61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 8. Demografia - 5. Nupcialidade e Família
DINÂMICA DEMOGRÁFICA E OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES: O EXEMPLO DO CASAL DINC.
Luiz Felipe Walter Barros 1
José Eustáquio Diniz Alves 2
Suzana Cavenaghi 2
1. Mestrando da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE
2. Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE
INTRODUÇÃO:
O século XX foi marcado por diversas mudanças na estrutura familiar. Transformações nos processos que configuram esta instituição fizeram com que a revolução sexual, as parcerias informais, a regulação da fecundidade e formas menos patriarcais de relacionamento tomassem dimensões sem precedentes. Com a urbanização, as transformações culturais e a crescente escolarização feminina e sua entrada no mercado de trabalho, a mulher tem se tornado cada vez mais independente e buscado cada vez mais sua realização profissional em detrimento de antigos valores do passado. É exatamente neste contexto que surgem e se expandem os casais sem filhos, especialmente aqueles que apresentam dupla renda, ou seja, os casais de Duplo Ingresso e Nenhuma Criança – DINC. Vários estudos vêm apontando características muito singulares para este tipo de família, que tem demonstrado pertencer às camadas mais privilegiadas da população, com melhor condição socioeconômica, domicílios com maior acesso ao saneamento básico e melhores indicadores no que se refere à equidade de gênero. Este estudo tem por objetivo apresentar um resumo do perfil sócio-demográfico e dos diferenciais de gênero destes casais, apresentando também uma análise de agrupamentos que confere maior suporte estatístico às informações obtidas.
METODOLOGIA:
Todas as análises foram realizadas com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, anos 1996 e 2006. Para a manipulação dos dados foram utilizados os softwares SAS, SPSS e Excel. Utilizou-se SAS e Excel para tabulação e construção de gráficos e o SPSS na implementação do método de agrupamento (Two-Sptep Cluster). Como na PNAD não existem perguntas sobre o desejo de se ter um filho, nem tão pouco sobre a fecundidade masculina, foi necessário estabelecer alguns critérios para que tenhamos uma aproximação deste tipo de família no Brasil: a) só considerar filhos dos homens os que estavam no domicílio, pois a PNAD não possui informações sobre fecundidade masculina; b) a mulher tenha declarado não ter tido filho (nascido vivo ou morto) e não tenha adotado uma criança, ou seja, a mulher não poderia ter filho morando no domicílio ou fora dele; c) ambos – chefe e cônjuge – devem ter algum tipo de rendimento monetário – dupla renda – não importando a fonte. Os demais tipos de família escolhidos para se comparar aos casais DINC são: Casais de DR com um filho; Casais de DR com dois filhos; Casais de DR com três ou mais filhos; Demais casais (casais sem DR independente do número de filhos); Demais arranjos.
RESULTADOS:
Embora a definição de família DINC dificulte sua mensuração com os dados disponíveis, não resta dúvida de que os casais sem filhos têm se tornado um fenômeno social importante, não necessariamente pela quantidade, mas sim por suas características paradigmáticas. Nossa estimativa aponta que em 1996 a família DINC compunha 2,7% do total de domicílios, passando para 3,7% em 2006. Em termos absolutos, o crescimento foi de quase 90%, em dez anos. Existem casais DINC em que apenas um dos cônjuges trabalha e o outro possui renda de outro tipo (como aluguéis, participação em lucros, etc.), e existem também casos em que os dois já são aposentados e não trabalham mais. No entanto, pudemos comprovar que a grande maioria dos atuais casais DINC heterossexuais apontados pelas PNADs de 1996 e 2006 são constituídos de casal que trabalha, são relativamente jovens, tem maior nível educacional do que a média, moram predominantemente em áreas urbanas das regiões Sul e Sudeste e possuem padrão de consumo e renda média domiciliar per capita bem mais elevada dos que a dos outros arranjos familiares. A divisão sexual do trabalho na família DINC, embora não igualitária, é mais bem distribuída entre os cônjuges do que outros arranjos, e análises de agrupamento.
CONCLUSÃO:
O crescimento dos casais DINC faz parte de uma tendência de democratização da vida familiar. Enquanto uma tendência de queda da fecundidade, este crescimento levará a um aprofundamento do processo de fecundidade abaixo da reposição, com suas externalidades negativas expressas no processo de envelhecimento e o aumento das taxas de dependência demográfica. Os casais DINC são a expressão da liberdade de escolha e fazem parte de um processo de adaptação das pessoas e das famílias às condições econômicas, sociais e culturais do mundo atual. Contudo, a generalização e expansão dos casais sem filhos terão efeitos importantes sobre a dinâmica demográfica que precisam ser melhor compreendidos e melhor estudados. Mesmo representando apenas 3,7% dos domicílios brasileiros, em 2006, conhecer as características destes casais é importante para as políticas públicas, pois trata-se de um tipo de família menos presente nos segmentos mais pobres da população, mesmos sem o apoio explícito do Estado. Consequentemente conseguem obter maior esperança de vida e melhor padrão de conforto, constituindo-se também em um segmento de mercado muito atraente para as empresas (e a demografia de negócios), pois possui um maior poder de compra e padrões de consumo superiores aos da média dos domicílios.
Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Casais sem Filhos, Dupla Renda, Diferenciais de Gênero.