61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana
  FRONTEIRAS DE VENTO: UM ESTUDO SOBRE A VIDA DE INDÍGENAS E MARANHENSES NOS BAIRROS POPULARES DE BOA VISTA – RORAIMA.
José Carlos Franco de Lima 1
1. Universidade Federal de Roraima / UFRR
INTRODUÇÃO:

 

A pesquisa sobre a vida nos bairros populares de Boa Vista foi iniciada em agosto de 2006. Algumas questões nos orientaram de forma permanente no processo de pesquisa: Quais as condições de vida nos bairros populares de Boa Vista? Como vivem os índios na cidade? E os migrantes maranhenses? Como articular linguagem acadêmica com linguagem popular? A partir dessa problemática buscamos produzir informações sobre as condições de vida nos bairros populares de Boa Vista, partindo da interação entre os dados estatísticos disponíveis, nossa percepção in loco e a visão dos moradores desses bairros. Estabelecemos como meta disponibilizar e divulgar tais informações junto a cidadãos e organizações sociais interessados em compreender o funcionamento da sociedade contemporânea na forma como se manifesta nesses bairros. Para tanto promovemos momentos de reflexão coletiva entre universitários e pesquisandos em torno das temáticas levantadas na pesquisa.

METODOLOGIA:
 

A pesquisa sobre a vida nos bairros populares de Boa Vista foi iniciada em agosto de 2006. Algumas questões nos orientaram de forma permanente no processo de pesquisa: Quais as condições de vida nos bairros populares de Boa Vista? Como vivem os índios na cidade? E os migrantes maranhenses? Como articular linguagem acadêmica com linguagem popular? A partir dessa problemática buscamos produzir informações sobre as condições de vida nos bairros populares de Boa Vista, partindo da interação entre os dados estatísticos disponíveis, nossa percepção in loco e a visão dos moradores desses bairros. Estabelecemos como meta disponibilizar e divulgar tais informações junto a cidadãos e organizações sociais interessados em compreender o funcionamento da sociedade contemporânea na forma como se manifesta nesses bairros. Para tanto promovemos momentos de reflexão coletiva entre universitários e pesquisandos em torno das temáticas levantadas na pesquisa.

 

 

RESULTADOS:

 

No âmbito desta pesquisa entende-se por indígenas: moradores de bairros populares que se auto-reconhecem índios ou descendentes de índios.O contato com as comunidades indígenas situadas no Brasil e Guiana é mantido pela maioria dos indígenas urbanos com os quais tivemos contato. Inclusive no período de fim de ano é muito comum crianças, jovens e adultos passarem férias no interior, termo que designa comunidades situadas em áreas indígenas e rurais. O inverso também é comum: crianças, adolescentes e jovens das comunidades indígenas passarem férias escolares em Boa Vista. A maioria dos mais velhos falam na língua materna ou em alguns casos em inglês guianense. Alguns mais novos entendem, mas a maioria desses só utiliza o português. A maioria das famílias que visitamos são chefiadas por mulheres. É comum encontrarmos adolescentes que namoram homens casados e recebem uma ajuda financeira para se manter. O trabalho remunerado apareceu como um dos grandes problemas para os jovens. Indígenas. Os auxíllios estatais do tipo Bolsa Escola aparecem como fontes de renda permanentes. Encontramos casos de exploração do trabalho na iniciativa privada que cobra jornadas exaustivas, acima das 44 horas semanais, sem registro em carteira. A venda de cosméticos e a costura de roupas são opções no campo do trabalho autônomo.

O ingresso no serviço público via concurso parece ser mais comum entre os indígenas que trabalhavam na área estatal quando Roraima era território. Em relação a condição de moradia, a maioria dos domicílios dos indígenas urbanizados são próprios. Inclusive servindo de casa de apoio para parentes do interior. Em relação a religião, as igrejas evangélicas e católicas atraem a população indígena. Porém, a prática de benzimento por rezadores continua viva. O censo 2007 do IBGE constatou um contingente de 92 mil maranhenses vivendo em Roraima. As políticas governamentais para ocupação da amazonia durante o regime militar e nova república estimularam a vinda de maranhenses para o extremo norte. Principalmente após a abertura da BR 174. Boa parte dos maranhenses se instalaram na área rural em pequenas propriedades rurais. A maioria dos colonos sem apoio para infra-estrutura e custeio acabaram mudando para Boa Vista. Muitos se tornaram funcionários públicos, maior segmento do mercado de trabalho local. Mas a maioria engrossa o contingente dos desempregados. A dependência de auxílios estatais se intensificou nessa conjuntura: Do ponto de vista político reproduziu-se a práticas políticas vigentes no Maranhão: a centralização do poder combinada com populismo assistencialista e a compra-venda de votos. A maioria dos maranhenses são afro-descendentes, representando a negritude presente no estado. O casamento de homens maranhenses com mulheres indígenas se tornou muito comum.

CONCLUSÃO:

As açóes públicas e privadas devem se pautar sobre as necessidades sociais das camadas menos abastadas da sociedade. Visitamos bairros. Mapeamos condições de renda, trabalho, moradia, saúde, segurança, saneamento e trânsito dos moradores dos bairros populares de Boa Vista – Roraima, em especial de indígenas e maranhenses. Dentre as dificuldades enfrentadas por esta população estão o preconceito e a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. O que impacta principalmente sobre os jovens. A falta de oferta de cursos gratuitos de qualificação profissional, especialmente na área de informática, e a fragilização da identidade indígena devido a descriminação e ao choque cultural são fatores decisivos no quadro de exclusão social vivido por estes segmentos. O apoio e a consolidação a organizações sociais de terceiro setor autônomas em relação ao estado e ao mercado, é uma estratégia que permitiria a cconstituição de uma sociedade com maior respeito a diversidade cultural. Por isso disseminamos os resultados da pesquisa junto a cidadãos e organizações sociais interessados em compreender o funcionamento da sociedade contemporânea na forma como se manifesta nesses bairros. Para tanto promovemos momentos de reflexão coletiva entre universitários e pesquisandos em torno das temáticas levantadas na pesquisa.

Palavras-chave: indígenas urbanizados, migrantes maranhenses, bairros populares.