61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
AULAS DE CIÊNCIAS: INTERDISCIPLINARIDADE E AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM
Ernesto Macedo Reis 1
Marília Paixão Linhares 2
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
2. Universidade Estadual do Norte Fluminense
INTRODUÇÃO:

Investiga-se a aula de Física quando se faz uso do Espaço Virtual de Aprendizagem (EVA), e adota-se a metodologia de Aprendizagem Baseada em Casos (ABC). A proposta pedagógica está vinculada à atividade presencial, mas transcende esse espaço no uso da Internet, na facilidade de comunicação entre alunos e com o professor, sendo avaliada em aulas Física, e mais recentemente de Biologia e Química.

O objetivo é destacar aqui dois elementos importantes desse ensino de Ciências para além da sala de aula: a relação entre quem ensina e quem aprende e o conhecimento científico como mobilizador nos processos de ensinar e aprender. A questão a ser respondida é: O modelo de ensino baseado em ABC e no EVA podem tornar mais potente o ensino de Ciências na escola, quando favorece a integração entre disciplinas e a cooperação entre os alunos?

                        Nossos marcos são os denominados Casos; mas que Casos? De acordo com Echeverria e Pozo (2002), “uma situação somente pode ser concebida como um caso na medida em que exista um reconhecimento dela como tal, e na medida em que não disponhamos de procedimentos automáticos que nos permitam solucioná-la de forma mais ou menos imediata, sem exigir, de alguma forma, um processo de reflexão ou tomada de decisões sobre a seqüência de passos a serem seguidos”.

METODOLOGIA:

O Caso é uma construção, no formato de texto que abre janelas para que se discutam problemas relacionados ao cotidiano e as áreas de interesse. O elemento central da metodologia de ABC, que se baseia na investigação e interatividade consiste em trabalhar no módulo de Estudos de Caso (EC), quando se pode: 1 - identificar as idéias prévias dos estudantes sobre o Caso, 2 - favorecer interações com materiais selecionados ricos em informações, promover diálogo-cooperação e valorizar a argumentação-defesa de idéias, 3 - potencializar respostas mais satisfatórias às questões propostas, favorecendo avanço conceitual.

No estudo “Os Heróis do Verão e as Radiações Ultravioleta” indagamos o que sabiam 59 alunos do Ensino Médio sobre radiações ultravioleta e avaliou-se se incluíam inicialmente em suas respostas elementos científicos, já estudados. Após o fechamento do Caso elabora-se uma avaliação dos conteúdos no sentido de verificar se houve evolução das idéias de forma significativa. Para isso usa-se a documentação armazenada no EVA, as falas dos alunos, buscando-se uma visão etnográfica a partir de categorias extraídas da análise dessas falas (Bardin, 2004), em consonância com a análise de discurso (Bakhtin, 2005).

O sistema pode ser conhecido parcialmente em [www.uenf.t5.com.br].

RESULTADOS:

A tradição reflexiva nos orienta sobre os perigos de categorização analítica preestabelecida. A pesquisa é considerada qualitativa, o principal instrumento de coleta de dados, que é o próprio EVA, organiza os dados em favor da análise do conteúdo das falas dos sujeitos. Os pesquisadores conduzem o processo de ensino, essa característica situa a pesquisa no âmbito da Pesquisa-Ação.

Dos pressupostos teóricos levantados e estruturados em torno do objeto, o discurso on line, produzido nas diferentes funções do EVA, a interpretação e avaliação dos resultados, estabeleceu-se direcionadas a um método de organização e avaliação desse diálogo:

A)    Um fórum ou EC constitui-se um enunciado completo; uma mensagem é um texto completo;

B)    Organiza-se em árvores e destaca-se na leitura os fios condutores – galhos e ramos;

C)    Análise de conteúdo (AC) refere-se a enunciados apurados em um contexto específico;

D)    As categorias da AC são levantadas do enunciado, se for necessário – nunca a priori;

  Os resultados obtidos mostraram que: 1) os estudantes não incluíram em suas explicações iniciais da pergunta nenhum conhecimento apreendido em séries anteriores, e mesmo os discutidos anteriormente na mesma série; 2) a comunicação foi intensa e todos foram capazes de aprender algo novo com os colegas e investigaram mais os materiais didáticos disponibilizados; 3) nas respostas finas percebeu-se que as marcas do estudo foram incorporadas nos textos produzidos por cada estudante.

 

CONCLUSÃO:

A descrição do método e apresentação da proposta de avaliação pode ser útil para que professores busquem novas alternativas de ensino que promovam, além do aprendizado de Ciência, a interdisciplinaridade, o trabalho cooperativo e a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação, em especial a Internet.

Os dados da observação das aulas em consonância com o objeto, o diálogo, visto nas interlocuções, nos mostra que a aula para além dos muros escolares está onde existem pessoas desafiadas e interessadas em aprender. É um movimento permanente de reflexão e ação em todos os ambientes ou espaços, físico ou virtual, na sociedade e nos seus momentos interativos, nos quais as ações de viver, conviver, ensinar, aprender são inseparáveis.

Considerando o que foi vivenciado, pode-se dizer que o trabalho pedagógico para além dos muros da escola, quando se faz uso de ambientes virtuais de aprendizagem modelados para favorecer aprendizagem, ocorre de forma colaborativa; mais orientado por valores humanos do que por valores didáticos; respeita a diversidade e pluralidade de idéias; valoriza conhecimentos prévios dos sujeitos do processo educativo; preocupa-se com o que é significativo para eles; respeita o tempo e as possibilidades de cada um e prima pelo cuidado nas interações.

Referências Bibliográficas

BAKHTIN, Mickail. (2003). Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes. 2003, 476p.

BARDIN, Lawrence. (1994). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 394p.

ECHEVERRÍA, Maria Del Puy Pérez & POZO, Juan Ignácio. (1998). Aprender a resolver problemas e resolver problemas para aprender. In: POZO, Juan Ignácio (org). A solução de problemas. Aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre. Artmed. 237p.

 

 

Instituição de Fomento: CAPES/SETEC
Palavras-chave: Aulas de Ciências, Ambientes Virtuais de Aprendizagem, Diálogo.