61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
QUEM VAI DESCER A ACARÁ? PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO FAZER-SE CLASSE DO OPERARIADO DO PARQUE INDUSTRIAL DE MANAUS - ANOS 1980.
MILTON MELO DOS REIS FILHO 1
IRAILDES CALDAS TORRES 2
1. Doutorando - Programa de Pós-Gradudação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA)
2. Professora Doutora e Orientadora do PPGSCA-UFAM
INTRODUÇÃO:

O grande desafio deste trabalho é concretizar uma discussão em torno do tema do operariado industrial e compreendê-lo na trama de relações e dos antagonismos de classes que notabilizaram os anos oitenta no Parque Industrial de Manaus. Assim, o nosso interesse consistiu em investigar as tensões, conflitos e as lutas travadas pelos trabalhadores operários ocorridas no interior das fábricas que compõem o Pólo Industrial de Manaus. O recorte é a década de 80 do século XX, considerada anos obscuros da luta classista no Parque Industrial de Manaus, pautada pelo novo sindicalismo. Há necessidade de novas produções nesse campo temático de estudos investigativos em face do pouco que tem sido produzido em relação à história do movimento operário no Amazonas, principalmente, quando se trata da década de 1980 do século XX. Esta pesquisa serve para repensar a trajetória da classe operária no Brasil e, especificamente, no Estado do Amazonas, na tentativa de trazer para o cenário da luta de classe os novos sujeitos e os novos atores sociais da militância sindical. Nesse sentido, poderá auxiliá-los na construção de novos personagens nos quadros do trabalho, um novo perfil de trabalhador operário emergente na era da tecnologia informacional. Constituiu-se, também, num documento-receptáculo da memória destes trabalhadores e trabalhadoras que se fizeram presentes na sociedade como os principais protagonistas de sua história.

METODOLOGIA:

A pesquisa está ancorada nos estudos clássicos de Edward Palmer Thompson, pela originalidade que oferece em suas obras para respaldar nossas análises sobre a consciência de classe. Com esta tendência historiográfica thompsoniana priorizamos três categorias, a saber: trabalhadores operários, sindicalismo e o fazer classe.

Elegemos autores regionais/nacionais e os clássicos. Em nível regional/nacional dialogamos com os autores Torres (2005), Pinheiro (2003), Vieira (2002) Ribeiro (1987) e Costa (1993/1994). No diálogo com os clássicos o trabalho inspirou-se nos aportes da influência da historiografia marxista inglesa, particularmente “A Formação da Classe Operária Inglesa” de Edward Palmer Thompson (1987) e “Trabalhadores e Mundos do Trabalho” de Eric Hobsbawm (1995), complementados pelos estudos de Doimo (1995), Rodrigues (1997/1999), Alves (2003), Blass (1999) e Gomes (2002).

Os informantes desta pesquisa são os trabalhadores do PIM, (ex-dirigentes sindicais, ex-operários (as) da indústria eletro-eletrônica de Manaus). O trabalho atende a uma perspectiva metodológica da História Oral e a técnica utilizada consistiu na entrevista do tipo semi-estruturado, aplicada junto a 06 (seis) trabalhadores do PIM. O levantamento de dados primários foi realizado na sede da Pastoral Operária e Central Única dos Trabalhadores (CUT).

RESULTADOS:

Esta pesquisa revela o momento em que os trabalhadores do PIM entraram em cena. Esses novos personagens que souberam construir, sensibilizar e fazer a luta de classe nos anos oitenta do século XX. Podemos dizer que o convívio com estes trabalhadores no Pólo Industrial de Manaus, onde também fui operário, foi primordial para a compreensão da história do operariado no Brasil e especificamente no Amazonas.

Do ponto de vista da organização e do conflito tivemos momentos determinantes na história do operariado amazonense, conseguimos visualizar exemplos da importância que tiveram as mulheres neste campo de ação. Do mesmo modo a ação dos homens como seres representativos de uma classe. A década de oitenta se caracterizou pela abertura política (em que o regime militar implantado no país em 1964 ia dando seus últimos suspiros) e pela transição para o regime democrático.

Hoje tanto a atuação do homem como da mulher mudou muito. Não existe mais a escola de formação política do operariado amazonense. Fica difícil saber se este operariado tem consciência de sua classe. Os trabalhadores do PIM precisam entrar em ação de modo mais eficiente e eficaz, precisam inteirar-se dos novos desafios do mundo do trabalho.

Somos um país que apresenta uma carência de mão-de-obra. Jamais se pode avaliar isto como ruim, assim como dizer que seja o paraíso ou o inferno. A falta de mão-de-obra no Brasil é o sinal de que o país está crescendo bastante, a demanda está aquecida e precisa de mais gente para trabalhar.

CONCLUSÃO:

Trabalhar este tema significou recuperar marcos de grande relevância social para o operariado amazonense. Uma vez que a década de oitenta do século XX foi o palco das maiores manifestação do trabalhador operário em todo o Brasil. Trazer esta contribuição para a academia e para os trabalhadores significa também resgatar uma história “vista de baixo”, que para alguns poderia ser ignorada como ciência. Assim, a intenção deste trabalho é fazer com que os operários do Pólo Industrial de Manaus possam revisitar o seu passado.

E mais ainda, visualizar os grandes movimentos grevistas e as formas de enfrentamento entre os operários e patrões no PIM. Esses trabalhadores, nos anos 1980, reagiram às diversas medidas abusivas.

As conquistas foram significativas no campo social, político, econômico e cultural. Quem teve um grande papel na classe trabalhadora foi a mulher por representar um número bem expressivo na Linha de Montagem, mas sua atuação como militante na busca de resultados se intensificaram mais nos anos 90.

Hoje, porém, o confronto se dá de formas diferenciada porque está em jogo o emprego. Está em curso uma nova concepção de mundo do trabalho, que vê o trabalhador como aquele que deve estar apto a enfrentar grandes desafios. Houve quebra de paradigmas, atualmente a disputa é global, o trabalhador tende a se conectar cada vez mais para atender aos desafios do mercado.

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e Secretaria Municipal de Educação (SEMED-Manaus)
Palavras-chave: Trabalhador Operário, Sindicalismo, O fazer Classe.