61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
A REDE PRÁTICA DO ETANOL
Bruna Nicodemos Sekimura 1
Lucas Lopes de Moraes 1
Karine Rio Philippi 1
Jean Doniseti Bortolucci 1
Gisele Fernanda Alves Lopes 1
Edmundo Antonio Peggion 1
1. PET Ciências Sociais, Faculdade de Ciências e Letras, Unesp
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa pretende analisar a rede prática produzida pela interação entre Sociedade e Ciência, com enfoque no etanol enquanto sujeito/híbrido em sua inserção na sociedade como fato científico que vai além dos limites dos laboratórios de pesquisa, transformando-se em uma realidade concreta, interferindo nas mais diversas dimensões da sociedade e do conhecimento. Desse modo, objetiva-se restabelecer a simetria necessária a uma análise que pretende compreender todos os aspectos do conjunto de atores que compõem essa rede e que não mais podem ser definidos apenas como sujeitos ou objetos. Essa simetria na análise das ciências e da sociedade como um todo não mais se baseia em noções hierárquicas que pretendam colocar o cientista como um ator isolado, mas visa mostrar, a partir do etanol, a inteligibilidade dessa rede/rizoma constituída de atores e interesses ligados ao trabalho, à política, à economia e à própria produção de conhecimento no interior da academia.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa, realizada pelo PET Ciências Sociais da Unesp de Araraquara, valeu-se dos conceitos de rizoma de Gilles Deleuze & Félix Guatarri, de Fato Social Total de Marcel Mauss, e dos estudos de Michel Serres e Bruno Latour em Filosofia das Ciências, para realizar um estudo tanto prático quanto teórico em que se buscou estabelecer um diálogo entre esses autores, utilizando seus conceitos de modo a enfocar os paradoxos das ciências modernas no interior das Ciências Sociais. Assim, partiu-se de uma análise da ciência como uma rede de atores que conecta elementos heterogêneos para apreender os vários discursos produzidos por ela, os quais atingem todas as áreas da sociedade. Tomou-se como objeto de estudo o etanol, um híbrido, que possibilita o entendimento de como os produtos da ciência influenciam todas as dimensões da sociedade e do saber, tornando inteligíveis as redes formadas por esse cosmo de atores, sujeitos, objetos e, sobretudo, de híbridos. A análise antropológica, com realização de pesquisa de campo caracterizada por entrevistas com a presença de um dos pesquisadores, permitiu abordar empiricamente como os discursos dos diferentes atores que integram a rede do etanol se cruzam e, assim, validam a compreensão dessa rede como um Fato Social Total.
RESULTADOS:
O estudo da rede prática do etanol realizou-se mediante pesquisas paralelas que objetivaram mapear todos os âmbitos das complexas redes geradas pela produção de etanol. A partir disso, foram estabelecidos pontos de mediação e tradução que interligam trabalhadores, pesquisas científicas, ações políticas, conectando desse modo o local e o global, a ciência e a política. É nesse sentido que observamos e analisamos a rede prática do etanol, uma rede de atores que interliga elementos heterogêneos que interagem entre si, restabelecendo uma simetria entre as diversas áreas do conhecimento. Além disso, o estudo da questão prática da rede do etanol possibilitou a percepção de como a produção do etanol nas usinas sucroalcooleiras do país afeta a sociedade e a cultura brasileira, bem como o hibridismo dos fatos atuais que promove a conexão de elementos heterogêneos e a resignificação das relações entre ciência e sociedade.
CONCLUSÃO:
Analisando o etanol como nó da rede, percebemos como a interação entre as várias ciências constrói um contexto em que se cruzam diversos interesses, os quais produzem discursos similares de atores de diferentes áreas do conhecimento. Além disso, compreendemos de que modo o etanol, enquanto inovação científica, altera a realidade social de uma comunidade. Podemos afirmar a inter-relação existente entre os fatos científicos, sociais, políticos e econômicos formando redes que constituem um Fato Social Total, que relaciona várias dimensões do contexto social e não pode ser isolado e classificado de acordo com uma visão hierárquica e assimétrica. É nesse sentido que entendemos a ciência como resultado de uma cadeia horizontal de fatos e discursos, podendo desse modo ser explicada e compreendida como processo que origina aquilo que é definido por Latour como híbridos: mistos de sujeitos e objetos, “coisas” que não podem ser definidas como naturais ou culturais, que permeiam nosso contexto sem serem plenamente compreendidos ou explicados, mas que representam e são representados em seus interesses, interagindo com todas as dimensões da realidade social e articulando natureza e cultura, ciência e sociedade.
Instituição de Fomento: PET-SESu/MEC
Palavras-chave: ciência, rede, etanol.