61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 8. Demografia - 5. Nupcialidade e Família
MUDANÇAS NO PADRÃO TRADICIONAL DE FAMÍLIA: UM ESTUDO SOBRE AS PESSOAS SOZINHAS NO BRASIL ENTRE 1987 E 2007.
Angelita Alves de Carvalho 1
José Eustáquio Diniz Alves 1
1. Escola Nacional de Ciências Estatísticas
INTRODUÇÃO:
Diante do processo avançado de transição demográfica para o qual o Brasil está se direcionando torna-se importante discutir e analisar as conseqüências da dinâmica demográfica, especificamente, a redução da fecundidade e aumento da longevidade, que influenciam diretamente o tamanho e a composição dos arranjos familiares e domiciliares, contribuindo assim para a crescente formação de domicílios unipessoais (com uma pessoa). Estudos revelam diminuição das famílias nucleares, estendidas e compostas, e crescimento das famílias monoparentais femininas e domicílios unipessoais. Estas transformações estão relacionadas aos processos de individualização e mudança na estrutura etária da população, característicos da modernidade, onde aumenta-se o número de pessoas idosas que moram só, outras que por opção vivem sozinhas e jovens que cada vez mais adiam o casamento. No Brasil muitos autores retratam o aumento das famílias pequenas como resultado da redução da fecundidade e da mortalidade, garantindo mais tempo de vida aos adultos, que passam a viver como casal ou sozinhos. Assim os arranjos domiciliares estão tornando-se mais heterogêneos quanto à composição de seus núcleos e mais homogêneos quanto ao tamanho e à composição de suas periferias. Nesse contexto de mudança nas estruturas domiciliares brasileiras, esta pesquisa teve como objetivo traçar um breve perfil dos arranjos domiciliares unipessoais entre as décadas de 1987, 1997 e 2007.
METODOLOGIA:

Os dados utilizados foram os da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) dos anos de 1987, 1997 e 2007, a qual é realizada anualmente pelo IBGE e integra o sistema de pesquisas domiciliares que tem como finalidade “a produção de informações básicas para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do País”. Os dados das pesquisas foram tabulados por meio do Banco Multidimensional de Estatística (BME) e Excel. Posteriormente foram analisados por meio de análise descritiva. É necessário esclarecer que todos os cálculos são feitos com base na categoria de domicílio particular permanente e que as variáveis tipo de arranjos domiciliares (casal sem filhos, casal com filhos, monoparental feminina e outros arranjos) e número de pessoas no domicílio (uma, duas, três, quatro e cinco e mais de seis) são calculados de acordo com o número total de domicílios. Já os cálculos das taxas de pessoa só, continuam sendo em relação ao domicílio particular permanente, contudo é feito com base no número total de pessoas em determinada coorte e não sobre o número total de domicílios e sim de moradores. Foi calculado a taxa de pessoa só e o crescimento relativo do número de moradores sozinhos a nível Brasil segundo as seguintes variáveis: grupos de idade e sexo.

RESULTADOS:

Sobre os tipos de arranjos, casal com filhos, apesar de ainda serem os mais representativos, reduziu sua participação total (63% em 1987 e 49% em 2007), cresceram o tipo monoparental feminina (13% e 17%), casais sem filhos (12% e 16%) e outros tipos (domicílios unipessoais principalmente). Sobre o número de componentes, domicílios com 4 a 5 pessoas ainda são os mais representativos, contudo seu número vem caindo desde 1987, conjuntamente aos domicílios com seis e mais pessoas, passando do mais representativo em 1987 para o menor grupo 2007. Quanto ao crescimento 87/07 foi maior para os domicílios com uma (212%), duas (168%) e três (146%) pessoas, houve decréscimo entre os de seis e mais pessoas (-32%). Sobre a taxa de pessoa só ela é mais concentrada nas faixas etárias acima de 60 anos e é maior entre os homens. Contudo quando se observa as faixas etárias percebe-se que isso ocorre somente nas primeiras idades, pois a taxa se inverte a partir da classe 55 a 59 anos, tornando-se bem mais elevada para as mulheres. O crescimento 87/07 das pessoas sozinhas é superior ao crescimento da população como um todo em todas as classes de idade, principalmente nas faixas de 40 a 50 anos. Apesar da taxa de pessoa só nas primeiras idades ser maior para os homens, vem crescendo o número de mulheres que vivem sozinhas nos grupos mais jovens, contudo, a partir da classe de 30 a 34 anos são os homens que passam então a apresentar um maior crescimento que se estende até mesmo para as classes mais elevadas (exceto entre 50-54 e de 70 anos e mais).

CONCLUSÃO:
Os arranjos domiciliares vem se transformando no Brasil ao longo dos anos, tornando-se cada vez mais presente os arranjos unipessoais. Assim a família, hoje, não deve ser vista somente sob a ótica clássica da família nuclear, pois novas estruturas familiares estão surgindo, sejam elas formadas por pessoas que optam por terem filhos fora das uniões conjugais, por aqueles que optam por não terem filhos, por uniões dissolvidas em que alguns retornam a casa dos pais ou se fundem a novas famílias, mulheres que se tornam mães solteiras ou jovens que escolhem sair da casa dos pais e morar sozinho. Assim, pelos arranjos citados acima e comprovados pelos dados, onde os domicílios unipessoais passaram de 6,7% em 1987 para 11,5% em 2007, espera-se que haja um grande crescimento deste tipo de arranjo domiciliar. Sugere-se que este crescimento se dará de forma mais expressiva entre os idosos, contudo pelo que se observou neste trabalho, há evidências que apontam para o crescimento maior entre os adultos de 40 a 50 anos, pois foram os grupos etários com maior crescimento 1987/2007. E, apesar de um crescimento menor do que o conjunto de pessoas sozinhas sugere-se ainda, mesmo que de forma incipiente, o crescimento de pessoa só entre os grupos de até 29 anos, principalmente entre as mulheres. Esta possível tendência poderia estar correlacionada às mudanças nos valores familiares (gênero, casamento e filhos) principalmente às novas opções de vida das pessoas, nas quais os interesses individuais vêm tornando-se prioritários.
Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Dinâmica Familiar, Arranjo Domiciliar Unipessoal, Taxa de Pessoa Só.