61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
Dicionário Terminológico Escolar Bilíngue Português-Mundurukú/ Mundurukú-Português: dicionário-piloto
Joice Oliveira Ventura 1
Thalita Brito Chagas Domingues Siqueira 1
Nathalia Martins Peres Costa 1
Tânia Borges Ferreira 1
Dioney Moreira Gomes 2
1. Universidade de Brasília - UnB
2. Universidade de Brasília - UnB (orientador)
INTRODUÇÃO:
Os Mundurukú do Pará são mais de 8.000 pessoas, a maioria falantes de Mundurukú, que exigem condições de paridade com a sociedade circundante; por isso, recentemente propuseram a implantação do Ensino Médio integrado ao Profissionalizante em Agroecologia, Enfermagem e Magistério, áreas fundamentais para a autossustentabilidade da comunidade. O ensino é, em grande parte, em português e muitos dos termos empregados pelas áreas de conhecimento estudadas não possuem equivalentes em Mundurukú. Além disso, constatou-se que, em várias situações, os índios preferem utilizar o termo em português, mesmo quando este existe em sua língua. Por isso, a elaboração de um dicionário terminológico bilíngue escolar Português-Mundurukú/ Mundurukú-Português tem papel fundamental na manutenção da língua indígena. Assim não se trata de uma obra apenas para fins acadêmicos, mas principalmente de conscientização dos alunos do Ensino Médio da importância que exercem na preservação de sua língua, além de ser uma obra de referência para o aprendizado das 3 áreas supracitadas. Houve a preocupação de se discutir a idéia do dicionário com os Mundurukú para que esses a aprovassem de maneira que os alunos do Ensino Médio e as lideranças Mundurukú estão totalmente integrados no processo de criação da obra.
METODOLOGIA:
Com base na Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), na Terminologia Textual e na Linguística de Corpus, estão sendo seguidas as etapas abaixo relacionadas para a elaboração do dicionário: 1. Estudo sobre Terminologia (Faulstich, 1998, 2006; Krieger & Finatto, 2004; Alves, 2007; entre outros); 2. Levantamento bibliográfico das áreas fins; 3. Identificação do léxico especializado em textos de nível médio e técnico; 4. Montagem de fichas terminológicas, com o uso das ferramentas Excel e Toolbox; 5. Busca por definições em dicionários especializados; 6. Proposta de subáreas; 7. Discussão da micro e macroestruturas; 8. Elaboração do dicionário-piloto. Em estágios anteriores, as fichas terminológicas foram elaboradas com a utilização do Microsoft Excel. Entretanto, a fim de obtermos maior agilidade e automaticidade no monitoramento dos dados, estamos utilizando a ferramenta Toolbox. Essa interface com a Informática tem nos propiciado menos gasto de tempo, principalmente no que se refere à formatação da microestrutura; além de tornar as fichas mais claras e organizadas, permitindo que suas informações sejam trabalhadas de forma mais precisa.
RESULTADOS:
O dicionário-piloto já conta com 30 termos de cada área. A escolha destes está sendo baseada na frequência e na relevância que apresentam para a comunidade indígena e para a área técnica; neste último caso, algumas vezes tal relevância é atestada por meio de consulta à base de dados TERMISUL (http://www6.ufrgs.br/termisul/index.html). Também estão sendo selecionadas as terminologias que aparecem nos textos com que os alunos do Ensino Médio já estão tendo contato. Os termos em Mundurukú estão sendo fornecidos pelos próprios índios, durante trabalhos de campo nas aldeias e na Universidade de Brasília. Há a preocupação de não transformar os equivalentes em meras traduções, já que entendemos que esses devem expressar da forma mais fiel possível o entendimento dos Mundurukú acerca daquele conceito. Optamos por fazer a diferenciação das áreas técnicas por cores, assim o verbete de determinada área aparecerá com a sua respectiva cor. O termo que for comum a mais de uma área virá em uma quarta cor. Devido ao caráter multitécnico da obra, as marcas de uso são obrigatórias. Pretendemos colocar como anexos quadros fonéticos comparativos das línguas enfocadas, cruzando-os com os respectivos quadros ortográficos; usaremos, também, imagens que possam auxiliar o aprendizado, como atlas do corpo humano.
CONCLUSÃO:
Além de servir como material de apoio no processo de ensino-aprendizagem dos índios Mundurukú e ser um meio de manutenção de sua língua, a presente obra também tem como objetivo mostrar o estudo terminológico de línguas consideradas inferiores e pouco científicas. Dessa forma, eleva-se o status daquilo que é produzido nessas comunidades, como os processos médicos, agroecológicos e de ensino.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Universidade de Brasília
Palavras-chave: Dicionário terminológico escolar bilíngue, Línguas indígenas, Língua Mundurukú.