61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
A PERMANÊNCIA DO CAMPESINATO NOS MUNICÍPIOS DE BOM JARDIM E DUAS BARRAS, RIO DE JANEIRO: O CASO DOS POVOADOS DE RIBEIRÃO DE SÃO DOMINGOS E FAZENDA DO CAMPO.
José Grabois 1
Lucia Helena da Silva Cezar 4
Cátia Pereira dos Santos 4
Wallase Silva Botelho 3
Josimar Mendes da Silva 3
Maria Consuelo Rodrigues Bernardes 2
1. Professor doutor do Instituto de Geografia da UERJ. Orientador
2. Instituto de Geografia da UERJ. Graduada em Geografia pela PUC/RJ
3. Faculdade de Formação de Professores da UERJ São Gonçalo. Bolsistas de IC.
4. Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Mestras em Geografia.
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é fruto de pesquisa mais ampla que objetivou resgatar, desde o último quartel do século XX até os dias atuais, as diferentes etapas do desenvolvimento da economia agrária nos municípios de Bom Jardim e Duas Barras. Tal resgate significou a tentativa de mostrar como o campesinato, em busca da sua permanência, criou formas de adaptação aos diferentes contextos que se delinearam ao longo da história regional e se manifestaram de forma variável na produção do espaço. Tendo como pano de fundo o desenvolvimento do capitalismo no campo e passando pela preocupação da Geografia com o permanente processo de reordenação espacial, o estudo trata especificamente dos povoados de Ribeirão de São Domingos em Bom Jardim e Fazenda do Campo em Duas Barras cuja estruturação é exemplo da forte influência de Nova Friburgo. Reflexão sobre o caráter e as transformações que historicamente o campesinato vem assumindo no Brasil, a pesquisa prestou-se, enquanto estudo de caso, à comprovação da permanência do trabalho camponês, aí residindo sua relevância teórica. Tem, ainda, importância social, constituindo subsídio para implementação de políticas públicas visando melhorias das condições de vida do trabalhador rural.
METODOLOGIA:
De acordo com a proposta da pesquisa e apoiados nas idéias de autores como Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Maria Emília Lisboa Pacheco, Marta Inez Medeiros Marques e João Pedro Stédile sobre a permanência do trabalho camponês, abordamos a evolução econômica dos municípios e seus reflexos nas sucessivas reordenações espaciais e nas transformações sofridas pelo campesinato. Tendo em conta que o estudo geográfico permite a percepção dos termos concretos das relações sociedade-espaço, nas quais está implícita a consideração de uma perspectiva histórica e contemplando o desenvolvimento do estudo do trinômio terra-capital-trabalho, abordamos os assuntos evolução da economia, morfologia agrária, sistemas agrícolas, estrutura fundiária, relações de trabalho, comercialização e impactos ambientais. Para alcançar o que foi proposto, efetuamos inicialmente o levantamento e a análise de material bibliográfico, cartográfico e de dados secundários. Além do trabalho em gabinete, buscando criar condições de maior aproximação possível da realidade, enfatizamos o trabalho de campo realizado em diferentes etapas. Ele compreende a aplicação e interação permanente das técnicas de realização de entrevistas e observação da paisagem onde se materializa o processo de produção do espaço.
RESULTADOS:
Os povoados em foco situam-se no sul de Bom Jardim e de Duas Barras, municípios representativos da faixa de transição entre o Noroeste e a Serra Fluminense. Nesta faixa coexistem, com intensidade variável, quadros agrários específicos, ligados de um lado à história do café e, de outro, à pequena agricultura, tradicional ou modernizada. O espaço agrário de São Domingos e Fazenda do Campo, típico de antigas áreas de cafezais substituídos por pastagens e, mais recentemente, por ‘moitas’ de eucaliptos, é também marcado pela presença mais ou menos significativa de lavouras tradicionais, de horticultura modernizada de caixaria, de floricultura e fruticultura. Neste espaço é forte a participação de unidades de produção camponesa que mostram notável diversidade. A difusão da pequena agricultura liga-se à proximidade do território da antiga colonização suíça e alemã em Nova Friburgo, Vargem Alta no caso de São Domingos e Riograndina no caso de Fazenda do Campo. Neste povoado a agricultura tornou-se menos importante e a evidência da transformação, além de um loteamento recente em antigo cafezal, é a criação, na última década, de seis confecções onde existiam unidades camponesas agora esvaziadas do seu conteúdo agrário, refletindo a influência direta da cidade de Nova Friburgo.
CONCLUSÃO:
Este estudo de caso se por um lado permitiu a comprovação da permanência do trabalho camponês, por outro corroborou as proposições a respeito da proletarização de uma parte do campesinato. Consideramos muito relevante a constatação da grande diversidade de formas de trabalho camponês na área da pesquisa, pois ela evidencia a existência dos mecanismos responsáveis pela reprodução do campesinato, significando sua adaptação a conjunturas inerentes ao processo de desenvolvimento capitalista. Tudo isto está na base da argumentação de que o fenômeno da proletarização não significa necessariamente serem as unidades de produção camponesa consideradas resíduos em vias de extinção, pois o capital ao mesmo tempo em que promove a proletarização, cria e recria formas não-capitalistas de produção no campo viabilizando a permanência dessas unidades.
Instituição de Fomento: CNPq e FAPERJ
Palavras-chave: desenvolvimento capitalista e reestruturação produtiva, estrutura fundiária e relações de trabalho, territorialidade.