61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 2. Cirurgia
RELAÇÕES DO RAMO EXTERNO DO NERVO LARÍNGEO SUPERIOR COM A ARTÉRIA TIREÓIDEA SUPERIOR: ESTUDO EM 101 NERVOS.
João Bosco Botelho 1
José Cardoso Neto 2
Gecildo Soriano dos Anjos 2
Diego Monteiro de Carvalho 1
Emanuel Gomes dos Santos Júnior 1
Yanna da Silva de Melo 1
1. Escola Superior de Ciências da Saúde/Universidade do Estado do Amazonas ESA/UEA
2. Universidade Federal do Amazonas - UFAM
INTRODUÇÃO:
As doenças cirúrgicas da glândula tireóide, em especial os bócios de grande volume (BGV), freqüentes nas áreas geográficas bociogênicas, como no Amazonas, representam importante problema de saúde pública. O nervo laríngeo superior (NLS) é ramo do nervo vago (X par craniano), emerge na base do crânio, com trajeto descendente até próximo ao corno do osso hióide, dividindo-se em dois ramos: o interno ou superior (NLSI) e o externo ou inferior (NLSE). O NLSE caminha sobre o músculo constritor inferior da faringe ou o perfura com trajeto crânio-caudal, obliquamente, até o nível onde inerva o músculo cricotireóideo. Tem função motora, mantendo as pregas vocais tensionadas. Em conseqüência da contigüidade com a artéria tireóidea superior, as lesões iatrogênicas do NLSE, nas tireoidectomias, são citadas na literatura. Este trabalho tem os objetivos de construir um protocolo cirúrgico das relações anatômicas topográficas entre o NLSE e a artéria tireóidea superior, contribuir para evitar iatrogenia na ligadura dessa artéria e acrescentar dados às propostas classificatórias descritas na literatura.
METODOLOGIA:
Foram dissecadas bilateralmente as regiões cervicais de 57 cadáveres frescos, no Instituto Médico Legal do Estado do Amazonas, com identificação fotográfica dos NLSE e respectivas relações com a artéria tireóidea superior. A partir dos dados obtidos elaborou-se classificação: Tipo1: NLSE não identificado; Tipo2: NLSE cruza a artéria tireóidea superior a distância maior de 1,5cm do limite cranial do lobo da glândula tireóide; Tipo3: NLSE cruza a artéria entre 1cm e 1,5cm do limite cranial do lobo da glândula tireóide; Tipo4: NLSE cruza a artéria a menos de 1cm do limite cranial do lobo da glândula; Tipo5: NLSE cruza, látero-medialmente, abaixo do limite cranial do lobo tireóideo. Como suplemento classificatório, os tipos 2, 3 e 4 receberam subclassificação: A - quando se encontrava parcial ou totalmente envolto no tecido conjuntivo superficial peri-muscular ou intra-muscular, no constritor inferior da faringe, em mais da metade de seu percurso, após cruzar a artéria tireóide superior; B – quando se encontrava fora destes tecidos. A análise estatística dos dados foi feita com os testes t-pareado e qui-quadrado (x²) e análise estatística descritiva.
RESULTADOS:
O estudo abrangeu 101 relações entre o NLSE e a artéria tireóidea superior, em 57 cadáveres frescos, não formalizados, no período de dezembro de 2007 a setembro de 2008. A análise estatística da amostra evidenciou: indivíduos pardos, predominante masculino e com idades entre 21 e 35 anos. Os 101 NLSE dissecados foram estudados de acordo a nova classificação, proposta neste estudo, na qual, o segmento distal do NLSE foi encontrado envolvido no tecido conectivo areolar superficial ou na substância do músculo constritor inferior da faringe (subtipo A) em metade dos lobos. A avaliação das distâncias entre os limites craniais dos lobos tireóideos e os pontos de cruzamentos dos NLSE com as artérias tireóideas superiores, tanto à direita quanto à esquerda, não demonstraram diferença estatística significativa (p=0,144) ao teste t-pareado. A discordância com resultados dos principais trabalhos na literatura mundial, é quanto à alta possibilidade do NLSE cruzar a glândula tireóide abaixo do limite cranial do lobo (Tipo5), apresentação que segundo outros autores indicaria identificação sistemática do NLSE no curso cirúrgico. Este trabalho identificou 1 caso NSLE (0,99%) nessa topografia, em uma amostra superior aos clássicos trabalhos publicados.
CONCLUSÃO:
Sob essa perspectiva revisional, com base nos resultados obtidos neste trabalho e considerando a importância anatômico-cirúrgica do NLSE e a ausência de classificação associando a distância entre o cruzamento do NLSE com a artéria tireóidea superior em relação ao limite cranial do lobo da tireóide e o trajeto intra-muscular do nervo, no músculo constrictor inferior da faringe. É possível construir um protocolo para a ligadura da artéria tireóidea superior, no curso das tireoidectomias, com o objetivo de evitar a lesão iatrogênica do NLSE: 1. Não há indicação para a obrigatoriedade da identificação sistemática do NLSE no curso das tireoidectomias parciais ou totais; 2. A ligadura da artéria tireóide superior pode ser realizada com a margem de segurança necessária, sob visão direta, do curto trajeto de verticalização da artéria, antes de penetrar no lobo tireóideo.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM
Palavras-chave: Nervo laríngeo superior, Tireóide, Anatomia.