61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 5. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca
REPRODUÇÃO Hoplosternum littorale E RELAÇÃO COM FATORES ABIÓTICOS EM UM LAGO DE VÁRZEA, AM, BR
Hévea Monteiro Maciel 1
Maria Gercilia Mota Soares 2, 3
Sérgio Ferreira Neto 2
1. Universidade Federal do Amazonas, Mestranda CIPET - UFAM
2. Laboratório de Biologia e Ecologia de Peixes - INPA
3. Pesquisadora Drª. Orientadora - INPA
INTRODUÇÃO:
Nas áreas de várzea da Amazônia Central a flutuação do nível da água, cerca de 15 m, promove variações sazonais do nível da água que são fundamentais no ciclo de vida dos peixes. A reprodução, por exemplo, é influenciada além dos fatores endógenos, pelas condições do meio ambiente que favoreçam a sobrevivência e desenvolvimento das larvas. Hoplosternum littorale (Hancock, 1828), Siluriformes da família Callichthyidae conhecido como tamoatá, vive na enchente e cheia em áreas alagadas, disperso nas várzeas e igapós e na seca se refugia em lagos permanente, poças d’água, até a próxima alagação. O fato de habitar permanentemente estes ambientes nos levou a formular questões sobre a sua reprodução, importantes para o conhecimento da dinâmica de reprodução de uma espécie não migradora: Qual a época e o local de desova? Quais fatores abióticos (variáveis físico e físico-químicos da água e pluviosidade) podem ser relacionados com o inicio da reprodução?  Informações sobre a reprodução são usadas no estabelecimento de uma política de conservação e manejo dos recursos pesqueiros e entendimento ecológico do papel desempenhado das espécies no lago de várzea.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado no lago Camaleão, ilha da Marchantaria, Município de Iranduba, AM/BR. A flutuação média anual do nível da água varia em torno de 10 m e a enchente no rio começa em novembro atinge a cota máxima em julho; a vazante inicia-se em agosto, sendo outubro o mês mais seco. A coleta dos peixes foi efetuada mensalmente, maio/1998 a abril/1999, em vários habitats do lago com baterias de malhadeiras. No laboratório cada exemplar, foi obtido o comprimento padrão (cm), peso total (g), peso dos ovários (g) e identificado os estádios de maturação gonadal (imaturos, repouso, maturação, maduro, desovado) e estimado o tamanho de primeira maturação sexual (L50). As variáveis limnológicas, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, temperatura, potencial hidrogeniônico, profundidade e transparência, foram medidas concomitantes as coletas dos peixes. O nível da água foi obtido na CPRM e a pluviosidade na EMBRAPA/AM. Finalmente, o período reprodutivo foi estabelecido com base na análise da variação temporal da freqüência de ocorrência dos exemplares nos diferentes estádios de maturação gonadal e da relação gonadossomática com a variação do nível d’água.
RESULTADOS:
Foram coletados 207 fêmeas de H. littorale medindo de 6,9 a 17cm de comprimento padrão e pesando de 18,5 a 170g.  A análise das gônadas revela o início da maturação em outubro, novembro e dezembro, neste último mês as fêmeas estavam maduras, mas, todas estavam com gônadas maduras em janeiro e fevereiro. Em março ainda é alta o número de exemplares maduros, embora alguns já estejam em estádio desovado. Finalmente em abril a maioria dos exemplares tinha gônadas desovadas e em maio foi registrada a presença de indivíduos imaturos (jovens). O L50 foi de 10,9cm de Cp. A relação gonadossomática indica valores aumentando de repouso (0,51±0,43), em abril até alcançar valor máximo no de maduro em janeiro (10,44±0,97), para, em seguida, decrescer na desova (7,47±3,48) em março. A condutividade elétrica, a concentração de oxigênio, a profundidade e a transparência variaram durante todo o ciclo hidrológico. A concentração de oxigênio foi baixa na enchente e cheia e alta na seca; a condutividade foi maior na seca, diminuindo na enchente e alcançando o baixo valor na cheia; a profundidade foi maior na cheia e menor na seca; a transparência da água foi menor na enchente e maior na vazante. As chuvas começam em dezembro e em março e abril ocorre às maiores precipitação.
CONCLUSÃO:

H. littorale exibe um padrão de reprodução sazonal com um período desova, iniciando em janeiro (final da seca, início das chuvas), prolongando até março (enchente, pico das chuvas. Em janeiro são observados os ovos circundados por bolhas de ar em ninhos construídos nos bancos de macrófitas. Embora o comprimento da primeira maturação apresente variações determinadas pelas condições ambientais, o tamanho registrado 10,9 cm, não discorda daqueles observados em outros lagos. Como a temperatura, pH e transparência, pouco variaram no ciclo hidrológico é sugerindo que não tenham influência na desova. Assim como as concentrações de oxigênio, pois as bolhas de ar nos ninhos têm a função de fornecer oxigênio. Então é sugerido que uma associação de fatores como a redução da condutividade elétrica, início das chuvas e aumento da profundidade de água possam ter influenciar na desova.

 

Instituição de Fomento: MCT-PPG7, FINEP
Palavras-chave: desova, Hoplosternum littorale, condutividade elétrica.