61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
POR UMA DESCRIÇÃO FONÉTICA PRELIMINAR DA LÍNGUA YE'KUANA (KARÍB - RR)
Renata Oliveira Silva 1
Dioney Moreira Gomes 2
1. Instituto de letras - Universidade de Brasília/ UNB
2. Prof. Doutor - Instituto de letras - Universidade de Brasília/UNB - Orientador
INTRODUÇÃO:
Os Ye'kuana são um povo Karíb, que vive tanto na Venezuela quanto no Brasil (Roraima). Segundo Andrade (2007:7), “em censo de 1992, estimava-se a população Ye’kuana na Venezuela em 4.472 pessoas espalhadas em 59 aldeias, das quais 37 estão localizadas no Estado Amazonas e 22 no Estado Bolívar. No Brasil, eles são cerca de 360, vivendo em três aldeias, duas ao longo do rio Auaris, Fuduwaaduinha e Tajädedatänha (também conhecida como Pedra Branca), e uma no Uraricoera, conhecida como Waikás”. Do ponto de vista linguístico, não existe documentação e descrição da língua falada pelos Ye'kuana brasileiros. Do lado venezuelano, encontramos informações linguísticas em Hall (1988, 1991) e Escoriaza (1959, 1960). Como parte dos objetivos gerais do projeto do qual deriva esta apresentação, destacamos: a) documentar o léxico da língua; b) documentar o seu sistema fonético; c) descrever o seu sistema fonético. O trabalho justifica-se por contribuir com uma descrição de uma língua ainda não documentada e também por fornecer subsídios futuros para a implementação de políticas educacionais que valorizem a cultura indígena e respeitem sua história e seus modos de vida, que estão, simbioticamente, presentes na sua língua materna.
METODOLOGIA:
O trabalho partiu da análise dos dados do arquivo de campo de Andrade (2007), que foram digitalizados, analisados e categorizados. Ao mesmo tempo, foi feita a checagem do registro desses dados em fitas cassetes . Depois, contamos com o auxílio de um informante da etnia Ye’kuana, com o qual fizemos sessões de gravação e registro de itens lexicais, frases e textos. Em seguida, usando os conhecimentos da área da fonética, registramos os sons encontrados e os descrevemos. Procuramos dentro do nosso corpus, pares mínimos e análogos e iniciamos a construção de um quadro fonológico da língua Ye’kuana. Aqui extrapolamos os objetivos iniciais do projeto, o que, para nós, está sendo muito positivo. Outra etapa crucial da metodologia é a coleta de novos dados e a checagem junto a outros índios dos dados já analisados, as quais deverão ser realizadas na área indígena do Rio Auaris, no estado de Roraima.
RESULTADOS:
Com este trabalho, atingimos os seguintes resultados: documentamos um grande número de itens lexicais, e os agrupamos por campos semânticos; transcrevemos foneticamente os dados gravados; descrevemos os fones encontrados. E iniciamos um trabalho fonológico, com a procura de pares mínimos e análogos entre os dados coletados, para montarmos o quadro fonológico da língua Ye’kuana. Com isso, iniciamos a construção de uma base concreta de dados e análises para trabalhos de cunho fonológico e de outra natureza linguística futuramente
CONCLUSÃO:
O estudo de qualquer língua indígena é uma contribuição para o avanço dos estudos linguísticos em geral. E, com o estudo de uma língua ainda não documentada, procuramos contribuir com o progresso e enriquecimento da ciência linguística. Uma perda linguística é uma perda cultural, logo um abalo na riqueza e diversidade da humanidade. Assim, uma descrição linguística não serve somente como registro, mas também criam-se novas formas de fortalecimento e resistência de uma língua e de uma comunidade minoritária, inserida em um contexto maior e divergente da sua realidade. Por isso, ao lado do trabalho eminentemente linguístico, procuramos também fazer um trabalho social, junto aos índios. Tentamos contribuir, dentro da nossa área, com solicitações feitas por eles, que de alguma maneira lhes ajude a se fortalecer enquanto grupo, como exemplo a futura produção de um material didático que leve em consideração sua cultura e sua língua, ou seja, um material que tenha alguma relevância dentro do contexto ye’kuana. A descrição dos sons de uma língua é a forma mais básica, e que dá fundamentos para todas as outras etapas de descrição de uma língua. Após finda essa primeira fase, pretendemos continuar os estudos da língua Ye’kuana por campos mais complexos, nos quais o contexto e a cultura mostram sua influência de forma mais marcante, como no léxico, semântica, sintaxe e na pragmática.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ CNPq
Palavras-chave: Língua indígenas, Ye'kuana, Fonética e fonologia.