em diferentes contextos, possibilitando-nos a convicção que, se envolvermos nossos alunos em atividades significativas desde a idade pré-escolar, com certeza a compreensão de muitos conceitos será construída em suas estruturas mentais favorecendo “ancoragens” entre os conhecimentos espontâneos e os conhecimentos científicos, conduzindo esse sujeito para melhor compreensão de si mesmo e do mundo. Nessa dinâmica de ensino-aprendizagem conduziremos os alunos não somente à mudança de hábitos alimentares, mas à capacidade de inserir em sua cultura elementos saudáveis à vida humana, a partir do desenvolvimento de sua aprendizagem significativa.