61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 3. Sociologia do Desenvolvimento
A CRISE AMBIENTAL ANALISADA A PARTIR DO PRINCÍPIO DE INCERTEZA DE HEISENBERG E DO CONCEITO DE PARADIGMA DE THOMAS KHUN.
Frederico Lisbôa Romão 1
Adauto de Souza Ribeiro 2
Luciane Pimenta Cruz Romão 3
1. Petrobras
2. Departamento de Biologia/Universidade Federal de Sergipe/UFS
3. Departamento de Química/Universidade Federal de Sergipe/UFS
INTRODUÇÃO:
Este artigo objetiva discutir a contemporânea crise ambiental como função de um tipo específico de desenvolvimento. Os dados divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, 2007) iniciou um processo de exposição de números, apresentação de elementos factuais e previsões sombrias, que conseguiu dar visibilidade, publicizando amplamente, à gravidade das condições ambientais em que se encontra o planeta. A questão agora passou a ser o que fazer? Na sua esmagadora maioria, análises buscando responder essa interrogação têm incorrido em erro crasso, qual seja: buscam resolver problemas oriundos de um paradigma (Khun, 1994), usando os conceitos dele próprio. A hipótese central desse trabalho identifica a insuficiência das propostas de saídas para a crise em função das mesmas serem signatárias do mesmo paradigma científico iluminista. A busca por respostas nos levou a revisitar o conceito de paradigma de Thomas Khun e conjunto de fatos e categorias conceituais trazidos à tona a partir das polêmicas travadas no nascedouro da mecânica quântica, particularmente com Heisenberg e o seu “princípio de incerteza”. Os conceitos inaugurados por esses dois pensadores nos permitem construir sociologicamente uma nova perspectiva analítica para a crise.
METODOLOGIA:
Na elaboração do argumento é apresentado o conceito de paradigma de Khun, para o qual perceber a necessidade de ir para além do paradigma vigente e construir/operar a partir de outro, não é tomada de posição que ocorra de forma tranqüila. Trabalha-se com a história da ciência, pois, não obstante todas as transformações a que se assiste desde fins do século XX, vive-se ainda na contemporaneidade sob os auspícios de paradigma fundado tecnicamente na revolução científica dos séculos XVI e XVII fulcrada a elementos do iluminismo, evento ocorrido nos idos dos séculos XVII e XVIII. Situa os avanços tecno científicos comandados por intelectuais do porte de Galileu, Newton, Bacon, entre outros, que legitimaram o paradigma de desenvolvimento vigente, em seguida apresenta a mecânica quântica, especialmente o princípio de incerteza de Heisenberg, como responsável por lançar novas luzes no campo cientifico, filosófico e da teoria da ciência. Apresenta dados internacionais e nacionais diversos, atuais, coletados junto a fontes diversas (ONU, NASA, artigos científicos) os quais explicitam a grave situação ambiental do planeta.
RESULTADOS:
Por Khun, os cientistas são educados dentro de paradigma específico, seus instrumentais se referenciam neles; portanto o movimento de transpô-lo é traumático. Perceber a necessidade de ir para além do paradigma vigente e construir outro, não é tomada de posição que ocorra tranqüilamente. Inaugura-se o século XIX com a ciência, particularmente a física, demonstrando grande capacidade resolutiva. Desponta a onipotência do homem, a sua infalível racionalidade científica, ilimitada capacidade de controlar a natureza e seu meio social. O sentido de desenvolvimento continuo e de auto suficiência do homem se absolutiza. Entretanto, nas primeiras décadas do século XX as discussões dentro da física quântica, particularmente, o principio de incerteza de Heisenberg atinge profunda e epistêmicamente o mundo científico. A partir dele a teoria do conhecimento se instrumentaliza para questionar fortemente a filosofia positivista, incrustada na concepção iluminista e tecnicista, descortinando a relativa capacidade cognitiva do homem como algo ontológico. Por sua vez, os dados explicitam a grave crise ambiental ao tempo que informam que a mesma não será resolvida simplesmente apostando na reciclagem, na pesquisa de novos materiais e/ou produção de combustíveis provenientes de fontes renováveis.
CONCLUSÃO:
Não existe solução para o conjunto de interrogações ambientais nos marcos atuais. Mesmo se mantendo as taxas contemporâneas de consumo, a natureza dá inúmeras provas de que já não suporta mais esse desenvolvimentismo consumista, que subsume o valor de uso ao tempo que exacerba o poder de troca das coisas. O nível de agressão, já exauriu sobremaneira sua capacidade regenerativa e de adaptação. A introdução da essência dos fundamentos heisenbergianos na discussão sobre as saídas para a crise ambiental, trará possibilidade real de solução para o atual desiderato dos humanos na sua relação com o meio socioambiental. As respostas à crise passam pela necessária construção de novo paradigma. Que faça se inaugurarem novas relações sociais, permitindo aos humanos se reencontrarem com suas necessidades reais, rompendo com a dinâmica do consumo induzido pela lógica do capital. Não se trata simplesmente de inventar, descobrir fontes, formas e usos relacionados à produção e consumo de energia e do meio ambiente. Não se trata tão pouco de se educar da educação velha, mas essencialmente REEDUCAR. Reeducar os humanos dentro de um novo modelo conceitual, no qual o elemento central seja a introspecção do sentido de limites naturais, cognitivos, epistemológicos e éticos.
Palavras-chave: Crise ambiental, Desenvolvimento, Paradigmas .